Projeto desenvolvido por enfermeiro em Paraisópolis incentiva homens a cuidarem da saúde

É uma tarde de terça-feira (19/11), véspera de feriado, e um grupo de 16 homens se reúne em um bar na comunidade de Paraisópolis, uma das duas maiores da cidade de São Paulo.

Semanalmente, o enfermeiro Francisco se reúne com homens de Paraisópolis para falar sobre saúde

Os homens conversam sobre diabetes, tendo o enfermeiro Francisco Paiva como figura central. Ele fornece explicações sobre as doenças e relaciona os cuidados de saúde ao dia a dia dos moradores, até que um dos homens lança no ar a seguinte pergunta: “O que eu queria saber é se posso tomar cachaça mesmo tendo diabetes”.

Todos riem, inclusive Francisco.

A partir desse ponto, o foco da conversa se desvia para o alcoolismo e o uso de outras drogas. Os homens tiram suas dúvidas e um deles chega a se abrir sobre seus problemas, contando sua vivência como dependente de álcool e narcóticos, sendo devidamente aconselhado e encaminhado pelo enfermeiro Francisco, que promete auxiliá-lo. Os outros moradores de Paraisópolis que participam do encontro também prometem apoiar o rapaz em sua luta contra o vício.

A abordagem utilizada pelo profissional promove reflexões entre a população

Esse é o projeto “Papo de Boteco”, criado por Francisco em 2013, e que percorre os bares de Paraisópolis para conversas mensais sobre saúde com os homens da comunidade, conforme mostramos na edição 23 da EnfermagemRevista, publicada há um ano atrás.

Nesse tempo, o projeto cresceu ainda mais, tornando-se importante referência em saúde do homem dentro da comunidade.

Membros da equipe da UBS Paraisópolis II aproveitam o “Papo de Boteco” para fazer exames de sangue nos homens

Depois da reunião, enquanto outros profissionais de saúde da UBS Paraisópolis II colhiam exames rápidos de sangue dos homens, Francisco falou um pouco sobre o método que tem utilizado e alguns dos objetivos do projeto: “Você vê que começamos falando sobre doenças crônicas não transmissíveis e depois falamos sobre álcool e outras drogas. Eu sou apenas um mediador”, explicou o enfermeiro.

Por conta do projeto “Papo de Boteco”, José Ailton renovou suas esperanças na luta contra o vício em álcool e outras drogas

Um exemplo do bom resultado da metodologia proposta pelo enfermeiro pôde ser acompanhado por meio do caso de José Ailton de Paula, morador de Paraisópolis. Ele foi o participante do “Papo de Boteco” que se abriu e falou sobre seu vício em álcool de drogas. “Eu perdi minha família, perdi meu emprego, perdi quase tudo e só quero ser feliz. Só espero ajuda para ver se saio desse vício do álcool e das drogas”, disse. Ele se comprometeu a procurar Francisco na UBS Paraisópolis II, onde será auxiliado.

Valdemir Trindade, que é conselheiro de saúde em Paraisópolis, percebe os benefícios que o projeto do enfermeiro Francisco trouxe à comunidade

Valdemir José Trindade, conselheiro de saúde em Paraisópolis, diz que o impacto positivo que o projeto traz para a comunidade vai além dos homens diretamente atingidos, pois eles se tornam multiplicadores de informação. “Acho que temos que começar lá na base, com a criança. Às vezes nos esquecemos de falar com nossos filhos sobre saúde. Esse projeto tem uma importância grande porque realmente abriu a cabeça de nós, homens”, disse.

Francisco concorda que o maior objetivo do projeto está muito além do resultado imediato. O que ele tenta fazer é promover transformações estruturais e duradouras em toda a comunidade. “Dar resposta pronta é muito fácil, fica com cara de palestra, mas à medida que promovemos reflexões para essas pessoas, a história é outra, pois estamos falando de realmente tratar as vulnerabilidades sociais como um todo”, conta.

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