Os cuidados contra lesões em recuperados da Covid-19

As lesões por pressão têm sido uma das sequelas observadas por profissionais de enfermagem nos pacientes que se recuperam da Covid-19.

A causa dessas lesões é o tempo de internação em posição de decúbito – muitos pacientes, por exemplo, chegam a ficar mais de 40 dias internados em UTIs. Curados da Covid-19, eles ainda têm que lutar contra as sequelas da doença e da internação, que vão de sintomas neurológicos à perda de força muscular e às lesões por pressão.

Sônia Regina Pérez Evangelista Dantas

As enfermeiras Sônia Regina Pérez Evangelista Dantas e Ednalda Maria Franck, respectivamente presidente e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Enfermagem em Estomaterapia (Sobest), desvendam algumas da razões dessas lesões nesses pacientes em um texto assinado por ambas, que detalha que “diversos fatores de risco para a lesão por pressão são encontrados nas formas graves da Covid-19: mobilidade e atividade limitadas, atrito e cisalhamento da pele no reposicionamento, incontinência urinária e anal, deficiência de perfusão e circulação, déficit de oxigenação, necessidade de permanência em posição prona, uso de dispositivos de assistência ventilatória, dias de internação na UTI, estado nutricional prejudicado, comorbidades e uso de medicamentos vasopressores”.

Ednalda Maria Franck

A auxiliar de enfermagem Adriana Sangiacomo Dias, que trabalha em um serviço de assistência domiciliar no Guarujá, tem visto com frequência as lesões por pressão em seus pacientes recém-recuperados da Covid-19. “Com a situação atual causada pela pandemia, está havendo escassez de profissionais de enfermagem dedicados ao cuidado de mudar o paciente de decúbito a cada 2 horas. Quando esses pacientes chegam até nós, temos observado muitas lesões de pele”, alerta Adriana.

Adriana Sangiacomo Dias

Sônia Evangelista e Ednalda Franck orientam como esses casos devem ser tratados e encaminhados, inclusive antes da alta dos pacientes: “Orientações para o tratamento de uma pessoa com lesão por pressão ambiente domiciliar dependem do número, estágio, extensão e localização da lesão; das condições clínicas do paciente com relação à autonomia para mobilidade, alimentação e hidratação; da capacidade e habilidade para o autocuidado; das características da lesão e das condições psicossociais dessa pessoa e seus familiares e/ou cuidadores. O enfermeiro deve assumir o planejamento de alta hospitalar de forma individualizada e compartilhada para o autocuidado, envolvendo o paciente, familiares ou cuidadores como corresponsáveis pelo compromisso com os cuidados. É de sua responsabilidade a contra referência para monitoramento e avaliação da lesão de acordo com sua complexidade, buscando assegurar a continuidade e qualidade desse tratamento”, escrevem.

Já Adriana atesta que não é raro ver pacientes receberem alta sem esse planejamento que Sônia e Ednalda mencionam: “Muitas vezes esse paciente não vai para casa com um plano de cuidado. Muitos entram com cilindro de oxigênio em casa, necessitando de fisioterapia respiratória e vários cuidados que não acabam tendo. A família tem que estar orientada; temos que treinar o familiar a lidar com o cilindro, por exemplo”.

Dicas de cuidado

Ana Paula Guarnieri, conselheira do Coren-SP e enfermeira estomaterapeuta, sugere algumas dicas de práticas assistenciais a serem adotadas durante a internação que podem prevenir as lesões de pele: “A prevenção é a descompressão em áreas de saliência óssea, a utilização de tecnologia para reduzir o atrito com a pele e hidratar bem a pele. Se acontecer de abrir a lesão, é necessário tratamento assertivo”, diz.

Ana Paula Guarnieri

As tecnologias a que ela se refere são os hidropolímeros que auxiliam a descompressão da pele dos pacientes em decúbito, os biofilmes para diminuir o atrito e o uso de hidratantes. “Na hora de dar banho no paciente, é importante se atentar a não tirar toda a oleosidade natural da pele”, frisa Ana Paula.

As representantes da Sobest destacam a importância da avaliação caso a caso desses pacientes, para que o tratamento das lesões seja o mais eficiente possível: “Nesse processo de alta hospitalar, as orientações para realização de curativos e cuidados domiciliares necessários para a cicatrização da lesão por pressão devem ser estabelecidas por meio da avaliação das necessidades integrais do paciente e disponibilidade de recursos materiais e humanos. Considerando que o tratamento da lesão é um processo dinâmico, o paciente deve ser acompanhado por um enfermeiro no serviço de atenção primária ou especializado à saúde, que será o responsável pela avaliação, documentação e modificação do tratamento, se necessário. Ressaltamos que o uso da Sistematização da Assistência de Enfermagem nos garante tomadas de decisões baseadas nas melhores práticas, por meio da organização da equipe de enfermagem e operacionalização do processo de trabalho”.