Técnica de enfermagem conta como criou projeto pioneiro que ajuda bebês prematuros por meio do crochê

Unidades neonatais ao redor do mundo têm buscado medidas para a redução do impacto causado pelo afastamento materno dos recém-nascidos, pois o maior vínculo com a mãe garante um melhor desenvolvimento motor, afetivo e cognitivo do bebê.

Luciana (esquerda) ficou sabendo de projeto similar na Dinamarca e teve a ideia de trazê-lo ao Brasil

Uma das formas mais utilizadas de garantir esse contato entre mãe e bebê prematuro é o método canguru, que consiste na aproximação gradual entre os dois, culminando no contato pele a pele durante o tempo que a mãe julgar adequado.

“O método canguru é a técnica mais consagrada no manejo do prematuro e a mais amplamente estudada. Desde 2000 ele faz parte das estratégias brasileiras. Entretanto, quando esse contato não pode acontecer, o que pode ser feito?”, questiona a técnica de enfermagem Luciana Martinez dos Santos, que trabalha com medicina diagnóstica na capital.

Os polvos de crochê são esterelizados e pertencem cada um a um único recém-nascido, garantindo assim que não haja contaminação cruzada

“Para responder a essa pergunta, um grupo de voluntários começou em 2013, na Dinamarca, a desenvolver um projeto chamado Spruttengruppen, que por meio da confecção de pequenos polvos de crochê buscavam garantir o mínimo conforto aos bebês internados na unidade neonatal”, continua Luciana.

A inserção dos polvos dentro da incubadora, junto aos bebês, faz com que eles fiquem mais tranquilos e ajuda a normalizar a respiração e os batimentos cardíacos, além de evitar que eles arranquem fios de monitores e tubos de ventilação. “Isso garante mais estabilidade clínica e conforto aos recém-nascidos, e me questionei: porque não utilizamos essa técnica?”, coloca Luciana.

A partir daí, ela criou o projeto Envolvopolvo, indo em busca de locais que poderiam ceder o espaço para que ela ensinasse a técnica do crochê para a confecção dos polvos. “No projeto tem quem saiba crochetar e me ajuda nas oficinas, tem quem não saiba e aprende, tem quem não faz crochê e prefere doar material, tem quem faça vídeos, impressões, logotipo, camisetas, inclusive ganhamos o site que está em desenvolvimento para maior organização, ou seja, cada um ajuda da forma que sente o coração. Confesso que fiquei surpresa e muito feliz, pois não imaginava a proporção que o projeto tomaria, e isso é maravilhoso!”, comemora a profissional.

Ela conta que ainda há alguns mal-entendidos sobre o trabalho, e trata de desmistificá-los, pois há pessoas que acreditam ser possível haver infecção cruzada entre bebês, o que não ocorre, pois o projeto segue protocolos de esterilização e higienização dos artefatos, além de cada polvo ser utilizado apenas com um recém-nascido.  

Os polvos ajudam os recém-nascidos prematuros a se desenvolverem melhor e se manterem mais calmos dentro das incubadoras

“Os polvos são confeccionados seguindo uma receita original, as linhas utilizadas são 100% algodão de cores variadas, oito tentáculos com no máximo 22 cm de comprimento, preenchidos com fibra siliconada. Eles passam por um processo de higienização antes de serem entregues para esterilização em autoclave. Cada recém- nascido recebe o seu, e o leva para casa no momento da alta, tornando se muitas vezes  seu brinquedo de apego, principalmente como uma lembrança da sua vitoriosa hospitalização”, explica a técnica de enfermagem.

O processo confecção, aquisição das linhas, enchimentos é todo a partir de doações. Nenhum polvo é comercializado.

Os Hospitais e Maternidades que desejam receber polvos podem entrar em contato direto pelo perfil do Instagram @envolvopolvo, ou pelo telefone (11) 99441-7741, diretamente com a Luciana, que agenda a entrega e/ou retirada, além de repassar as orientações de contato polvo/bebê.

O que começou como uma boa ideia de Luciana, acabou se desenvolvendo em um grande projeto com muitos colaboradores

As pessoas físicas interessadas em participar do projeto também podem entrar em contato.

“Com o uso de uma estratégia simples, com um protocolo de cuidado estabelecido, parcerias e afeto, pode-se trazer conforto e bem estar a recém-nascidos e suas famílias. É possível, com um pequeno polvo, permitir que o bebê inicie o contato com a realidade externa e, a partir disso possa interagir com o mundo”, conclui Luciana.

 

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