Como funciona o trabalho das Comissões Intra-hospitalares de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante?

Profissionais de enfermagem explicam esse importante trabalho das comissões para salvar vidas. A Portaria GM/MS nº 1.752, de 23 de setembro de 2005, determina que todos os hospitais públicos, privados e filantrópicos com mais de 80 leitos devem constituir uma Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante (CIHDOTT). Porém, a realidade ainda é bem diferente. Apesar da determinação acima, muitos hospitais – principalmente os de rede privada – ainda não possuem este tipo de comissão. Para a Dra. Carolina Isilda Telis Torres, o que falta ainda é a conscientização e uma maior divulgação desta portaria entre os hospitais. Carolina é enfermeira Responsável Técnica e membro da CIHDOTT do Hospital Metropolitano, na capital paulista. A comissão do Hospital Metropolitano foi instituída em 2007 e, desde o início do trabalho desta comissão, 80% dos pacientes que sofreram morte encefálica foram doadores. Ela é formada por sete enfermeiros – sendo uma coordenadora, que passou por curso emitido pela Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo – e um médico intensivista. O trabalho da CIHDOTT se inicia nas visitas diárias da comissão, principalmente à UTI, para avaliação de pacientes com possível morte encefálica – havendo a suspeita, a comissão inicia o protocolo de morte encefálica. Após a realização dos exames obrigatórios, assim como os testes, a comissão entra em contato primeiro com a Secretaria da Saúde e em seguida com a OPO (Organização e Procura de Órgãos) de sua região – que, no caso do Metropolitano, é o Hospital das Clínicas – para informar da possibilidade de um possível doador. Somente após a notificação do óbito à família pelo médico responsável do paciente é que a comissão inicia todo processo de entrevista com a família para possível doação. Nos casos em que o retorno seja positivo por parte dos familiares, iniciam-se todos os trâmites da OPO e da Secretaria da Saúde para a retirada dos órgãos para doação. “Todo este processo é realizado através de um protocolo assinado pela Diretoria Médica do Hospital e da Responsável Técnica”, explica a enfermeira Carolina Torres. Todos os membros estão, atualmente, passando por um treinamento, pela OPO-HC, direcionado aos membros da CIHDOTT, onde são abordados temas como a morte encefálica, leis, portarias, protocolos, abordagem familiar, etc. A entrevista com os familiares é, certamente, a parte mais difícil e delicada do processo. Os membros da CIHDOTT do Hospital Metropolitano receberam um treinamento específico para aprender a lidar com esta situação e já são os responsáveis pelas entrevistas realizadas no hospital. Segundo a Enfermeira Carolina Torres, o Enfermeiro é o profissional mais adequado para realizar a entrevista, pois carrega toda a bagagem técnica e humana de que a família precisa naquele momento. “Eles têm muitas dúvidas sobre a morte encefálica, ‘como o paciente está morto se o coração continua batendo? Ele respira devido aos aparelhos?’, e nós temos o dever de fornecer todos os subsídios de que eles precisam naquele momento para a decisão ser consciente e sem restar qualquer dúvida”, explica. A Enfermeira explica que, para se instituir a CIHDOTT, não houve a necessidade de custos adicionais, já que todos os membros são funcionários do próprio hospital. “Tudo o que você precisa para montar uma comissão é de um grupo de profissionais pró-ativos, com disponibilidade, que acreditem e gostem do assunto e que tenham alguma habilidade com setores críticos (Pronto-Socorro e UTI)”. “Desde 2007, nós aqui do Metropolitano notificamos 100% dos casos de morte encefálica e, destes, 80% foram doadores. Imagine se todos os hospitais de grande porte do Brasil seguissem o que determina a portaria e criassem essas comissões, quantas pessoas não sairiam da fila de transplantes”, finaliza Dra. Carolina. Veja a resolução