Semana da Enfermagem discute desafios da formação na graduação e nível médio

A Semana da Enfermagem 2021 continua com atividades online gratuitas, transmitidas por meio do canal do Coren-SP no YouTube nos horários da tarde e da noite.

Nesta segunda-feira (17/5), o público teve a oportunidade de assistir à mesa-redonda “Tecnologias e Inovações no Ensino Superior em Enfermagem: Tempos Atuais e Perspectivas de Futuro”. A atividade foi moderada pela conselheira Maria Madalena Januário Leite e contou com representantes de diversas universidades debatendo o tema.

Participantes da mesa sobre formação na graduação

A primeira palestrante da tarde foi a professora Elizabeth Teixeira, docente aposentada da Universidade do Estado do Pará. Ela trouxe para a discussão um estudo sobre o impacto da pandemia no ensino de enfermagem, que chegou a algumas conclusões interessantes. “Foram apresentados novos conceitos, novos formatos e novos dispositivos legais. Concluímos que os processos foram marcados em três dimensões: aceleração, alteramos do modo presencial para o modo remoto emergencial e também paralisamos para reestruturar, remodelar e estabelecer estratégias para que as ações pudessem ser implementadas”. Isso indica que o ensino não parou por conta da pandemia, mas se adaptou aos novos tempos.

A palestrante Maria Inês Nunes, professora do Centro Universitário São Camilo, foi a próxima a falar. Ela começou sua palestra com uma ideia trazida pelo filósofo dinamarquês Søren Kierkegaard: “A vida só pode ser compreendida olhando para trás, mas deve ser vivida olhando para frente”.

Ela focou sua apresentação na experiência como coordenadora da graduação de enfermagem no Centro Universitário São Camilo, falando detidamente sobre as transformações pelas quais o curso passou para se adaptar à situação atual. Ela destacou que não podemos prever o futuro, mas que o presente aponta alguns cenários prováveis. “Algumas mudanças desse novo cenário são apontadas pelo presente. Que olhar vamos dar para as coisas que não entendemos, não dominamos e que podem ocupar nosso lugar? Precisamos pensar fora do quadrado e vir com novas ideias. Nesta era, sabemos que o capital humano é extremamente importante. Nós precisamos fazer parte da aldeia virtual”, afirmou.

A terceira palestrante da mesa-redonda foi a conselheira Ivany Baptista, representando a Universidade do Vale do Paraíba (Univap). A universidade aproveitou um sistema de comunicação virtual existente há 10 anos na instituição, denominado AVEA (Ambiente Virtual de Ensino e Aprendizagem), e adaptou seu uso durante a pandemia, fortalecendo assim a troca de informações entre docentes e alunos.

Além da virtualização de atividades, a universidade teve que se adaptar fisicamente aos novos tempos, com novas marcações do piso incentivando o distanciamento, a lacração de bebedouros, marcação de assentos nos ambientes comuns, instalação de dispensador de álcool. Também foi definida uma nova capacidade máxima de pessoas em cada ambiente. “Isso ficava já definido na porta dos laboratórios e demais áreas. Demarcamos os espaços com toda a informação possível para que quando pudéssemos retornar às atividades presenciais tivéssemos essa segurança”, exemplificou Ivany.

“Estamos em um furacão, mas, depois que passar, teremos colhido grandes aprendizagens”, concluiu a moderadora Maria Madalena no encerramento da mesa.

O ensino médio também teve seu espaço nas discussões sobre ensino, realizadas nesta segunda-feira, com a palestra “Propostas para a Formação no Ensino Técnico em Tempos de Pandemia e a Especialização para o Técnico de Enfermagem: Uma Realidade Pouco Conhecida”. A atividade teve como moderadora a conselheira Vanessa Scarcella.

A segunda atividade do dia tratou da formação no nível médio

A primeira palestrante da mesa foi Adriana Kátia Corrêa, professora da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da USP. Ela trouxe o panorama nacional da formação técnica em enfermagem. “Não dá para olharmos para o ensino médio da enfermagem sem compreendermos que mudanças que vem sendo propostas desde 2017, por meio das atuais diretrizes curriculares e catálogos de cursos profissionalizantes do MEC, carregam uma concepção de educação técnica que é muito voltada a um certo tecnicismo, com uma preocupação muito imediata do fazer profissional. Esse fazer é muito importante, mas na minha opinião faltam questões teóricas melhor trabalhadas”, afirmou.

Adriana ainda reafirmou que a formação de nível médio na área de saúde é extremamente importante, sobretudo na enfermagem – os profissionais de nível médio correspondem a 75% dos profissionais nas equipes de enfermagem. “Encontramos uma grande contradição quando falamos da necessidade de uma formação ampla no nível médio, com a construção de um olhar crítico, mas temos ao mesmo tempo um percentual de mais de 98% de oferta de cursos técnicos de enfermagem em escolas privadas. Estamos falando de um processo de mercantilização da formação do técnico, apesar de sabermos também que há escolas privadas que têm muito cuidado em termos de formação e estrutura. Temos que olhar para esta situação em termos da política que está colocada”, afirmou.

A segunda palestrante da noite foi Shirley Afonso, componente da Comissão Assessora de Educação Profissional de Técnico em Enfermagem (CAETE) da ABEn-SP. Ela falou sobre um assunto pouco discutido, que é a formação continuada do profissional de nível médio, tanto do técnico quanto do auxiliar de enfermagem. “Para discutirmos avanços do trabalho da enfermagem temos que começar também a consolidar o técnico de enfermagem e o auxiliar de enfermagem nesses avanços. Esses avanços só começam quando a gente entra na discussão da formação com qualidade”, afirmou Adriana.

Um ponto importante trazido pela palestrante foi a importância da especialização no nível médio como forma de promover avanços para a profissão. “A formação especializada permite desenvolver habilidades e obter maiores conhecimentos específicos na área de formação. Se tenho um técnico de enfermagem especializado em transplante de medula óssea, isso com certeza valoriza e solidificaria a assistência de enfermagem nessa área específica. Isso contribui com o trabalho de toda a equipe”, pontuou.