Aids e leishmaniose interagem e provocam co-infecção

Pesquisas recentes sobre um surto de co-infecção entre Aids e leishmaniose, no Brasil e em países da Europa banhados pelo Mediterrâneo, está mostrando uma interação inesperada entre os dois males. Apesar de a Aids ser uma doença mais urbana, e a leishmaniose, mais rural, elas têm se misturado, provocando uma sobreposição das áreas de ocorrência. Temos notado que uma impulsiona o desenvolvimento da outra, explica a pesquisadora Alda Maria da Cruz, do Laboratório de Imunoparasitologia do Instituto Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro. A equipe da dra. Alda trabalha com a hipótese de o parasita Leishmania aumentar a replicação do HIV na célula. Por outro lado, o sistema imunológico debilitado pela Aids acaba beneficiando o surgimento ou reaparecimento da leishmaniose, em especial da variedade visceral, a forma mais grave da doença, que atinge fígado e medula. De acordo com o Ministério da Saúde, 90% dos casos de leishmaniose visceral resultam em óbito. O problema é que na versão mais grave o coquetel parece não ter muita influência nem de controle nem de prevenção à contaminação com o parasita, conta a infectologista. No Brasil, o primeiro registro da co-infecção é de 1987 e até recentemente haviam sido identificados apenas casos isolados. Nos últimos anos, porém, a co-infecção tem aparecido com mais freqüência. Entre 2000 e 2006, o Programa Nacional de Leishmaniose contou 176 casos, mas os cientistas acreditam que haja muito mais.