Epidemia de dengue põe a enfermagem mais uma vez à prova
Os aprendizados da pandemia devem reforçar protagonismo da profissão do cuidado, especialmente na prevenção pela vacina e no combate à desinformação. Confira artigo da presidente do Cofen na revista Carta Capital
As cicatrizes de quatro anos de Covid-19 ainda estão à flor da pele, mas o sistema público de saúde do Brasil se vê, mais uma vez, pressionado pelos impressionantes novos números de uma conhecida ameaça. O crescimento da dengue em 2024, uma doença com epidemia sazonal no país desde os anos 1980, mostra que a Enfermagem precisa reafirmar protagonismo na atenção primária em Saúde.
Até o momento, mais de 1,3 milhão de casos de dengue foram registrados. Os estados de Minas Gerais e Goiás – e especialmente o Distrito Federal, cujos números relativos são mais expressivos – mas ainda dezenas de municípios do Rio de Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Amapá e Bahia receberam auxílio emergencial do governo federal para combater o crescimento de infecções pela doença. No DF, o crescimento supera a casa dos 1000%. Nos lugares onde ela sempre foi endêmica as infecções pela doença são mais graves e longas, sobrecarregando as casas de saúde. Nas regiões onde não representava ameaça até um passado recente ela virou epidemia.
As mortes de pacientes têm sido contadas às centenas, em alguns casos vidas jovens e sem comorbidades tiveram fim trágico. A boa novidade é que o país já pode contar com o imunizante de fabricação nacional. E a Enfermagem está na ponta desta cadeia de combate à doença aplicando as doses nos postos de saúde.
No entanto, o comparecimento escasso mostra que algumas lições da pandemia não foram aprendidas – pelo contrário, o discurso contrário às vacinas pegou. Pela baixa adesão, o público-alvo da campanha foi ampliado dos 10 para 14 anos em Goiás. Em lugar de levar seus filhos para se vacinar, os pais recorrem a soluções caseiras, como chás milagrosos e outras inverdades difundidas pela internet.
Os prejuízos à saúde e a sobrecarga dos hospitais pela dengue vêm mostrando que estamos diante de uma era de grandes surtos de doenças contagiosas. Tais desafios comprovam mais uma vez que a Enfermagem precisa reafirmar seu protagonismo na atenção primária de Saúde e no combate às desinformações que podem levar à morte.
O Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) divulgou nota técnica definindo que o profissional de Enfermagem deve orientar, encaminhar, coletar e registrar dados da forma mais detalhada possível no prontuário do paciente e destacou as competências e as prerrogativas do enfermeiro no atendimento ao paciente com suspeita ou diagnostico com dengue.
Betânia Santos
Presidente do Conselho Federal de Enfermagem
Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.
Fonte: Carta Capital
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