Seminário do COREN-SP sobre APH reúne mais de mil profissionais no estado

A segunda edição do Cape Itinerante reuniu cerca de mil pessoas em todo o estado para assistir ao seminário “Assistência Pré-Hospitalar”. Ocorrido no auditório da Unip de Santos nesta terça-feira, dia 26, o evento foi transmitido simultaneamente pela internet e para auditórios nas cidades onde o COREN-SP tem subseções (Araçatuba, Campinas, Ribeirão Preto, Marília, Presidente Prudente) e no CAPE, em São Paulo.

O seminário durou o dia todo e contou com palestras sobre legislação em APH, novas diretrizes do atendimento de suporte básico e avançado de vida, atendimento ao politraumatizado, práticas de RCP e atuação em acidentes com múltiplas vítimas. Em vários momentos, foram feitas simulações com os bonecos cedidos pela empresa Anatomic.

A abertura coube ao presidente do COREN-SP, Cláudio Porto, que falou sobre novas legislações para a Enfermagem em APH, principalmente a resolução 375/2011 do COFEN. Agora, a assistência só pode ser feita na presença de enfermeiro, sob sua supervisão direta. Cláudio também lembrou a importância de atentar para estas normas orientadoras e fazer a anotação detalhada de todos os procedimentos para se proteger e evitar erros e imperícia. “O enfermeiro precisa refletir, assumir e evoluir para fazer valer este papel decisório designado por lei”, disse.

O ponto alto do evento foram as palestras do enfermeiro Roberto Castro, vice-presidente do Cobeem (Colégio Brasileiro de Enfermagem em Emergência), intervencionista do SAMU de Diadema e professor universitário. Ele começou com as novas diretrizes para atendimento de parada cardiorrespiratória, as chamadas “guidelines AHA 2010” (link para http://www.heart.org/idc/groups/heart-public/@wcm/@ecc/documents/downloadable/ucm_317343.pdf), válidas até 2015. Como no Brasil a taxa de mortes por ano é alta – 300 mil, segundo o DataSus, é preciso que os profissionais intervenham mais precocemente. Uma das principais mudanças nas diretrizes foi a constatação de que a respiração boca a boca não tem trazido muitos benefícios à vítima. Por isso, bastam manobras eficientes de RCP.

Segundo Roberto, o grupo ideal para fazer este atendimento é de três a quatro profissionais. O primeiro socorrista avalia o nível de consciência e os sinais de vida para começar as manobras de RCP, e faz a compressão cardíaca externa. O segundo socorrista faz a ventilação, enquanto o terceiro punciona o acesso venoso, prepara medicações e instala o soro. Finalmente, o médico avalia o paciente.

Para a manutenção vital básica, é preciso seguir o chamado CAB, sendo C para compressões torácicas externas, A para ventilações e B para respiração. “É mais importante comprimir que ventilar”, disse Roberto. Para adultos, são trinta compressões e duas ventilações, com um mínimo de 100 compressões por minuto. A cada dois minutos, deve-se trocar o profissional para manter a eficiência do procedimento.

Em seguida, quando chegar o desfibrilador, as compressões devem ser suspensas. Após esta introdução, o enfermeiro explicou que o pulso a ser detectado deve ser o carotídeo, e não o periférico. Além disso, esta operação não deve levar mais que dez segundos.

Atenção ao trauma

Na parte da tarde, Roberto falou sobre o atendimento ao politraumatizado. Diferente do paciente com parada cardíaca, que deve ter o problema resolvido na cena em que atua o profissional de APH, o êxito no socorro do politraumatizado é obtido na internação. Portanto, o APH deve minimizar os danos, estabilizar a vítima e dar condições de transporte. Segundo o palestrante, de cada dez ocorrências de emergência, três são traumáticas – o restante são clínicas.

O socorrista do SAMU explicou que o primeiro passo é escalonar a gravidade do estado da vítima, de acordo com a escala de coma de Glasgow, usada para traumas cranioencefálicos. Os critérios utilizados são abertura ocular, resposta verbal e resposta motora. Para identificar as condições de risco de vida, o profissional deve usar o ABCDE do trauma, preconizado pelo ATLS: A (vias aéreas, com imobilização da coluna), B (respiração), C (circulação e controle de hemorragia), D (incapacidade: estado neurológico), E (exposição / controle ambiental: despir o paciente, prevenir a hipotermia).

Segundo Roberto, as condições rapidamente fatais se referem às primeiras letras: ventilação e circulação inadequadas.
Enquanto isso, a equipe deve ficar atenta aos riscos da cena e sinalizar o local para proteger os socorristas, eventuais curiosos e até as próprias vítimas. “Cerca de 90% das ações de emergência são responsabilidade da Enfermagem, por isso, precisamos checar tudo”, disse.

Desastres e catástrofes

O encerramento do seminário coube ao professor Marcelo Carvalho, enfermeiro da Unifesp, que falou sobre acidentes com múltiplas vítimas. Geralmente são desastres ou catástrofes súbitas com no mínimo cinco vítimas, que exigem grande esforço da equipe de Enfermagem e até auxílio externo. “No atendimento normal, o profissional pensa no que é melhor para aquele paciente, enquanto num desastre ele precisa pensar no que é melhor para todos”, disse.

Assim que a equipe chega ao local, deve avaliar se os recursos são suficientes para atender todas as vítimas. Se forem, as equipes devem ser distribuídas segundo as prioridades. Em seguida, uma delas deve avaliar a cena, a segurança e a situação, para então informar à central o tipo de evento e o número de vítimas.

Para atender com mais eficiência, é fundamental fazer a triagem chamada START, que classifica as vítimas em quatro graus de prioridade para tratamento e transporte. Em ordem de atenção, a categoria preta inclui óbito e poucas chances de vida. A vermelha exige atenção imediata, enquanto a amarela também exige atenção, mas mais atrasada. Finalmente, a verde inclui pequenas lesões e vítimas desorientadas. “Não seguir esta triagem pode prejudicar toda a coletividade”, disse Marcelo.