Réquiem para Marcos e Edma Valadão: necessidade de resgate para não perdermos a memória

A palavra Réquiem, originária do latim “réquiem” significa “Repouso da Alma”. Mas porque pedimos repouso para estes dois enfermeiros, quem são eles? E por que merecem descanso? A enfermagem precisa, reviver, escrever e documentar suas histórias, até para não esquecermos momentos penosos vividos por alguns para que outros gozassem de algumas possibilidades de vida mais equitativas e justas.

A memória necessita ser alimentada paulatinamente até para podermos reescrever a história de forma mais democrática, justa e livre. Memorizar e resgatar o passado nos leva a compreender os passos que deverão ser desenvolvidos no presente e quiçá no futuro.

Esses  dois enfermeiros, brutalmente assassinados, em função de suas lutas e crenças, inquietavam pessoas inescrupulosas que  encomendaram de forma cruel e covarde as suas execuções.

A pergunta feita é: como a enfermagem caracterizada por ser uma profissão que se identifica, sobretudo, com o cuidar do ser humano, e ainda, pelo reconhecimento legal e cotidiano que o sistema COFEN/COREN’s, órgão responsável pela fiscalização da profissão fundamentada em código de ética, onde a ética é o ponto expressivo de suas ações, pode ter sido o desencadeador de ações bárbaras e criminosas descritas pela mídia da época. Estas questões paradoxais e violentas, vividas em plena década de 90 do século XX, são um marco na nossa histórica, não devemos esconde-las ou camuflá-las mas resgatá-las, que sirvam de exemplo para que nunca mais ocorram.

O casal Marcos e Edma, casados, foi executado, no interior do seu carro de forma cruel e covarde, em 20 de setembro de 1999, em um sinal de transito no Rio de Janeiro. Lideranças que lutavam na defesa da enfermagem,  Edma Rodrigues Valadão era Presidente do Sindicato dos Enfermeiros do Estado do Rio de Janeiro e Marcos Otávio Valadão, Presidente da Associação Brasileira de Enfermagem do Estado do Rio de Janeiro.

 Eram combativos e buscavam uma enfermagem livre de ações violentas e antidemocráticas. Entre as suas lutas, denunciavam sistematicamente irregularidades no sistema COFEN/COREN’s e procuravam a moralização e a democratização das gestões do sistema.

O cenário da enfermagem no período era de medo, quando tratavam de questões que envolviam mudanças. Mortes obscuras, desvios financeiros, ameaças na calada da noite, enfim, um grande paradoxo entre as propostas éticas do sistema e a prática real do que existia. Não temos dúvidas de que as mortes desses personagens, que continuam IMPUNES e sem determinação de seu autor ou autores, levou anos mais tarde a uma grande operação, realizada pela Polícia Federal no ano de 2005 que resultou na época na prisão de 15 profissionais. 

Foram comprovados desvios de recursos da autarquia para vários fins escusos. Na época os prejuízos foram avaliados na ordem de 50 milhões de reais. Sobretudo,  esta questão levou a reclusão do ex-presidente do Cofen, Gilberto Linhares Teixeira. Condenado  a 19 anos e oito meses de prisão por chefiar a organização  que desviou milhões do sistema. Foi preso em janeiro de 2005, junto com mais 14 acusados, na Operação Predador da Polícia Federal. Em 27 de Setembro de 2012, a Assembleia de Presidentes do Sistema Cofen/ Coren’s confirmou a suspensão do exercício profissional de enfermeiro por dez anos.

Diante desses fatos descritos sumariamente, e que não podem ser esquecidos, gostaríamos de agradecer: obrigado casal, por terem lutado pela enfermagem. Infelizmente pagaram com a vida e não viram os seus filhos crescerem, mas esperamos que a enfermagem não esqueça jamais deste episódio.

Réquiem para Marcos e Edma, descansem em paz.

 

Referências bibliográficas
1 – www.conjur.com.br – Revista Consultor Jurídico, consultado em 22 de janeiro de 2008.
2 – Jornal da Associação Brasileira de Enfermagem – Brasília/DF. Ano49, nº1, jan.fev.mar., 2007. 

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