Enfermeiras de Itaquaquecetuba usam a acupuntura para melhorar qualidade de vida da população

“Ela é aliada da medicina ocidental, uma não exclui a outra”. É assim que a enfermeira Simone Claro Silva começa uma conversa sobre a acupuntura e seus benefícios, tratando, desde o início, de desmitificar a prática e acabando com a ideia de que as Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS) “competem” de alguma forma com a medicina tradicional.

Dalila (esquerda) e Simone (direita) são co-autoras de projeto de acupuntura e auriculoterapia no município de Itaquaquecetuba, ao lado da também enfermeira Ariane e da cirurgiã-dentista Sandra

Ao lado das também enfermeiras Dalila das Graças Rocha dos Santos, Ariane Antunes Gonçalves Shiroma e da cirurgiã-dentista Sandra Regina Marks Salgado, Simone é uma das idealizadoras do projeto “Implantação de Acupuntura e Auriculoterapia no município de Itaquaquecetuba”, que teve início no último dia 20 de outubro.

Inserido na rede municipal de saúde, o projeto atende cerca de 220 pacientes todos os dias e, mesmo tendo começado há pouco tempo, já traz resultados positivos perceptíveis. “Temos um retorno semanal dos pacientes, que nos relatam melhoras após as sessões de acupuntura. No nosso grupo de psicologia, por exemplo, os resultados têm sido fantásticos. Inclusive recebemos elogios de duas psicólogas por conta da melhora dos pacientes”, comemora Simone.

Simone deixa claro que o tratamento com acupuntura e a medicina ocidental não competem entre si, mas se complementam

Dalila relata o caso de uma paciente que desenvolveu ansiedade e depressão após sofrer um assalto e foi tratada pela prática chinesa. “Depois de passar por duas sessões de acupuntura, a psicóloga da paciente nos contou que o benefício da acupuntura foi tão bom que quase não reconheceu a moça”, conta.

Além dos pacientes da psicologia, os que sofrem com dores também são tratados pelas profissionais do projeto, o que fez com que a Secretaria Municipal de Saúde de Itaquaquecetuba diminuísse seus gastos com medicamentos analgésicos e anti-inflamatórios. Os benefícios que podem ser conseguidos por meio dessa prática incluem: a melhora da circulação sanguínea e dos sintomas de doenças respiratórias, a diminuição da necessidade de automedicação com o uso indiscriminado de analgésicos e anti-inflamatórios e o aumento da vitalidade e fortalecimento do sistema imunológico.

Simone lembra que, para que o projeto fosse implantado, o apoio da prefeitura e do secretário municipal de saúde de Itaquaquecetuba foram fundamentais. “O nosso secretário, Sr. William Harada, avaliou e aprovou de imediato a implementação do projeto, entendendo que essa proposta amplia e aprimora a assistência e a qualidade do atendimento”, explica.

Chancela do Ministério da Saúde e do Cofen

A aplicação de acupuntura realizada pelo profissional de enfermagem não é uma novidade, sendo uma ação embasada pela legislação profissional.

Em 2006, o Ministério da Saúde emitiu a portaria GM/MS 97/2006, que aprovou as Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS) no âmbito do SUS. A portaria cita a acupuntura entre outras PICS como tecnologias de intervenção em saúde.

Simone, Ariane e Dalila: a enfermagem fazendo a diferença em Itaquaquecetuba

Seguindo a política do Ministério, o Conselho Federal da Enfermagem (Cofen) publicou em 2018 a Resolução nº 585/2018, que passou a reconhecer a acupuntura como uma especialidade e qualificação profissional do enfermeiro.

Para atuarem como acupunturistas, Simone e Dalila fizeram um curso de especialização, em conformidade com a Resolução. Além de acupuntura, elas são formadas em outras práticas integrativas, que também são oferecidas à população de Itaquaquecetuba: reiki, auriculoterapia, moxabustão, ventosaterapia e florais de Bach são alguns exemplos.

A população agradece

“Se eu tivesse sessão de acupuntura toda semana, eu gostaria de fazer toda semana. É muito bom”, elogia a aposentada Maria Marta Nogueira. Ela se trata com a enfermeira Simone por conta de uma paralisia facial decorrente de AVC e já consegue perceber melhoras decorrentes do tratamento tradicional chinês.

A aposentada Maria Marta Nogueira viu na acupuntura um auxílio para se recuperar dos sintomas de um AVC

A estudante Paloma Barreiros Gili é outra munícipe de Itaquaquecetuba que comprovou os efeitos benéficos das agulhas. Ela apresentava um quadro de dor na cervical que a impedia de fazer movimentos laterais com a cabeça. “Eu passei no ortopedista e ele me passou um medicamento que me deu muito sono, mas não resolveu meu problema. Quando começou a acupuntura aqui, eu procurei e depois disso percebi muita melhora nas minhas dores”, conta.

No caso de Paloma, os benefícios foram muito além da melhora de sua queixa original. “Até comentei com a enfermeira Simone que senti outros benefícios além do alívio da dor. Eu fiz recentemente a prova do Enem que exige que eu fique muito tempo sentada. Em situações como essa, eu costumava sentir muita dor de cabeça e sono, mas, por conta da acupuntura, esses sintomas não apareceram”, diz.

A estudante Paloma Barreiros Gili percebeu benefícios no tratamento com agulhas que foram além de sua queixa inicial

A Secretaria de Saúde de Itaquaquecetuba só tem percebido vantagens no atendimento em acupuntura por enfermeiros. Ariane Antunes Gonçalves Shiroma, que coordena a Atenção Básica no município, explica porque o projeto está valendo a pena: “A enfermagem tem, por sua formação, um olhar integral para as necessidades do paciente, o que já é um avanço muito grande. Isso sem falar no trabalho em equipe, uma condição que é tão fundamental”, destaca.

Devido a todo esse sucesso, segundo Ariane, a ideia da Secretaria de Saúde é, em breve, ampliar o atendimento de acupuntura. “Por conta do impacto positivo, posteriormente pretendemos ampliar esse projeto, com mais profissionais”, conta, confidenciando que já existe uma sala que passa por reformas para, em um futuro próximo, abrigar o projeto iniciado por essas enfermeiras pioneiras.

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