Novas diretrizes de ressuscitação cardiopulmonar em crianças priorizam circulação

De acordo com a American Heart Association (AHA), 92% das vítimas de parada cardiorrespiratória repentina morrem antes de chegar ao hospital. Caso recebessem os cuidados de emergência, sua chance de sobreviver seria duplicada e em alguns casos triplicada. A AHA define diretrizes de ressuscitação e elas são atualizadas de 5 em 5 anos. Em 2010, após 3 anos de debates, a AHA incluiu, além de alterações na reanimação de parada cardiorrespiratória em adultos, medidas específicas para cada faixa etária pediátrica, do recém-nascido ao adolescente.

De acordo com a Dra. Amparito V. Castro e a Mestre Ana Paula Almeida, enfermeiras do Serviço de Educação Permanente do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas, cada componente da equipe deve ter plena consciência de suas atribuições na ressuscitação. Rapidez, exatidão e controle emocional são essenciais, tanto nas unidades de cuidados intensivos quanto na assistência de outras áreas. De acordo com Amparito, “quando acontece uma parada cardiorrespiratória, há muito estresse e se o profissional não estiver capacitado, há perda de tempo, sofrimento da criança e em alguns casos pode haver sequelas neurológicas, e até a morte”.

Ressuscitação para crianças
De acordo com Petrovane Morais de Torres, especialista em Cuidados Intensivos e em Emergência à Criança e ao Adolescente, “no caso das crianças, você tem de levar em consideração a dimensão corporal e a fragilidade óssea. Isso requer cuidado especial na ressuscitação, principalmente nas compressões torácicas”.

A principal mudança das diretrizes da AHA em pediatria foi na ordem da sequência de A-B-C (via aérea, respiração, compressões torácicas) para C-A-B (compressões torácicas, via aérea, respiração). A mudança dinamiza o socorro e prioriza a circulação. Antes perdia-se muito tempo na abertura das vias aéreas comprometendo o sistema neurológico por falta de sangue nos tecidos. “As compressões são primordiais para a ressuscitação cardiopulmonar”, afirma Petrovane. “Houve essas mudanças nas diretrizes, porque pouco era feito por uma criança em parada cardiorrespiratória no ambiente extra hospitalar. Havia dúvidas de como atuar”.

As vítimas de PCR pediátrica aumentam a probabilidade de vida quando as manobras de ressuscitação cardiopulmonar são eficazes e priorizam a circulação. O primeiro ciclo de 30 compressões torácicas durará aproximadamente 18 segundos. Quando dois socorristas estiverem presentes para a ressuscitação do bebê ou da criança o atraso será ainda menor.

Os enfermeiros geralmente têm preparo para cuidados em parada cardiorrespiratória em adultos. O profissional que se sente despreparado para atender crianças deve procurar um curso específico que o habilite a este atendimento. Cursos de pós-graduação em urgência e emergência incluem ressuscitação de acordo com os parâmetros da AHA.

Mudanças
Outra mudança importante é a frequência das compressões, que passa a ser de no mínimo 100 massagens por minuto. As séries de aplicação são definidas de acordo com a faixa etária (vide quadro abaixo) e o número de socorristas. O procedimento é repetido até que haja o retorno da circulação espontânea.

Exceção: para recém-nascidos permanece a ordem A-B-C. A principal causa de parada cardiorrespiratória nesta faixa etária (até 28 dias de vida) é insuficiência respiratória.

A equipe hospitalar ótima para socorrer uma criança é composta por 3 enfermeiros, 1 médico e 2 auxiliares de enfermagem (veja quadro abaixo).

(Fonte: Manual de treinamento para atendimento de Reanimação Cardiopulmonar em pediatria do ICr-HCFMUSP, 2011).

Sinais de parada: Inconsciência. (criança não responde ao nome); Ausência de respiração. (ausência de movimentos respiratórios); Ausência de pulso central palpável. (braquial [braço], femoral [fêmur] e carotídeo [pescoço]).

A SEQUÊNCIA DE SOCORRO

1. A aplicação de compressões C-compressions (Compressões torácicas) é de competência do enfermeiro. As compressões torácicas criam fluxo sanguíneo pelo aumento da pressão intratorácica e compressão direta do coração, que gera fluxo sanguíneo.
1. Apoie a criança sobre superfície rígida para que as compressões sejam eficazes.
2. Caso não haja superfície rígida, envolva o tórax da criança com as mãos e aplique as contrações com a popa das digitais dos dois dedos polegares.
3. Em bebês mais frágeis, como os prematuros, recomenda-se o uso dos dedos anelar e médio, que têm menos força que o indicador, de modo a evitar fraturas nos ossos (costelas)
4. Apoie totalmente o dedo ou região hipotenar da mão sobre o osso esterno. Nunca espalme a mão sobre o peito da criança.
5. Pode-se usar uma ou duas mãos entrelaçadas (apoiando apenas a região hipotênar).
6. Durante as compressões mantenha o braço completamente estendido.
7. Permita o retorno (reexpansão) do tórax à posição inicial antes de proceder à próxima compressão.
8. Minimize as interrupções das compressões.

Profundidade de contrações:
No bebê afunda-se o peito no máximo 4 centímetros. Em crianças maiores de 1 ano, em torno de 5 centímetros.

A (airways): Abertura de vias aéreas

Coloca-se uma mão na região frontal (testa) e a outra na região mentoniana (queixo) e eleva-se o pescoço da criança. Isto libera a via aérea e facilita a respiração.

B (breathing): Ventilações
 

 
1. Cubra nariz e boca com a máscara facial, utilizando a técnica C e E.
2. Eleve o pescoço ligeiramente, segure e ventile com oxigênio 100% através da bolsa-valva-máscara.
Em caso de via aérea avançada (criança entubada): O socorro ótimo é feito por dois socorristas. Não deve haver ciclos de compressão com pausas para ventilação. Um profissional realiza compressões interruptamente (compressor) e outro aplica ventilações de resgate, em uma frequência de 8 ventilações por minuto (1 ventilação a cada 6 a 8 segundos) para lactentes, crianças e adultos.

Depois do retorno da circulação espontânea:
Após parada cardiorrespiratória, e após manobras de ressuscitação, se a criança evoluir para o coma, as novas diretrizes passaram a recomendar o uso da hipotermia terapêutica. Esta consiste em manter a criança à temperatura de 32ºC a 34ºC por 12 a 24 horas para preservar sua função neurológica e minimizar lesões. A hipotermia já era recomendada para adultos.

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