Estudo de plantas medicinais no país está praticamente na clandestinidade

A pesquisa com plantas medicinais descobertas por culturas tradicionais só existe hoje no país se for feita na clandestinidade. Essa é a opinião do farmacólogo Elisaldo Carlini, da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), e de vários outros pesquisadores da área que participam da reunião anual da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência). As pesquisas realizadas com plantas cujos conhecimentos venham de índios ou povos como quilombolas e ribeirinhos precisam de autorizações do CGen (Conselho de Gestão do Patrimônio Genético) que não tem sido concedidas. Segundo Carlini, a criação do órgão, em 2001, criou de barreiras para a bioprospecção, a criação de drogas com base em recursos de seres vivos. A continuidade de um trabalho que ele orientava, com plantas utilizadas pelos índios krahô, foi proibido pelo órgão em 2003. Eles estão querendo proteger as nossas riquezas, mas não é dessa maneira. Estão cometendo um crime de lesa-pátria, na minha opinião, porque estão impedindo a pesquisa. Carlini preside também um congresso sobre fitomedicina, que acontecerá em São Paulo em setembro, e conta que a maior parte dos 1.500 trabalhos inscritos descreve plantas sobre as quais os cientistas não obtiveram licença para trabalhar. Sem aval, as pesquisas vão para a clandestinidade. Um programa dos SUS (Sistema Único de Saúde) para uso de plantas medicinais, diz, está atrasado por conta da burocratização da pesquisa no Brasil. A química Vanderlan Bolzani, da Unesp, diz que falta de pesquisa leva ao uso inadequado da fitomedicina. Segundo ela, espécies estão sendo confundidas –algumas têm eficácia e outras não. Ela citou como exemplo algumas plantas parecidas com a Erythrina mulungu, calmante. Uma planta tóxica, a Petiveria alliaceae, tem sido usada como cicatrizante.