Em pesquisa, enfermeira cria diretriz de prevenção de estenose vaginal em pacientes de radioterapia

A radioterapia é o tratamento do câncer e de outras patologias, feito com o auxílio de doses de radiação ionizante. No tratamento do câncer ginecológico, é utilizada comumente, mas pode causar efeitos colaterais nas pacientes, como alterações vaginais de longa duração: diminuição da lubrificação vaginal, dispareunia (dor na relação sexual) e a estenose vaginal (obstrução por tecido cicatricial).

Há evidências na literatura de que a educação do paciente para o uso regular de dilatadores pode prevenir ou minimizar a estenose vaginal, ao limitar o desenvolvimento de aderências e manter as paredes vaginais pérvias. Com base nelas, a enfermeira Sabrina Rosa de Lima Matos, que trabalha há 14 anos com radioterapia, resolveu abordar a prevenção da estenose em sua tese de mestrado, intitulada “Consenso para prevenção de estenose vaginal em pacientes submetidas à radioterapia pélvica”.

“No meu trabalho, sempre me questionei como seria a qualidade de vida dessas mulheres pós-tratamento, pois a estenose vaginal afeta a vida sexual e dificulta também a realização de exames ginecológicos no seguimento clínico”, diz Sabrina.

A enfermeira Sabrina Rosa de Lima Matos é exemplo de que a enfermagem pode gerar conhecimento científico com o objetivo de melhorar a qualidade de vida dos pacientes

A enfermeira se incomodava com o fato de não haver um consenso no Brasil sobre como realizar essa prevenção. “Normalmente só se orienta essas mulheres a retomar a prática sexual, o que ajuda, mas é muito pouco”.

Sabrina resolveu pesquisar na literatura científica mundial e encontrou um consenso de prevenção da estenose vaginal utilizado na Holanda. Ela fez então uma tradução transcultural do consenso holandês e, com algumas pequenas modificações adaptadas à realidade brasileira, começou a estudar o método.

Desenvolvido no Programa de Mestrado Profissional em Enfermagem pela Faculdade Israelita de Ciências da Saúde Albert Einstein, o consenso brasileiro utilizou como diretiva inicial o consenso holandês, validando-o para a realidade brasileira. Na validação do conteúdo, 32 especialistas na área de oncologia, entre eles enfermeiros que atuam em radioterapia, radio-oncologistas, ginecologistas/cirurgiões oncológicos e fisioterapeutas foram designados como juízes. Eles foram selecionados em várias regiões do país, considerando-se os centros de referência no tratamento oncológico.

Agora, a próxima etapa será a aplicação do consenso, o que a enfermeira fará durante o seu doutorado. O consenso, que já foi publicado internacionalmente, chegou a algumas conclusões, como o fato de que os profissionais da área da saúde devem dar orientações básicas na área de sexualidade — por exemplo, como a paciente pode lidar com o medo de ter relação sexual após o tratamento —, e caso estas orientações sobre sexualidade não sejam suficientes, o ideal é encaminhar as pacientes a um psicólogo e/ou a outros profissionais da equipe multidisciplinar especializada na área de sexualidade.

Dilatadores vaginais

Além disso, o documento traz instruções sobre quais pacientes devem receber informações para a dilatação vaginal. São elas:

As sexualmente ativas antes do tratamento (independente de terem ou não um parceiro). 

As submetidas ao tratamento com radioterapia para câncer de colo do útero ou vaginal.

 As submetidas ao tratamento com braquiterapia vaginal em combinação com radioterapia de feixe externo (ou em indicações individuais).

As com câncer de vulva ou endométrio e/ou que não eram sexualmente ativas antes do tratamento, devendo receber cuidados adaptados às suas necessidades.

As submetidas à radioterapia pélvica por tumor colorretal e anal, em situações individualizadas.

Essas orientações trazidas pelo consenso são passos importantes em direção a um maior respeito à saúde sexual e reprodutiva da mulher submetida a terapias de combate ao câncer.

 “A qualidade de vida da paciente nem sempre é levada em conta, pois o tratamento é focado mais na cura. Todos os tratamentos podem levar a sequelas posteriores e eu me questionava sobre o que podemos fazer para prevenir isso. Foi daí que veio minha motivação”, conclui Sabrina, que é mais um exemplo de como a enfermagem pode gerar conhecimento científico ao mesmo tempo em que contribui com a qualidade de vida dos pacientes.