Pesquisadores da USP desenvolveram aplicativo para ajudar pessoas com quadro de depressão leve

Sabendo da grande demanda por cuidado em saúde mental e, especificamente em depressão, pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) decidiram investir em uma iniciativa de assistência utilizando a tecnologia. De acordo com a enfermeira Heloísa Garcia Claro, no Brasil, quem tem sintomas depressivos recebe apenas tratamento em saúde mental e, a maioria deles, apenas medicação. Por isso, são necessárias novas estratégias de cuidados que sejam inovadoras, abrangentes e eficazes.

Diante deste cenário, foi desenvolvido o aplicativo Conemo (sigla para Controle Emocional), por pesquisadores da USP, do King’s College de Londres, da Universidad Cayetano Heredia no Peru, e da Northwestern University nos Estados Unidos, com financiamento do National Institute of Mental Health (NIMH).

Interface do aplicativo Conemo

Heloísa é doutora e pós-doutora em Ciências pela Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo. “Coordenei o centro de análise de dados da pesquisa, ajudei a planejar os protocolos de coleta de dados e fui a responsável pelas análises das informações, com a ajuda de nosso estatístico e de professores de outras universidades no Brasil e no mundo”, explica.

Foram 1.312 participantes, 880 do Brasil e 432 de Lima (Peru), que utilizaram o aplicativo durante seis semanas. A coleta de dados durou aproximadamente dois anos, e no Brasil foi feita com pacientes voluntários de 20 unidades básicas de saúde (UBSs) da zona leste de São Paulo. Os participantes foram pessoas com hipertensão e diabetes que, de acordo com a enfermeira, são doenças crônicas e estão frequentemente associadas a sintomas depressivos. Foram incluídos 44 participantes de cada uma das 20 unidades de saúde.

Além da enfermeira Heloísa, outros profissionais da enfermagem ajudaram na fase de testes do aplicativo. “Eles participaram da intervenção, conversando com o paciente pelo aplicativo, ajudaram os voluntários a usar o Conemo e entender como ele funciona e observaram se os pacientes estavam em dia com as sessões, através de um sistema de controle que fazia parte do aplicativo”, disse.

Durante esse monitoramento com os pacientes, a equipe ligava algumas vezes pra lembrá-los de acessarem o aplicativo e, caso surgissem dúvidas referente à utilização da tecnologia, os pacientes podiam pedir ajuda. Todos os cuidados clínicos e de saúde mental eram encaminhados à equipe da UBS e o apoio era puramente tecnológico.

A conclusão foi de que o aplicativo foi capaz de reduzir sintomas depressivos nos participantes, após três meses da intervenção iniciar, mostrando-se como uma alternativa viável pra o cuidado de pessoas com sintomas depressivos. De acordo com Heloísa, os sintomas de depressão foram reduzidos em 50%. “Nós aplicamos uma escala que mede sintomas depressivos (PHQ9) em todos os pacientes, em momentos diferentes da pesquisa. Quando o escore era menor que 50%, comparado aos três meses iniciais, a gente considerava que esse paciente teve sucesso. Ou seja, melhora mínima de 50%. Muitos melhoraram mais do que isso, inclusive”, ressaltou.

No total, foram realizadas 19 sessões com o objetivo de lembrar ao participante o que ele gostava de fazer e motivá-lo a manter-se ativo. O foco era para que o paciente planejasse fazer o que gosta e fizesse mesmo estando desanimado. Fazendo isso, os sintomas depressivos reduzem ao longo do tempo. Essa prática é conhecida como Ativação Comportamental e é baseada em evidências, para o cuidado de sintomas depressivos.

“Acho que a tecnologia é nosso presente e futuro. Incluí-la no cuidado significa acessar mais gente. No SUS, nosso objetivo é cuidar de forma integral de todos, então acho que a capilaridade da UBS e a abrangência da tecnologia são ótimos aliados para alcançar as pessoas em sofrimento mental nas comunidades. Estamos agora atualizando o aplicativo para funcionar nos smartphones atuais e queremos, em no máximo 60 dias, deixá-lo disponível”, finalizou.