Nova técnica consegue tratar Parkinson com estímulos elétricos na coluna

Uma nova técnica criada por uma equipe liderada por um pesquisador brasileiro e testada com sucesso em camundongos pode dar grandes esperanças aos pacientes vitimados pelo mal de Parkinson. Ela conseguiu, em roedores, eliminar os sintomas da doença ao estimular com eletricidade o sistema nervoso a partir da medula espinhal. O trabalho foi chefiado por Miguel Nicolelis, da Universidade Duke, nos Estados Unidos, e do Instituto Internacional de Neurociências de Natal, no Rio Grande do Norte. O estudo ganhou a capa da edição desta semana do periódico científico Science. Estamos todos celebrando aqui. É o segundo estudo da Duke a fazer a capa da revista – e o primeiro de uma pesquisa brasileira, disse Nicolelis ao G1, destacando a participação dos pesquisadores do IINN no resultado. Os resultados são tão promissores que os pesquisadores vão começar em breve os estudos com primatas – os testes serão feitos em Natal – e a expectativa é que os primeiros testes clínicos, com pacientes humanos, venham já no ano que vem. A ideia que gerou o sucesso foi o resultado de encarar o cérebro e o mal de Parkinson de uma forma diferente da que é usualmente adotada pelos cientistas, segundo Nicolelis. Nós estamos classificando a doença como algo da dinâmica cerebral – mais ou menos como é a epilepsia, explica. Isso está produzindo uma nova teoria, em que precisamos olhar o cérebro como um todo, e daí surgem as ideias que estamos tendo, não só para o Parkinson, mas para outras doenças. O mal de Parkinson é uma doença neurodegenerativa que avança de forma progressiva, causando tremores incontroláveis e espasmos, e no fim das contas leva à morte. Os pesquisadores partiram da premissa de que os sintomas surgem quando os neurônios que compõem o sistema nervoso parecem disparar todos em uníssono, simultaneamente — de forma similar à que acontece nos ataques epilépticos. O resultado, no caso, são os movimentos involuntários da vítima da doença. O nosso tratamento funciona dessincronizando a ativação dos neurônios a partir de estimulação elétrica da coluna espinhal, conta Nicolelis. Procedimento semelhante, com estimulação elétrica, já é usado em pacientes, em conjunto com drogas, para aliviar os sintomas, mas o processo exige estimulação profunda do cérebro — abre-se o crânio do sujeito e espetam-se eletrodos no interior cerebral para fazer as descargas elétricas. Procedimento delicado e difícil de fazer. Nicolelis descobriu uma forma mais efetiva e menos invasiva de obter o efeito: as descargas elétricas agora vão na medula espinhal, mais acessível.