Condições precárias de trabalho e sentimento de impotência provocam sofrimento moral

Não é possível falar em “cuidado”quando não existe a humanização do sistema. “Neste caso, o mais correto é falar-se que se pratica o “des-cuidado”. A reflexão é da professora Valéria Lunardi, durante a palestra “O sofrimento moral da enfermagem”, parte da programação científica do 13o CBCENF, que acontece em Natal até o dia 18.

Dentre diversos aspectos da questão, a professora Valéria explicou que existem pesquisas comprovando que um ambiente precário, onde o profissional não consegue realizar e oferecer aquilo que o paciente necessita para sua plena recuperação, trazem sofrimento ao profissional. “O profissional sente-se frustado quando, em seu serviço, são delegadas ao familiar do paciente atividades como o banho, a massagem de conforto e até mesmo a mudança de decúbito”.

Outra situação que submete os profissionais de enfermagem a um grande sofrimento é testemunhar o que compreendem ser um prolongamento desnecessário da vida de doentes terminais. “A enfermagem sofre com a situação, mas não a questiona ou a confronta formalmente”. Segundo a professora, o comportamento tradicionalmente dócil da enfermagem, fruto de uma postura de submissão e medo em relação àqueles que detém o poder nas instituições, é o fator que impede a manifestação do profissional em tais situações.

A pressão exercida sobre o profissional de enfermagem, na opinião de Valéria o leva ao conformismo, o que acaba por afastá-lo do envolvimento com o paciente. “Profissionais iniciantes sofrem ainda mais, ao encararem os obstáculos externos ao bem cuidar, que entram em conflito com suas próprias convicções morais”. Ou seja, o profissional vê-se num constante dilema entre orientar-se por seus valores pessoais e assumir as consequências, ou calar-se e sofrer a culpa pela omissão perante o paciente.

A professora destacou algumas estratégias para o enfrentamento de fatores que provocam o sofrimento moral nos profissionais, dentre eles, a abordagem multiprofissional dos problemas (ouça entrevista com a professora Valéria Munardi clicando aqui).

Ao final de sua exposição, Valéria alertou o público para o fato de que a enfermagem não tem consciência do poder que pode exercer, de diferentes modos, e que suas ações podem afetar drasticamente o rumo da assistência.