Semana da Enfermagem debate transformações trazidas pela pandemia e saúde mental dos profissionais

A programação científica da Semana da Enfermagem 2021 continua com atividades focadas no impacto que a pandemia trouxe aos profissionais de enfermagem. Na tarde desta terça-feira (18/5), a transmissão no canal do Coren-SP no YouTube foi sobre o tema: “Enfermagem: um olhar por trás da máscara – experiências de profissionais de enfermagem na pandemia”, em uma mesa-redonda moderada por Ana Lygia Pires Melaragno, membro da diretoria da ABEn-SP.

Nessa mesa, representantes de diversas especialidades fizeram palestras sobre o impacto da pandemia em seus cotidianos. O primeiro palestrante, representante da Terapia Intensiva, foi o enfermeiro Rennan Martins Ribeiro, atual presidente da Associação Brasileira de Enfermagem em Terapia Intensiva (Abenti).

Rennan, coordenador na UTI do Hospital São Paulo, na capital, falou sobre algumas transformações nesse serviço por conta da pandemia: “O começo da pandemia foi uma loucura em todos os sentidos, tivemos que revisar todos os nossos processos de trabalho. Por exemplo, tivemos que abolir papel para diminuir a possibilidade de contaminação, implantando nossos prontuários em sistema 100% eletrônicos. Tivemos que revisar os processos todos de trabalho e pensamos em novas estratégias como o uso de rádios e lousas para comunicação entre membros da equipe”.

Palestrante Rennan Martins Ribeiro, do Hospital São Paulo

O próximo palestrante foi o enfermeiro Paulo Fernando Barcelos Borges, representante da gestão pública e da Atenção Primária. Paulo é diretor municipal de saúde da cidade de Getulina. “Enfrentar a pandemia talvez tenha sido de fato o maior desafio que os gestores atuais tenham enfrentado. Esse desafio também trouxe diversas experiências”, afirmou.

Na visão de Paulo, o papel do gestor público durante a pandemia pode ser estruturado em três grandes pilares: “A articulação de gestores, serviços e políticas; as políticas de enfrentamento à Covid-19 e as ações assistenciais de enfrentamento à Covid-19”.

Ele lembrou da grande importância da Atenção Básica na contenção da pandemia: “Os municípios com melhores coberturas de Atenção Básica foram capazes de ter menores taxas de letalidade e mortalidade pela Covid-19”.

A terceira palestrante da tarde foi a enfermeira Maria de Fátima Paiva Brito, representando a Atenção Primária. Ela é coordenadora do núcleo de segurança do paciente da Secretaria Municipal de Saúde de Ribeirão Preto. “A pandemia nos trouxe incertezas, a calamidade instalada, crises políticas, de saúde, econômicas e sanitárias” disse, destacando a amplitude do impacto trazido pela Covid-19.

“O número da força de trabalho da enfermagem no mundo mostra claramente que são esses profissionais que respondem às amplas necessidades da população”, afirmou. Na opinião dela, o papel dos profissionais de enfermagem tem sido fundamental no combate à Covid-19. “O cuidar de enfermagem é uma ação substantiva nos mais variados níveis de atenção”.

A rodada de palestras da atividade foram encerradas pela exposição de Elaine Boreli Gianini de Faria. Funcionária do Samu de São José do Rio Preto, ela representou o Atendimento Pré-hospitalar nas discussões. “No início da pandemia não tínhamos noção dos riscos e do perigo e agora o vírus estava próximo de nós. Adequamos as ambulâncias do Samu em conjunto com toda a equipe de enfermagem, criamos protocolos, fluxos de rotina de atendimento e limpeza de ambulâncias, e capacitações in loco e online de nossos funcionários para passar toda essa rotina”, contou.

Componentes da mesa-redonda Enfermagem: Um olhar por trás da máscara – Experiências de profissionais de enfermagem na pandemia da Covid-19

“Atuando com esses pacientes eu tinha medo de levar contaminação para casa, para minha família e tudo isso mexeu muito com nosso emocional. O distanciamento foi necessário, tive que me distanciar dos meus filhos e não ir visitar mais minha mãe. Foi um momento de angústia por ter me ausentado dos contatos com as pessoas que conviviam comigo no meu dia a dia”, compartilhou.

Após as apresentações, a moderadora Ana Lygia parabenizou os palestrantes e o público que assistiu à mesa-redonda: “Vamos comemorar nosso dia. Nós estamos por trás das máscaras e estamos na linha de frente e isso não é agora, mesmo antes da pandemia já estávamos lá. Parabéns a todos nós pela nossa semana”

No período da noite, a conselheira Vanessa Maldonado moderou a atividade “Projeto Cuidando de Quem Cuida e saúde mental de profissionais de enfermagem no contexto da pandemia”. A vice-presidente do Coren-SP, Erica Chagas, falou sobre a saúde mental do profissional de enfermagem no atual contexto, baseada em uma sondagem realizada pelo Coren-SP e pela Unoeste no fim de 2020.

Conselheira Vanessa Maldonado e a conselheira e palestrante Erica Chagas

“A saúde mental vem com a predisposição do indivíduo em se perceber, em saber lidar com seu estresse, com as adversidades e trabalhar produtivamente e poder contribuir”, afirmou Erica, ao definir o que é uma boa saúde mental, baseada em conceitos trazidos pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

Ela falou também sobre o projeto Cuidando de Quem Cuida, no qual o Coren-SP dá ferramentas de autopromoção da saúde para os profissionais de enfermagem. “Nossa premissa é fortalecer as forças que geram saúde, acolhendo só profissionais e dando ferramentas para que eles façam esse cuidado”, disse.

Palestrante Maria do Perpétuo Socorro Nóbrega

A segunda palestrante da mesa foi a professora Maria do Perpétuo Socorro de Sousa Nóbrega, da Escola de Enfermagem da USP. A enfermeira, especialista em saúde mental, falou sobre o impacto da pandemia na saúde mental dos profissionais de enfermagem. Ela trouxe para a discussão um estudo realizado sobre o tema, denominado “Vida Mental”. ”O estudo mostrou que 27,4% dos participantes vivenciaram o luto em relação a algum familiar, amigo, colega de trabalho ou vizinho em razão da Covid-19”, destacou. O estudo também mostrou que 52,3% dos participantes tomaram medidas para cuidar da sua saúde mental.

“Profissionais que relataram ter pessoas próximas falecidas em decorrência da Covid-19 faz com que tenham maiores escores na escala de adoecimento mental que utilizamos”, afirmou na conclusão da apresentação.