Coren-SP e Fórum Nacional da Enfermagem promovem atos no estado de São Paulo contra a suspensão do piso

O Coren-SP e o Fórum Nacional da Enfermagem fizeram um grande ato nesta quarta-feira (21) contra a suspensão do piso salarial da enfermagem pelo Supremo Tribunal Federal. Mais de mil manifestantes participaram da passeata, segundo estimativa da Polícia Militar. O ato em São Paulo foi parte de um movimento nacional, com diversas manifestações em todo o país nesta quarta-feira.

Com concentração em frente à sede do Coren-SP, os manifestantes saíram em passeata pela Avenida Brigadeiro Luís Antônio, na região central de São Paulo, até o Masp, na Avenida Paulista. Pelo caminho, ouviam-se palavras de ordem como “respeita a enfermagem!”, “a enfermagem acordou”, “a enfermagem vai parar”, “enfermagem na rua, Barroso a culpa é sua” e “amor não paga boleto”. Uma vez na Avenida Paulista, três faixas da via foram fechadas por cerca de uma hora pelos manifestantes.

Conselheiros reunidos na concentração, em frente ao prédio sede do Coren-SP, em São Paulo

O sentimento era de decepção com a decisão do Ministro Luís Roberto Barroso, confirmada pelos outros membros do STF por 7 votos a 4 no dia 16/9. A decisão suspendeu por 60 dias a lei que garantia o piso salarial da enfermagem (Lei Federal nº 14.434/2022), até que uma fonte de custeio do piso seja determinada. A decisão do STF foi fruto de uma Ação Direta de Inconstitucionalidade impetrada por representantes patronais da área da saúde. O impacto financeiro do piso salarial da enfermagem, de R$ 16 bilhões por ano, já havia sido avaliado pela Câmara dos Deputados, que concluiu ser um impacto perfeitamente razoável.

A vice-presidente do Coren-SP, Erica Chagas, em fala em frente ao Masp


Além do Coren-SP, participaram da manifestação instituições como o Sindicato dos Enfermeiros do Estado de São Paulo (SEESP); Associação Brasileira de Enfermagem – Seção São Paulo (ABEn-SP); Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos de Serviços de Saúde de São Paulo (SinSaúdeSP); Centro Acadêmico XXXI de Outubro da Escola de Enfermagem da USP, e outros movimentos sindicais, acadêmicos, associativos e estudantis.

Ato da Enfermagem paulistana ocorrido no último dia 21/9

A vice-presidente do Coren-SP, Erica Chagas, destacou a capacidade de união demonstrada pelos diversos setores que representam a enfermagem: “É uma manifestação que une profissionais, conselheiros do Coren-SP, líderes sindicais, ABEn-SP, estudantes, professores, e essa união em torno de uma causa comum mostra um amadurecimento da nossa categoria. Lutamos por um direito que é nosso, conquistado após muita luta e que não pode ser retirado da nossa categoria”, afirmou.

O conselheiro Luciano Santos, um dos organizadores da passeata

O conselheiro Luciano Santos, um dos organizadores do ato, frisou a força do movimento que vem se formando contra a suspensão da lei do piso salarial: “A categoria atendeu nosso chamado e mais uma vez se mobilizou em peso. O movimento contra a suspensão do piso está ganhando cada vez mais força. Nossa categoria é a espinha dorsal da saúde e é importante que a população, os parlamentares e os membros do STF vejam isso para que tenhamos nosso piso salarial, já conquistado como direito nosso”.

Gésus Andrade lembrou que a manifestação é um exercício de cidadania

O primeiro-tesoureiro do Coren-SP, Gésus Andrade, lembrou o caráter legítimo da manifestação: “Gostaria de dizer que todo o poder emana do povo e estamos aqui, em primeiro lugar como cidadãos. A enfermagem merece respeito e todo trabalhador tem direito ao piso salarial. Mostramos nosso valor diariamente na linha de frente de assistência à saúde e exigimos o que é nosso direito”, colocou.

Manifestantes em frente ao Masp, na Avenida Paulista

Uma vez em frente ao Masp, na Avenida Paulista, os manifestantes se revezaram no microfone enquanto o trânsito da avenida ficou interditado em três faixas. O Coren-SP e as outras entidades coorganizadoras planejam novas manifestações até que a Lei 14.434/2022 volte a vigorar em todo o território nacional.

A voz dos profissionais

Alguns dos profissionais de enfermagem presentes na manifestação na Avenida Paulista deram sua opinião sobre a importância da manifestação e sobre a suspensão da lei do piso salarial pelo STF:

“Pra falar a verdade, em vinte anos que eu trabalho na enfermagem, essa é a primeira vez que eu vejo uma movimentação. A enfermagem nunca se movimenta, pensamos tanto nos paciente que acabamos perdendo nossos direitos e valorização.”, Isabella.

“Queremos piso digno, devido a nossa luta na pandemia, o piso salarial é lei e deve ser cumprida!”, José Itamar.

“Sentimento de total indignação e tristeza! É uma falta de respeito, nossa área é muito difícil, não somos respeitados. Durante os dois anos da pandemia, perdemos colegas e parentes cuidando do povo, e agora essa vergonha com nosso salário. Como pode? Isso não existe! Merecemos respeito e salário digno, a saúde merece respeito!”, Andreia.

“Nosso sentimento de revolta, né. Os profissionais da saúde, sobretudo, da enfermagem salvaram milhões de vida durante a pandemia, na época fomos reconhecidos como heróis. Agora que precisam reconhecer, a sociedade vira as costas para a suspensão do piso salarial”, Almir.

“Nós estamos nesse movimento porque estamos indignados com a situação que estamos sendo tratados pelos nossos governantes. Durante a pandemia, trabalhamos incansavelmente, sofremos com a doença, depressão e a enfermagem não foi e não é valorizada!”, Ana Paula.

“Estamos nos sentindo injustiçados, como sempre repetimos, somos mais de dois milhões de profissionais no Brasil, então é uma hipocrisia dizer que fomos heróis na pandemia e agora, na hora de realmente sermos reconhecido, nos negam esse direito básico de um salário justo. É isso o que nos motiva a estar aqui também, juntamente com as entidades de classe, como Coren-SP, é ideal que eles estejam conosco durante o movimento.”, Andreia Teixeira.

“Somos constantemente desvalorizados, nosso psicológico fica abalado, eu, inclusive, fui linha de frente da Covid, perdi minha irmã e vários colegas de trabalho no ano passado. Hoje mesmo, deixei de trabalhar para estar aqui e ter a oportunidade de lutar pelo nosso direito de sermos valorizados. Moro em Itanhaém e trabalho aqui em São Paulo, e nem o valor do meu trajeto pagam para mim, é um absurdo.”, Keila.

Santana de Parnaíba

As manifestações contra a suspensão do piso salarial ocorreram também no interior do estado. Em Santana de Parnaíba, profissionais de enfermagem que trabalham no município também fizeram uma manifestação pacífica, em marcha pelas ruas da cidade. O ato foi organizado pelas técnicas de enfermagem Gisele, Flávia e pela enfermeira Rosângela.

Manifestação em Santana de Parnaíba em defesa do piso salarial da enfermagem

O grupo iniciou a passeata às 10h, partindo do complexo de saúde do município, passando pelo centro da cidade, monumento histórico, igreja matriz e encerrando o movimento em frente o sindicato dos servidores municipais.

Manifestação em Santana de Parnaíba


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