Profissionais encabeçam projeto sobre saúde da população negra na zona norte da capital
Profissionais de saúde da região da Brasilândia, na zona norte da capital, estão à frente de um projeto de grande impacto e muito necessário à saúde da população da região. Por iniciativa do Coletivo Kilombrasa, os profissionais têm feito reuniões em unidades de saúde da região, de forma a conscientizarem-se sobre as questões de saúde específicas da população negra.
A enfermeira Cibele Coelho Graciano Sampaio, que trabalha na AMA/UBS Integrada do Jardim Paulistano, explica melhor a iniciativa: “Aqui na Brasilândia estamos em um território que é majoritariamente preto e pardo, ou seja, negro. Considerar a identidade racial do usuário do sistema de saúde ajuda na promoção da equidade. Esses encontros servem para programarmos ações que promovam a saúde dessa população”, afirma.
Um dos principais objetivos do projeto, iniciado no dia 25 de agosto e que tem previstos mais 5 encontros, é promover a implementação na prática da Política de Saúde Integral da População Negra. “É uma política que é parte do SUS e que existe desde 2009, no entanto, nunca foi efetivamente colocada em prática. Pretendemos fazer isso por meio da qualificação dos profissionais que atuam na Atenção Primária”, explica Cibele.
Ela conta que o quesito raça/cor deve sempre ser levado em conta no atendimento à saúde do usuário, pois cada população possui suas questões de saúde específicas. “O quesito raça/cor deve ser considerado quando pensamos no processo de saúde e doença, principalmente em relação à saúde mental e coisas que vão além do que normalmente pensamos em racialidade e questões como a anemia falciforme e a hipertensão”, afirma.
Cibele dá um exemplo prático de ação que poderia ser implementada se o quesito raça/cor fosse mais considerado pelo SUS: “Uma ação de novembro azul, por exemplo, em um território majoritariamente negro como o nosso, poderia ir além da questão do câncer de próstata, pois os homens negros sofrem mais com a violência do que com esse tipo de câncer. Então, poderíamos abordar também a questão da violência no novembro azul”.
A enfermeira espera que o projeto possa ter um impacto positivo e duradouro na saúde da população negra da Brasilândia: “Eu acho que temos que, no coletivo, promover e fortalecer a saúde mental e o indivíduo como um todo, sem nenhum tipo de tabu, e que isso faça parte do autoconhecimento das pessoas e que não haja qualquer constrangimento. É preciso que o indivíduo tenha orgulho em declarar sua cor, porque muitas vezes vemos pessoas de 70 anos de idade que não conseguem se classificar em relação à sua própria cor e não possuem um mínimo de autoconhecimento. Isso acaba sendo prejudicial para a forma como a saúde dessa pessoa é tratada”, conclui.
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