Enfermeira realiza trabalho de pós-doutorado sobre o bullying com crianças e adolescentes

Docente na área da saúde coletiva e com uma vasta experiência na Estratégia Saúde da Família (ESF), a enfermeira Pamela Lamarca Pigozi desenvolveu um trabalho de pesquisa de pós-doutorado sobre como o bullying pode afetar a vida das crianças e adolescentes em meio ao ambiente em que eles vivem, principalmente, no escolar.

A enfermeira Pamela Lamarca Pigozi

De acordo com a profissional, por meio dos dispositivos de acolhimento e a consulta de enfermagem, ela pôde perceber com certa frequência que alguns adolescentes, acompanhados de seus pais, procuraram a unidade de saúde apresentando variados sintomas, como profunda tristeza e desinteresse pela escola, decorrentes do mal-estar vivido nas escolas.

Pamela diz que observava a existência de um sofrimento psíquico em decorrência do desrespeito e discriminação sofridos pelos colegas dentro daquele cenário. Diante disso, a cada consulta com esse teor de tensão, ela se perguntava o motivo desses adolescentes estarem experimentando situações de dor emocional de forma tão frequente.

“Eu me perguntava o porquê de tanto sofrimento emocional durante a adolescência. Seria essa dor clara em seus olhos inerente a uma fase da adolescência? Estaria a saúde emocional e mental desses adolescentes sendo afetada? O comportamento desses colegas deveria ser encarado como normal, ‘birra’ de adolescentes? E qual o papel da escola diante dessa situação conflituosa? E o meu posicionamento como enfermeira qual seria?”, questionava.

A enfermeira passou a se sentir incomodada e desconfortável com essas situações a ponto de começar a querer compreender e se instrumentalizar para amparar esses adolescentes, os pais e a escola da área de abrangência da unidade na qual ela trabalhava. “O bullying é considerado um tipo de comportamento agressivo, repetitivo e com assimetria de poder que ocorre entre pares. Acontece predominantemente no ambiente escolar e com mais frequência entre crianças e adolescentes. Suas consequências podem ser devastadoras à saúde mental dos estudantes, e a depressão tem se mostrado a mais importante dentre elas. Além disso, depois de anos de sofrimento, as vítimas tendem à automutilação. O suicídio, embora raro, pode também ser resultado das repetitivas agressões”, explica.

Grupo de trabalho multiprofissional

Para a profissional, um dos desafios de trabalhar com o tema bullying é usar uma metodologia que seja capaz de favorecer a co-construção do conhecimento entre escola, saúde e comunidade e, paralelamente, impactar na diminuição da ocorrência do bullying escolar, visando à complexidade e a multicausalidade que incorpora o fenômeno.  

O enfoque metodológico utilizado foi a Pesquisa Participativa Baseada na Comunidade (CBPR – Community Based Participatory Research), a qual tem como cerne favorecer as vozes da comunidade dentro da pesquisa e intervir baseada nas reais necessidades locais com forte participação comunitária. A pesquisa foi desenvolvida no município de Juquitiba, no interior de São Paulo, na escola “E.E. Bairro Nossa Senhora da Conceição” e contou com a participação de dez educadores, 150 alunos, oito agentes comunitários de saúde e dois enfermeiros.

Fase de cocriação das estratégias com os profissionais da saúde e educadores

Como resultado deste processo entre saúde e escola, três estratégias foram pensadas para fortalecer o protagonismo dos estudantes: o jornal comunitário, as rodas de conversas e a caixa de diálogo. “É importante destacar que o cerne do projeto foi a não naturalização da violência e, apesar de o tema da violência ser desafiador, o compromisso coletivo dos profissionais envolvidos no cuidado à saúde mental dos adolescentes foi um ponto chave desse processo”, analisa.

Confecção da caixa de diálogo

Elaboração do jornal comunitário que contou com a participação de todos

Além disso, Pamela ainda afirma que políticas que não fortaleçam a multiprofissionalidade no cenário da Atenção Primária podem fragilizar ações e estratégias relacionadas a esta temática. Ela também destaca que trabalhar com violências escolares exige o fortalecimento robusto e repetitivo das parcerias entre a comunidade, a escola, o serviço de saúde, os pais, os adolescentes, as universidades, o conselho tutelar, dentre outros parceiros.

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