COREN-SP e ABEn-SP assinam termo de parceria e colaboração

O objetivo é valorizar e desenvolver, ainda mais, a Enfermagem paulista. Nas últimas duas décadas, a convivência entre Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo e Associação Brasileira de Enfermagem, seção São Paulo, não vinha sendo das mais pacíficas. Mas os atritos fazem hoje parte do passado. Cláudio Alves Porto, presidente do COREN-SP, e Sarah Munhoz, presidente da ABEn-SP, apostam no diálogo e no entendimento para que, juntos, possam atingir os objetivos que ambos têm em comum: desenvolver e valorizar a Enfermagem paulista. A retomada do diálogo entre os dois representantes da Enfermagem foi consolidada no último dia 6 de abril, com a assinatura de um termo de parceria e colaboração entre ambas as entidades em projetos diversos. Reuniões constantes têm marcado os últimos meses dos dois dirigentes, que planejam e já desenvolvem projetos em conjunto. A começar pelos cursos do Projeto de Capacitação e Aprimoramento de Docentes (apresentados na edição 80 da Revista Enfermagem), que já está com três turmas em andamento na capital e que será expandido para o interior no segundo semestre deste ano. Em entrevista à Revista Enfermagem, Cláudio Porto e Sarah Munhoz falam sobre o resgate do relacionamento das entidades, sobre ensino de Enfermagem e sobre os projetos que têm em parceria. Revista Enfermagem: Questões políticas e ideológicas do Conselho e da Associação mantiveram as duas entidades afastadas por anos, com sinais de que jamais reatariam as relações. O que aconteceu para que COREN e ABEn se reaproximassem? Sarah: Não houve uma reaproximação. O que houve foi um novo entendimento de uma situação que, anteriormente, foi tida como difícil. Nenhuma das partes nega isso. E nós entendemos que, viver do passado, somente, seria estagnar a profissão. Existem novos momentos e novos desafios do COREN-SP, e que também fazem parte do plano de metas da ABEn-SP, gestão 2008-2010. Entendemos que somar é muito mais importante do que dividir. Quando trabalhamos juntos, o profissional ganha, o paciente ganha, a segurança ganha, a vida ganha. Cláudio: Entendo que, se ficarmos pensando somente no passado, nunca vamos avançar para o futuro. O mais importante é aproveitarmos o que aconteceu no passado como aprendizado, para consolidarmos um bom futuro para a Enfermagem, através das nossas ações presentes. O que aconteceu no passado serviu ao propósito de trazer à consciência de profissionais envolvidos em órgãos derepresentação que estes têm muitas responsabilidades. Considero esta reaproximação uma semente, que já está frutificando. Consideramos que, esses frutos, traduzidos em ações que buscam despertar a cidadania, despertar para a necessidade de envolvimento e participação na vida política, acordar para a união de forças dos órgãos representativos da Enfermagem, só trarão ganhos para a Enfermagem. E a sociedade, através da união em busca da excelência da Enfermagem, é a que mais tem a ganhar com tudo isso. Revista Enfermagem: O primeiro grande projeto em parceria é a capacitação e aprimoramento de docentes. Qual a razão para a prioridade e preocupação com a formação profissional? Sarah: A preocupação, na verdade, está além da formação. Está também no resgate do papel desse profissional perante a sociedade. Numa primeira instância, pretendemos resgatar o profissional. Numa segunda instância, nós informamos esse profissional. Não é uma característica da ABEn-SP e do COREN-SP formar pessoas porque, quando formamos pessoas, também as informamos. O que fazemos hoje é informar os profissionais para que essa informação gere conhecimento, e que este conhecimento seja manifestado no saber fazer, no saber cuidar e que, com todos esses saberes adequadamente direcionados, nós tenhamos um profissional mais reflexivo e crítico, que tenha como princípio a sua autonomia enquanto cidadão. O profissional não deve ser subserviente, mas ser um profissional que tem autonomia do pensar e autonomia do fazer. Para isso, a educação é de grande importância, é o esteio da formação desse profissional e daqueles profissionais que, há muito tempo, se formaram, mas não mais se informaram. Cláudio: É preciso observarmos, também, que um Enfermeiro que saia para o mercado de trabalho com uma formação precária, que não contemplou a realidade que irá enfrentar enquanto profissional de Enfermagem, é razão suficiente para atrair nossa preocupação. Mas não se exclui desse universo o Técnico e o Auxiliar de Enfermagem. Cada um deles tem um papel muito importante naquilo que é de sua competência garantida por lei. Mas não adianta existir uma lei se existir um profissional que, mesmo sabendo e conhecendo a lei – o que ainda é muito precário – não tem os instrumentos necessários para fazer com que esta lei seja uma verdade em sua vida profissional. Se existe uma lei que rege o exercício profissional, é preciso que existam profissionais instrumentalizados pelo saber, pelo conhecimento, para que tenha autonomia de seu poder em exercer a profissão; para que seja autônomo em relação às suas atitudes, posturas e condutas profissionais. Mas não é somente ser autônomo. É, também, ser digno, ser ético, ser responsável. Revista Enfermagem: Quando fala em autonomia como fruto de conhecimento, está se referindo somente ao Enfermeiro? Cláudio: Na Enfermagem, temos níveis muito importantes de responsabilidade – a do Auxiliar e a do Técnico, que assumem a responsabilidade do cuidar sob supervisão, mas que têm que ter o seu conhecimento muito consolidado, porque existirão muitos momentos em que, mesmo sendo orientados e supervisionados, estarão sozinhos, tendo que prestar assistência, dentro de um nível determinado de decisão. Até a decisão entre chamar ou não o Enfermeiro ou o médico implica em necessidade de conhecimento, para avaliar qual a prioridade, a necessidade e a importância desse chamado. Já quando falamos do Enfermeiro, infelizmente, este é um profissional que ainda luta por sua afirmação perante a sociedade e as demais profissões da saúde. Infelizmente, temos Enfermeiros que não saem da faculdade conscientes e preparados, mesmo em nível básico, para enfrentar a imensa responsabilidade da profissão. O Enfermeiro assume o saber, o fazer, o conhecer, o ensinar, em todos os momentos de sua vida profissional, em todos os níveis de dificuldades, em todos os aspectos da relação com o trabalho. É dele que partem todas as diretrizes da assistência de Enfermagem, do cuidar. O Enfermeiro precisa saber desenvolver um olhar universal, sobre seu trabalho, sobre seu paciente e sobre a própria sociedade. Caso contrário, ele será um gerador de problemas, e não de soluções. É por isso que a ABEn-SP e o COREN-SP têm dado tanta ênfase à formação profissional. Nós (COREN-SP), não temos competência legal para intervir no processo de formação, mas somos suficientemente competentes para apontarmos problemas, questionarmos procedimentos, provocarmos a reflexão e transformarmos a realidade que hoje vemos. Revista Enfermagem: A qualidade da formação em Enfermagem caiu nas últimas décadas? O que mudou e que evidencia esta precariedade na formação dos dias atuais? Sarah: Estamos vivendo em um mundo onde a informação vale por pouco tempo. E esta velocidade com que a informação muda altera também a forma de fazer e a forma de cuidar. Por outro lado, temos um paciente cada dia mais ciente de seus direitos como cidadão. E isso nos leva à questão da segurança do paciente, quer ele esteja na assistência básica ou na assistência quaternária, que, direta ou indiretamente, passará pelas mãos de qualquer um dos profissionais de Enfermagem. Este paciente está cada vez mais exigente, não só por um cuidado adequado, mas de um direito, que é inclusive garantido pela Constituição. Esta é uma das razões para termos profissionais melhor preparados. Cláudio: O nível de formação do Enfermeiro, em muitos aspectos, se manteve como era realizado 30 anos atrás. Mas as necessidades estão 30 anos adiante do que hoje é ensinado. Antes, não tínhamos as doenças que hoje temos e a realidade social e cultural é outra. Há trinta anos, havia o básico do processo do cuidar. Há trinta anos, os procedimentos do cuidar eram divididos por “ bandejas padronizadas”. Hoje, falamos em processos sistematizados. Só que estes processos, para que sejam desenvolvidos adequadamente, incorporam uma necessidade de conhecimento muito mais ampla e muito mais profunda do que há três décadas. As demandas assistenciais hoje são muito mais amplas. Antigamente, não existiam as especialidades, nem a tecnologia de equipamentos e instrumentos de intervenção de hoje. Com um ensino antiquado em diversas das suas fases, o resultado só pode ser a formação de um Enfermeiro com o conhecimento já defasado. Sarah: Compartilho da opinião do Cláudio, mas tenho uma interpretação adicional. Há trinta, quarenta anos, um Enfermeiro se formava e tinha conhecimento suficiente para cuidar durante os dez anos seguintes. Hoje, quando um profissional é formado, está, na verdade, sendo concedida a ele uma autorização para continuar se formando, continuamente. A velocidade da informação, das descobertas, a velocidade imposta pela tecnologia, que envelhece informações para o aparecimento de outras novas, por vezes impedem que os profissionais consigam acompanhar as mudanças. Se o profissional não estiver atento às mudanças e ao mundo que o cerca, provavelmente já estará fazendo alguma coisa, há algum tempo, de forma antiquada. O conhecimento está se esvaziando muito rapidamente. Hoje, os recém-formados em Enfermagem saem do curso com seus conhecimentos já desatualizados em, no mínimo, quatro anos. E não estão sendo preparados para continuarem a estudar. Revista Enfermagem: Qual é, então, a principal deficiência na formação atual, que permite que uma situação como essa aconteça? Cláudio: Na principal deficiência no processo de formação profissional reside na deficiência de conhecimento do formador. E é esta a preocupação principal da ABEn-SP e COREN-SP. Estamos realizando grandes investimentos para capacitação e atualização de docentes, mostrando que nosso propósito maior é mudar aquele que forma, para mudar o produto de seu trabalho, que é o profissional formado. Entendemos que o processo não deve ser focado sobre aquele que é formado, mas começar pelo formador. Sarah: Temos hoje uma grande quantidade de escolas, e uma grande quantidade de pessoas formando pessoas. Porém, ao fazermos um levantamento no Estado de São Paulo, tivemos a surpresa de encontrar pessoas formando pessoas baseadas em modelos que acreditavam ser interessantes, muitas vezes, baseados em modelos percebidos em sua própria formação e que não eram, necessariamente, adequados. Não eram fundamentados em modelos cientificamente comprovados, que levam o indivíduo a “aprender a aprender e aprender” Esta ausência de fundamentos e a adoção de práticas de ensino intuitivas levou à diminuição da qualidade da formação dos profissionais de Enfermagem. Hoje, a nossa preocupação é que os formadores tenham acesso e conheçam modelos diferenciados, para que saibam escolher qual modelo seguir e qual o melhor, para os diferentes momentos do ensinar. Os Enfermeiros docentes que estão no Nível 1 de nosso Projeto, que é o de capacitação, recebem um treinamento para que conheçam a legislação de ensino, para que entendam as questões psicológicas de quem ensina e de quem aprende, que compreendam as demandas da didática e da pedagogia no processo ensinar-aprender. E, também, que respeitem a autonomia do aprendizado. Quando buscamos o despertar dos Enfermeiros sem formação em docência, queremos que eles tenham a oportunidade de enxergar uma outra forma de ensinar. E, para os Enfermeiros que já têm formação em docências, queremos atualizá-los nas formas vigentes de ensino e alertálos para que busquem maneiras diferentes de ensinar, para que se transformem em produtores de novas tecnologias do ensino. Revista Enfermagem: Existem outros projetos que serão desenvolvidos pela parceria ABEn-Sp e COREN-Sp? Cláudio: No dia 21 de agosto deste ano, o COREN-SP irá inaugurar o CAPECentro de Aprimoramento Profissional de Enfermagem Wanda de Aguiar Horta, onde diversas atividades técnicas e científicas serão desenvolvidas pelas duas entidades. O Prêmio de Gestão da Qualidade, lançado no 1º SEPAGE, no mês de abril (detalhes sobre o evento na edição 80 da Revista Enfermagem) que visa desenvolver um título, aos moldes de uma certificação de instituições de ensino e de saúde, também contará com a participação da Associação. Existe ainda a previsão da participação de representantes da ABEn-SP como palestrantes nos eventos do Programa Portas Abertas (PPAs). Sarah: A diretoria da Associação já está se mobilizando para realizar um encontro de atualização, de dois dias, em outubro deste ano, para Auxiliares e Técnicos de Enfermagem. Este evento contará com a colaboração e participação do Conselho. O encontro abordará os aspectos éticos e legais da profissão, além de atualização sobre as técnicas do cuidar. Já no mês de outubro, será realizado um evento específico, também com apoio do COREN-SP, para Enfermeiros mestres ou doutores, que tratará de Mapas Conceituais, uma nova forma de ensinar. Fechamos ainda mais uma parceria com o Conselho, de apoio ao desenvolvimento das atividades do 12º Seminário Nacional de Diretrizes de Educação em Enfermagem, em julho de 2010, em São Paulo. A realização de tantos projetos em conjunto reforça a credibilidade que ABEn-SP e COREN-SP, através de um trabalho justo, honesto, transparente, vão conquistar para a Enfermagem de São Paulo, trazendo, para a população do Estado, uma Enfermagem mais segura, e, para os profissionais, mais segurança para trabalhar.