Variante genética pode tornar negros mais vulneráveis ao vírus da Aids

Uma das faces mais cruéis da epidemia de Aids pode ser explicada por uma mutação minúscula, a troca de uma única letra química de DNA. Segundo uma nova pesquisa, não é de estranhar que a doença esteja devastando a África: essa mutação, sozinha, aumentaria em 40% as chances de as pessoas de origem africana serem infectadas pelo HIV. Paradoxalmente, uma vez que o vírus se instala no organismo, a mesma mutação atrasaria significativamente o avanço da doença em comparação com o que se vê em pacientes brancos ou asiáticos. A descoberta, feita por um grupo de pesquisadores nos EUA e no Reino Unido, está na revista científica Cell Host e Microbe. A mutação aparentemente desprezível faz com que os glóbulos vermelhos de seus portadores não produza um receptor (uma espécie de fechadura química das células) conhecido como Darc, escrevem os pesquisadores, liderados por Sunil K. Ahuja, pesquisador do Sistema de Saúde dos Veteranos do Sul do Texas (Estados Unidos). Ironicamente, no passado remoto, não ter o Darc foi uma benção. É que o receptor serve de entrada para o parasita Plasmodium vivax, um dos causadores da malária — é ligando-se a essa fechadura que o plasmódio consegue entrar nas células vermelhas do sangue. Como a malária é endêmica há milhares de anos na África, a população do continente foi pressionada a perder o Darc – afinal, quem o tivesse acabava pegando a doença e morrendo. Com isso, mais de 90% dos africanos atuais é portador da mutação que eliminou o receptor nos glóbulos vermelhos.