Coren-SP repudia desrespeito a criança e enfermeira em voo da Gol

Na madrugada do último domingo, a professora e enfermeira dra. Maria Helena Mandelbaum presenciou uma situação desrespeitosa envolvendo a família de uma criança de quase três anos, Laura, que sofre de Ictiose, ao serem impedidos de prosseguir viagem no aeroporto de Aracaju.

Um pouco antes de cruzar o portão de embarque em um dos aviões da Gol linhas aéreas, que tinha como destino São Paulo, dra. Maria Helena manteve contato com os pais de Laura, que compartilharam sobre o estado de saúde da criança. “Estávamos aguardando para o embarque e começamos a conversar de maneira gentil e educada. Eu me apresentei e eles se sentiram a vontade para comentar que estavam indo a São Paulo para levar a pequena Laura para fazer um tratamento contra a Ictiose, no Hospital das Clinicas, já que o quadro dela estava avançando consideravelmente”, conta a enfermeira.

Professora e enfermeira dra. Maria Helena Mandelbaum

Formada há 46 anos, Maria Helena é especialista em enfermagem dermatológica e mantém uma ONG que atende crianças com doenças raras e severas de pele. Ela conta que a doença é caracterizada por pele seca, escamosa ou espessa. A Ictiose é uma doença hereditária, sem cura e não contagiosa.  

“Depois de nos acomodarmos nos assentos, pude perceber que os comissários estavam em volta da família. Quando me aproximei, ouvi um dos tripulantes dizer que a criança não poderia embarcar doente. Nesse momento, eu argumentei que a doença da menina era Ictiose e que eles poderiam se acalmar, pois não era contagiosa”, conta a profissional.

Embora a enfermeira tenha frisado que aquele procedimento não era correto, os tripulantes insistiam que a família só poderia embarcar de acordo com as regras da Anvisa. Segundo a dra. Maria Helena, um dos comissários ainda disse que a criança só embarcaria se estive portando um laudo sobre a sua condição.

“O tempo todo eu fiz questão de afirmar que não havia riscos para os passageiros. Até que um dos funcionários questionou a minha formação e disse que eu não poderia opinar por ser ‘apenas’ uma enfermeira. Os pais da criança tentavam manter a calma e imploravam para que eles os deixassem vir para São Paulo, se não a filha perderia a consulta”, relembra Maria Helena.

Os esforços da enfermeira para impedir a injustiça contra Laura, infelizmente, foram em vão. Quando o comandante da aeronave foi acionado, ele determinou o desembarque imediato da família. Os pais da pequena tiveram que voltar ao hospital de Aracajú para emitirem o laudo e, somente assim, eles conseguiram embarcar em outro avião para São Paulo.

Ainda que a família tenha passado por todo esse constrangimento, conseguiram chegar a São Paulo. A dra. Maria Helena continuou mantendo contato com eles e indicou o hospital universitário da USP e, de lá, foram encaminhados para o hospital da Unicamp, para que Laura recebesse uma assistência emergencial, visto que houve um agravo no quadro clínico.

O Coren-SP repudia qualquer tipo de desrespeito contra os profissionais de enfermagem e lamenta que uma empresa desse porte não valorize as competências técnicas da profissão. Destaca, ainda, que enfermeiros estão habilitados, conforme previsto no Decreto nº 94.408/1987, que regulamenta a lei do exercício profissional da enfermagem, a prestarem cuidados de maior complexidade técnica que exijam conhecimentos científicos adequados e capacidade de tomar decisões imediatas. Portanto, é inquestionável a capacidade de uma enfermeira, sobretudo com título de especialista, de avaliar e classificar se uma doença é contagiosa. O Conselho também repudia que a empresa tenha permitido que a falta de informação prejudicasse um cidadão em busca de tratamento. 

Vale ressaltar a importância da valorização de cada categoria da saúde no contexto da multidisciplinaridade, respeitando o papel de todas as profissões. Neste sentido, o Coren-SP enfatiza as competências técnico-científicas da enfermagem em todos os níveis do cuidado, em que esses profissionais exercem um papel fundamental em ações de acolhimento aos usuários, conscientização, prevenção e tratamento de doenças.

 

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