Dezembro Vermelho: enfermeiro elabora pesquisa de mestrado sobre adolescentes com HIV

Conhecido como Dezembro Vermelho, o último mês do ano foi escolhido para promover ações de conscientização e sensibilização sobre uma das doenças que mais mata no mundo: Aids. Embora o dia 1 de dezembro seja conhecido como o Dia Mundial contra a Aids, a campanha ocorre durante todo o mês e tem como objetivo alertar a população sobre os sintomas, perigos, as formas de contágio e os métodos de prevenção, além, é claro, de combater o preconceito  sobre as pessoas que possuem a doença.

A Aids (Síndrome de Imunodeficiência Adquirida) é uma doença infecciosa, transmitida pelo vírus HIV (Vírus da Imunodeficiência Humana), que pode ser contraído por relação sexual desprotegida, uso de seringa por mais de uma pessoa, transfusão de sangue contaminado, da mãe infectada para seu filho durante a gravidez, no parto e na amamentação ou por meio de instrumentos que furam ou cortam não esterilizados.

Apesar de a Aids ser um assunto muito discutido, um estudo apresentado como dissertação de mestrado, com foco em jovens de 13 a 19 anos, do enfermeiro e pesquisador Alexandre Lelis Braga, mostra que a maioria dos adolescentes infectados com HIV e carga viral detectável, mantém relações sexuais desprotegidas (65% para sexo oral, 63% para sexo vaginal e 68,4% para sexo anal).

Enfermeiro e pesquisador, Alexandre Lelis Braga

O enfermeiro, que também é colaborador do Centro de Atendimento de Disciplina de Infectologia Pediátrica (Ceadipe/Unifesp), analisou a sexualidade e o planejamento reprodutivo de 93 adolescentes infectados pela Aids, por meio da transmissão vertical, ou seja, de mãe para filho no útero ou no parto.

Os estudos de Alexandre evidenciam que não há oposição quanto ao uso do preservativo masculino entre os jovens, mas sim pouco poder de negociação com os parceiros. “O adolescente que vive com HIV/Aids não tem, muitas vezes, habilidade suficiente para negociar o uso desse complemento com o parceiro sexual. Insistir, para eles, pode acabar levantando suspeitas sobre sua infecção. Essa falta de habilidade leva os jovens a evitar o relacionamento amoroso ou a adiar a vida sexual”, explica o enfermeiro.

De acordo com a pesquisa, “as moças tendem a manter relacionamentos mais estáveis, revelando seu diagnóstico ao parceiro, o que não ocorre com os rapazes entrevistados”. Alexandre conta que esse fator é decorrente do inicio precoce da vida sexual dos homens e, entre os adolescentes participantes, 76,7% nunca revelaram seu diagnóstico pelo medo da rejeição.

Falta de informação pode ser agravante

Segundo o levantamento de dados – 52,7% dos entrevistados não possuem informação sobre como utilizar o preservativo – principalmente no caso do feminino.

Outro dado obtido pelo estudo mostra como a doença é banalizada pela percepção dos jovens. “Devido ao fato de o tratamento hoje ser muito eficaz, muitos acreditam que ter HIV/Aids resume-se apenas a tomar um comprimido por dia, sem o conhecer as consequências que o vírus e o próprio medicamento trazem ao organismo”, diz Alexandre.

Segundo a pesquisa, muitos jovens não sabem como se prevenir corretamente

Outro fator preocupante é o uso de drogas entre os jovens que já tiveram relação sexual. Para o enfermeiro e pesquisador, o uso abusivo dessas substâncias pode alterar o nível de consciência, levando à prática de sexo desprotegido.

Superando os desafios

A pesquisa ainda revela que o preconceito em torno do HIV/Aids prejudica as relações sociais e afetivas entre os adolescentes, enquanto o medo de infectar o parceiro ou o filho gerou dúvida em 44,1% deles em relação a essa questão. O estudo destaca que entre as pessoas que negaram ter dúvidas em relação a serem soropositivos e ter filhos, quando foram questionadas sobre medidas profiláticas (ações de prevenção), 55,8% revelaram não ter o conhecimento necessário a respeito do avanço no cuidado da gestante soropositiva.

O enfermeiro destaca a importância de garantir que os adolescentes que possuem a doença tenham acesso aos chamados direitos reprodutivos, os quais incluem uma livre decisão de ter filhos ou não. “Devemos informar esses jovens dos riscos, mas reconhecer que a decisão sobre o assunto é individual. A gravidez planejada é sempre a melhor escolha”, ressalta.

O enfermeiro destaca a importância do acesso aos chamados direitos reprodutivos

Segundo Alexandre, para que haja garantia dos direitos reprodutivos é necessário a implantação de políticas públicas que diminuam o estigma ligado ao HIV/Aids. “O tema deve ser tratado nos meios por onde os adolescentes circulam, por exemplo, nas áreas da saúde e de educação. Essa tarefa não pode ser apenas das Secretarias de Saúde, é preciso quebrar o tabu nas escolas, na família e na sociedade”, avalia o enfermeiro.

“Uma vez feita a manutenção da carga viral suprimida, menores são as chances de ocorrer transmissão vertical e horizontal (de mãe para filho e por via sexual, respectivamente)”, finaliza Alexandre.

A manutenção da carga viral é de extrema importância para diminuição da transmissão

O laço vermelho

Em 1987, a Organização das Nações Unidas (ONU) criou a campanha do Dezembro Vermelho e, em 1991, a fitinha vermelha surgiu com os artistas de Nova York, para lembrar a luta contra a Aids e transmitir compreensão, solidariedade e apoio às pessoas que conviviam com HIV/Aids.

O Dezembro Vermelho visa a conscientização e prevenção da Aids

Conforme os dados da Secretaria de Estado, do Ministério da Saúde e do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (Unaids), a cada 15 minutos uma pessoa se infecta com o vírus no Brasil e sete pessoas morrem por dia em São Paulo.

O Governo do Estado de São Paulo afirma que, este ano, mais de 4 mil unidades de saúde participam da campanha, que engloba testes gratuitos e ações extramuros em parceria com outras entidades, como ONGs locais. Ou seja, são muitas atividades que visam conscientizar e acolher a população.

Fonte: Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) 

 

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