Enfermeiro homenageado em Barueri narra salvamento em acidente aéreo

O enfermeiro socorrista João Carlos Barbosa, 35, conhece como ninguém as situações extremas. Enquanto foi membro do Exército Brasileiro, ao qual serviu por sete anos, ele trabalhou como socorrista militar durante a missão da ONU na guerra civil do Haiti, ocorrida em 2004.

Ao deixar o exército, o terceiro-sargento João Carlos ostentava diversas medalhas e condecorações: Medalha das Nações Unidas; Medalha Soldado da Paz; Medalha Cinquentenário das Forças de Paz; Medalha FAIBRÁS e Medalha Organizações dos Estados Americanos (OEA).  Depois que saiu das forças armadas, ele se especializou no socorro aeromédico, atuando como tripulante de aviões e helicópteros de resgate nas empresas Aeromil Taxi Aéreo, Brasil Vida e no Hospital Israelita Albert Einstein, na capital. 

Entre tantos feitos e condecorações por bravura, a “missão mais difícil da vida” de João Carlos, como ele mesmo conta, ainda estava por vir. Essa missão se concretizou em janeiro deste ano, durante um transporte aeromédico que João realizava a bordo de um avião. “A aeronave sofreu uma queda em uma região de mata, durante o pouso. Todos que estavam a bordo ficaram presos nas fuselagens do avião”, conta.   

Após a queda, o primeiro impulso de João Carlos foi, em um ato de heroísmo, tratar de salvar os seus colegas. “Percebi um ferimento em meu olho direito e na minha face. Ainda assim, abri a saída de emergência e rapidamente retirei os dois primeiros tripulantes de dentro da aeronave. Eram o piloto e uma médica. O terceiro tripulante, o copiloto, continuou preso e sem possibilidade de ser retirado, enquanto a aeronave permanecia com as turbinas ligadas ejetando terra e fumaça para todos os lados”, relembra. 

Nesse momento, o piloto do avião e João Carlos começaram a empreender diversas tentativas de resgate desse terceiro tripulante ainda preso às ferragens: “Tentamos quebrar um dos vidros do avião, mas não tivemos sucesso. Escalei um barranco para tentar buscar ajuda e percebi ferimentos também na minha perna direita e coluna. Ao chegar no topo do morro encontrei um motociclista e solicitei ajuda, falando que eu precisava de uma marreta para ajudar a quebrar o vidro do avião. Subi na moto e nos dirigimos à residência do motociclista, que era lá perto, para buscarmos a ferramenta. De volta à cena do acidente, fiz mais uma tentativa de quebrar o vidro, sem sucesso”.   

A essa altura, a preocupação do enfermeiro e dos dois tripulantes já resgatados só aumentava, pois devido à turbina do avião ainda estar ligada, estava ficando impossível respirar dentro da aeronave: “acreditamos que o copiloto morreria asfixiado”, conta. Nesse momento, no auge do desespero, o piloto do avião conseguiu abrir uma outra porta da aeronave e salvou o copiloto: “Ao puxá-lo, os dois caíram inconscientes. Mais do que depressa tirei-os da porta da aeronave e iniciei o atendimento com auxílio da outra tripulante, que era médica”. Durante o atendimento, o piloto e o copiloto recobraram a consciência.

Em seguida João Carlos ainda retornou à aeronave para retirar os cilindros de oxigênio e evitar uma explosão. “Só então nos deslocamos para a área da pista e avistamos a primeira ambulância do Samu e posteriormente do Corpo de Bombeiros que viriam nos resgatar. Os pilotos tiveram traumatismos cranianos, intoxicação, ferimento na face, escoriações pelo corpo e a médica sofreu um trauma no tornozelo esquerdo. Eu sofri um traumatismo craniano com hemorragia subaracnoide, ferimentos na face e supercílio direito, lesão em membro inferior esquerdo e fratura transversa na coluna, nas vértebras T4 e T5”. 

Apesar do ocorrido, atualmente João Carlos segue bem e já retomou suas atividades, voltando a fazer o que mais gosta: socorrer. 

No dia 29/6, o profissional foi homenageado pela Câmara Municipal de Barueri por seus serviços prestados na Missão de Paz da ONU no Haiti.