Dezembro Vermelho: a prevenção e o tratamento de Aids e outras ISTs

A campanha nacional do Dezembro Vermelho, dedicada à prevenção do HIV/Aids e outras Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs), foi instituída por lei em novembro de 2017 (Lei 13.504/2017). A data foi escolhida pelo Ministério da Saúde com base no Dia Mundial de Prevenção à Aids, da Organização Mundial da Saúde (OMS), celebrado todo dia 1º de dezembro, e, desde então, o mês é voltado para uma grande campanha de conscientização da população.

Anna Luiza de Fátima Pinho Lins Gryschek, enfermeira e professora associada do Departamento de Enfermagem em Saúde Coletiva da Escola de Enfermagem da USP, e que também já atuou como assessora técnica no Programa Municipal de ISTs e Aids da Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo, comenta a importância da mobilização.

A enfermeira e professora Anna Luiza Lins Gryschek

“Eu acho que essas campanhas são fundamentais, pois vivemos em um momento em que convivemos com inúmeras ISTs. Felizmente temos uma liberdade maior em conversarmos sobre sexualidade, sobre a possibilidade das pessoas terem relacionamentos sexuais. Mas essa possibilidade de falar mais abertamente deve vir com a orientação de que ao nos relacionarmos sexualmente, podemos adquirir ISTs. As conversas sobre sexualidade sempre devem vir acompanhadas do compromisso de cada ser humano em manter sua saúde e a saúde da pessoa com a qual ele está se relacionando”, explica. A enfermeira também destaca que o uso do preservativo, tanto masculino quanto feminino, em qualquer tipo de relação sexual, é o caminho mais indicado para manter relações sexuais saudáveis.

Anna Luiza destaca que a sífilis é atualmente uma das ISTs mais disseminadas em nosso país. Nos últimos anos, o Brasil vem apresentando um aumento significativo do número de casos da infecção. O Ministério da Saúde aponta que em 2019, o Brasil teve 158.051 casos de sífilis, o que representa um aumento de 28,3% em relação a 2018. A enfermeira também explica alguns dos problemas de saúde pública trazidos por esse aumento: “A sífilis é emblemática porque hoje temos muitos jovens contaminados que não querem se tratar, acreditando que a doença é uma bobagem. Na verdade, trata-se de uma doença que deve ser valorizada e que nos estágios mais tardios pode causar grandes danos ao organismo. O mais triste é que esse aumento dos casos mostra que as pessoas estão tendo relações sexuais desprotegidas”, afirma.

Uma mulher grávida, contaminada pela bactéria causadora da sífilis, pode dar à luz a uma criança com diversos problemas de saúde, como problemas de visão e nas vísceras e má formação de ossos e dentes. Entretanto, a doença tem cura: “A sífilis pode ser rapidamente diagnosticada nos equipamentos da Atenção Primária à Saúde e tratada com penicilina benzatina. Também é muito importante que as mulheres grávidas iniciem o pré-natal o mais precocemente possível, que engloba testes para sífilis e HIV/Aids, protegendo assim a saúde delas mesmas, de suas parcerias sexuais e dos bebês”, explica Anna Luiza.

Ela comenta que o Brasil é referência mundial no tratamento de pacientes com HIV/Aids, mas que isso não é motivo para relaxar a vigilância em relação à doença: “Atualmente temos um panorama em relação ao HIV/Aids, com mortalidade menor do que tivemos no passado e uma situação mais controlada, mas não podemos nos acomodar com isso, pois é uma doença grave que já matou mais de um milhão de brasileiros. Temos uma rede de assistência mais organizada, por conta das lutas e conquistas da sociedade civil, mas não podemos nos tranquilizar por conta disso. Temos que vigiar para manter essa qualidade”, diz.

Como parte da rede de acompanhamento do SUS, existem os Centros de Testagem e Aconselhamento em ISTs/Aids (CTAs). São unidades de saúde que oferecem assistência especializada e gratuita à população, com testagem, aconselhamento e apoio educacional e psicológico. “Os CTAs têm testes rápidos à disposição. Atualmente, quando falamos em aids, o melhor cenário para o indivíduo é que ele conheça sua situação sorológica. Se ela for soropositiva para o HIV, quanto antes ela iniciar a terapia antiretroviral, melhor será sua qualidade e expectativa de vida”, finaliza Anna Luiza.

 

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