Projeto Qualifica propõe a capacitação de enfermeiros no diagnóstico e tratamento do câncer infantil

Próximo passo é estender as aulas para diversos municípios do estado de São Paulo

Com o objetivo de capacitar profissionais de enfermagem para detectar o câncer em crianças, o Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo (COREN-SP), a Associação Brasileira de Enfermagem (ABEN) e a Sociedade Brasileira de Oncologia Pediátrica (SOBOPE) se unem para dar continuidade ao projeto Qualifica, que já beneficiou 96% dos enfermeiros da atenção básica em São Bernardo do Campo, onde ocorreu o treinamento piloto.

“A Consulta de Enfermagem é uma importante ferramenta, na qual o treinamento, a capacitação e a qualificação do Enfermeiro fazem toda a diferença. Consequentemente, o Projeto mostra-se fundamental – e por isso o COREN-SP apoia a causa, sendo uma importante estratégia educacional e motivacional que vem sendo desenvolvida”, declara a Profª Drª Renata Pietro, Conselheira Responsável pelas atividades do Projeto Qualifica e pelo COREN-SP Educação.

O próximo passo da ação é realizar a capacitação em diversos municípios do estado de São Paulo, atingindo, assim, 80% dos enfermeiros de atenção básica. Os responsáveis por ministrar as aulas são enfermeiros convidados, especialistas na atenção básica e oncologia pediátrica.  Preparados em um curso realizado na sede do COREN-SP, tiveram contato com os aspectos referentes às políticas nacionais que envolvem o atendimento à criança (e, consequentemente, sua família), seus direitos, sinais e sintomas do câncer na infância e adolescência.

A capacitação tem a duração de 8 horas e utiliza-se a metodologia ativa, na qual o indivíduo participa ativamente do processo. Realizam-se simulações e apresentações de vídeos sobre a consulta de enfermagem – cujo exame físico é focado nos sinais e sintomas característicos e na realização do teste do reflexo vermelho –, aprendendo a identificar os principais sintomas e a realizar o encaminhamento dos casos suspeitos.

“Os enfermeiros já têm um conhecimento prévio sobre o exercício de sua atividade e estimulamos, também, discussões críticas sobre a importância de sua ação”, explica Ana Lygia Melaragno, enfermeira, especialista em oncologia e gestão dos serviços de saúde, presidente do Comitê de Enfermagem da Sociedade Brasileira de Oncologia Pediátrica (SOBOPE). “Também reforçamos que o atendimento é realizado por uma equipe multiprofissional e que os casos devem ser discutidos imediatamente”, ressalta.

Todo o material utilizado nas aulas foi desenvolvido em parceria com as coordenadoras e enfermeiras multiplicadoras – inclusive um jogo sobre os sinais e sintomas para fixar o aprendizado.

A ideia do projeto surgiu da necessidade de desenvolver uma estratégia, envolvendo a equipe de enfermagem, para contribuir com a melhora da curva de sobrevida do câncer na infância e na adolescência. Hoje, o câncer é a principal causa de morte por doença de crianças e adolescentes dos 5 aos 19 anos. Dados comprovam que os países desenvolvidos atingem cerca de 70% de cura, enquanto no Brasil a marca atingida é de aproximadamente 50%.

Ana Lygia salienta que isso se deve a vários fatores, sendo que o principal é o atraso no diagnóstico.  Segundo a especialista, a chance de cura é maior quando os sinais e sintomas são identificados precocemente e o acesso ao tratamento adequado é imediato.

“Até os cinco anos de idade, por exemplo, pode aparecer o retinoblastoma, que é o tumor ocular mais comum na infância e que tem, aproximadamente, 98% da chance de cura, se detectado precocemente”, relata a profissional. “O teste do reflexo vermelho no olho da criança, evidenciando a leucocoria – que é um dos procedimentos reforçados nas aulas do projeto, este teste deve fazer parte da consulta de enfermagem”.

Por fim, Ana Lygia comenta que os enfermeiros de atenção básica e das outras especialidades devem estar mais próximos para otimizar os recursos existentes, reunindo os esforços para a melhoria da assistência. “Câncer em crianças é, infelizmente, uma realidade, e diferentemente da doença em adultos, não há como realizar programas de prevenção. Entretanto, pode ser curada, mediante o diagnóstico precoce e acesso ao tratamento adequado”, finaliza.

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