Investindo no futuro da enfermagem

Coren-SP lança projeto para ajudar profissionais de enfermagem a conseguirem uma colocação profissional

Após anos de estudo e aprendizado nos bancos dos colégios de cursos e faculdades, finalmente chega a hora em que o novo profissional de enfermagem começa a procurar emprego na área. Também há aqueles que, mesmo depois de um tempo de formados, ainda encontram dificuldades de ingressar no mercado de trabalho. Esse é um momento que pode ser delicado, sobretudo para aqueles sem experiência prévia.

As conselheiras Heloísa Ciquetto Peres e Ana Paula Guarnieri são as coordenadoras do projeto, que pretende empoderar os recém-formados em busca de colocação profissional

Foi pensando justamente nos profissionais que ainda não conquistaram a primeira oportunidade de trabalho que o Coren-SP lançou o programa Primeiro Emprego. Coordenado pelas conselheiras Ana Paula Guarnieri e Heloísa Helena Ciqueto Peres, o programa objetiva preparar os profissionais de enfermagem para a conquista do primeiro emprego
por meio de preceptoria e tutoria, em três grandes dimensões, com enfoque nas categorias profissionais de enfermagem:

a) Ingressantes na profissão de enfermeiro, sem experiência profissional, com até 2 anos de formados; b) Progressão na carreira de enfermeiros, com atuação na área de saúde como técnico ou auxiliar de enfermagem; c) Ingressantes na profissão de técnicos de enfermagem, sem experiência profissional, com até 2 anos de formados.

A conselheira Ana Paula Guarnieri explica melhor a ideia central do programa: “Os ingressantes são os profissionais que acabaram de terminar a graduação ou o curso técnico em plena pandemia. Eles passarão pelo processo de preceptoria, pois há várias questões que precisam ser sanadas. A preceptoria tem uma intenção de esclarecer dúvidas.

Já a mentoria será apenas para uma turma de enfermeiros formados há menos de dois anos. A mentoria tem uma questão mais técnica, para quem já está na área”, esclarece. As duas turmas de ingressantes e a turma de novos profissionais passarão por treinamentos no ambiente virtual da plataforma Moodle e ao final serão certificados
e incluídos em um banco de talentos chancelado pelo Coren-SP.

Os treinamentos abordarão assuntos como elaboração do currículo e como se portar em entrevistas de emprego, por
exemplo. Também serão abordados temas referentes a ética e legislação profissional, gerenciamento em enfermagem
e práticas assistenciais baseadas em evidências.

Além de videoaulas, haverá momentos de encontros virtuais ao vivo entre as preceptoras e mentoras e os alunos.
“Eu penso que esse é um papel inovador do conselho. É um projeto que faz parte do papel ético-político-social do Coren-SP, de aproximação entre os profissionais e o mundo do trabalho”, resumiu a conselheira Heloísa Ciqueto Peres.

A busca pelo primeiro emprego

O enfermeiro Thiago Lopes Rodrigues tem 22 anos de idade e concluiu a graduação no primeiro semestre de 2020,
coincidindo com o início da pandemia.

Ela conta que uma das dificuldades encontradas pelos jovens recém-formados é a exigência de experiência na maior
parte das vagas: “Nunca é fácil conseguirmos um emprego assim que nos formamos. Hoje em dia, a inserção no mercado de trabalho é tão difícil que até mesmo as plataformas de contratação de enfermeiro júnior ou trainee pedem experiência prévia”.

Thiago Lopes Rodrigues percebeu a importância do recém-formado enriquecer o currículo assim que sai da faculdade ou do curso técnico

No caso dele, as novas vagas abertas por conta da pandemia facilitaram a conquista do primeiro emprego. Thiago, que atualmente trabalha para a SPDM (Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina), conseguiu uma colocação em um hospital de campanha quando se formou e um contrato temporário no SAMU. Uma das recomendações que ele faz para seus colegas recém-formados que procuram trabalho é que desde o início da carreira
procurem cursos de especialização e aprimoramento profissional: “Temos hoje muitos cursos dentro da enfermagem,
como urgência e emergência, ACLS, habilitação em PICC e em intraóssea. Enriquecer o currículo é um segredo e também um dever de todos”.

Na opinião do jovem enfermeiro, iniciativas como o projeto Primeiro Emprego serão de grande valia para outros recém-formados buscando a primeira colocação em enfermagem, tanto no nível superior quanto no nível técnico:
“Saber montar um currículo, saber a forma de manter um perfil em redes como LinkedIn e o Infojobs e habilitações
que possam trazer um enriquecimento ao currículo do jovem são muito importantes. Acho muito importante que universidades, cursos técnicos e o conselho possam atuar nesse sentido.

Se pudéssemos olhar o jovem com força, dar mais liberdade e confiar mais no trabalho deles seria uma revolução para
a enfermagem, tanto na esfera assistencial quanto na administrativa”, opina.

O olhar de quem contrata

Elizabete Mitsue Pereira é enfermeira há 20 anos e há 10 trabalha na área de gestão, sendo doutora em gerenciamento de enfermagem pela USP. Ela, que atualmente é head de práticas assistenciais, comenta que o ingresso no mercado de trabalho para o recém-formado é um grande desafio, principalmente considerando os últimos 18 meses, quando a pandemia acarretou uma grande crise sanitária e humanitária.

“Essa nova condição de trabalho tem gerado grande pressão psicológica nos profissionais. A imprevisibilidade e o rápido agravamento dos pacientes e o alto grau de vulnerabilidade demandam uma rotina dinâmica e têm exigido profissionais com vasta experiência profissional.

Em decorrência desse cenário, para garantir a manutenção da segurança e qualidade assistencial, a maioria dos
serviços tiveram dificuldades na incorporação de profissionais com pouca experiência”, afirma.

Elizabete Mitsue Pereira afirma que o perfil comportamental do candidato é um dos grandes diferenciais na hora de procurar emprego

Do ponto de vista como recrutadora, Elizabete sabe que a maioria dos candidatos recém-formados demonstra grande ansiedade e pouca desenvoltura em uma entrevista, pela expectativa da adaptação, aprendizado e insegurança em relação ao período de experiência. “O foco principal está relacionado ao perfil comportamental, sua conduta profissional em situações de conflito e o relacionamento interpessoal com colegas e pacientes”, explica. “É primordial que o profissional tenha iniciativa, proatividade, responsabilidade e ética ao relatar como irá desenvolver suas atividades.

Procuramos aqueles profissionais que tenham energia e queiram transformar, que estão abertos para aprender e crescer, e principalmente que tenham brilho nos olhos. Esses são os profissionais mais desejados e certamente farão a diferença na experiência do paciente e do familiar porque são capazes de entregar uma assistência de excelência e cuidam com empatia e de maneira integral”, detalha.

A conselheira Ana Paula Guarnieri concorda que na hora de conseguir um emprego, o próprio profissional tem, de
certa forma, seu destino nas próprias mãos: “O mérito e o potencial estão no profissional. É por isso que, com o programa Primeiro Emprego, nós procuraremos trabalhar na lógica de ensinar o recém-formado e fazer com que a procura por uma colocação seja a mais produtiva possível”.

Heloísa Ciqueto concorda e resume o impacto esperado do programa Primeiro Emprego na vida dos profissionais que
passarão por ele em uma palavra: empoderamento. “Precisamos mostrar o caminho a esses novos profissionais, eles precisam aprender a aprender. A ideia é darmos a eles ferramentas para promover autonomia, conhecimento e competências ético-políticas e técnico-científicas”.

Recomendações para quem procura o primeiro emprego na enfermagem

A gestora de enfermagem Elizabete Mitsue Pereira elencou algumas iniciativas que podem ajudar os profissionais a se posicionarem no mercado de trabalho.

• O ingresso em cursos de curta duração, para que o profissional se aprofunde e se torne especialista em temáticas que fortaleçam as bases do cuidado e desenvolvam competências comportamentais. Várias escolas e universidades têm oferecido atividades de alta qualidade e de forma gratuita, como o Coren-SP Educação.
• O currículo deve ser redigido de forma clara e que comprove iniciativas acadêmicas. Capacitações e estágios são atrativos para o recrutador, mesmo quando no currículo do profissional recém-formado.
• É importante se preparar para a entrevista de emprego, demonstrando conhecimento técnico, vontade de aprender e atitudes que demonstrem um bom relacionamento interpessoal.
• Programas de residência são portas abertas para a integração do profissional que demonstra bom desempenho, sendo esse caminho um ótimo início de carreira.
• Quanto à instituição formadora, uma grade curricular que desenvolva tanto soft skills quanto hard skills requeridas para o cuidado integrado, eficiente e para qualidade assistencial, são pré-requisitos importantes. Para os enfermeiros, investimento na liderança de equipe, tomada de decisão e comunicação da equipe também são competências fundamentais para atender as necessidades do mercado.
• Atualmente as instituições de saúde têm expandido a oportunidade de contratação de profissionais recém-formados com oferta de programas trainee, em que o profissional inexperiente é incorporado ao quadro de profissionais e cumpre um cronograma de desenvolvimento até que ao final do programa ao demonstrar um bom desempenho terá chances de progredir no plano de carreira.