Noções de segurança do paciente devem começar na formação do profissional

É preciso começar na graduação a propagar a cultura da segurança. Este é o posicionamento da Drª Maria Angélica Peterlini, professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). “É fundamental que iniciemos este trabalho ainda na formação do profissional da área de saúde, que começa a tomar contato com a realidade depois de formado e não tem conhecimento suficiente para compreender o que lhe é apresentado, sentindo-se pressionado e até desrespeitado”, afirma.

O importante é passar ao aluno a cultura de que errar é humano, principalmente quando se realiza muitas vezes a mesma atividade, cansado, com poucos profissionais, sem material adequado.

Segundo Maria Angélica, a segurança do paciente não é abordada como disciplina específica na maioria das escolas. O mais frequente é incluir a temática dentro de outras disciplinas, como saúde do adulto, da criança etc. “A segurança do paciente está sendo instituída, às vezes como uma aula, às vezes como conceitos e informações nas aulas. Mas muitas escolas estão reestruturando seus currículos, e a segurança do paciente deve ter outro enfoque”.

No entanto, com as campanhas realizadas pelo COREN-SP, a especialista diz acreditar que o movimento existente hoje já é positivo. “Até há pouco tempo, creio que muitos problemas de segurança aconteciam em parte pela falta de formação na graduação, mas hoje isso tem se modificado bastante”, diz Maria Angélica.

Ausência de atividades práticas facilita erros do futuro profissional

A professora defende uma abordagem ampla do tema nos cursos de graduação. “A segurança do paciente deve ser abordada em todas as disciplinas, não apenas naquelas em que o aluno tem contato na parte hospitalar”. Para a doutora, um bom momento seria quando o aluno vai para a prática, aprendendo práticas seguras como a identificação do paciente e o cuidado limpo.

O problema é que muitas escolas não têm a prática, só a teoria e discussão de casos. Como o aluno não vivencia a execução dos procedimentos, a abordagem do paciente e a execução do cuidar, não será um bom profissional, o que facilita o erro. “Se o aluno só viu na teoria ou na prática com um boneco como preparar e administrar um medicamento e puncionar uma veia, quando ele tem um paciente de verdade, o estresse e o nervosismo podem levar ao erro”, explica a docente.

Quando o estudante iniciar a vida profissional, já deve ter a consciência de que todas as suas ações com o paciente são uma questão de segurança. Deve saber que um cuidado seguro, correto e baseado em evidências é fundamental para que o paciente não corra riscos. “O aluno deve ser informado de que o erro não é do indivíduo, mas resulta da falta da cultura da segurança”, diz Maria Angélica.

Na Unifesp, a segurança do paciente começa no segundo e terceiro anos de graduação como aula. Na enfermagem pediátrica, é uma abordagem mais geral. “Os alunos ficam assustados no começo, mas a receptividade é boa, eles são abertos ao tema e querem que ele siga adiante”, afirma a professora.

Para utilização na sala de aula, a professora da Unifesp sugere a utilização do material “Os dez passos para a segurança do paciente”, publicado pelo COREN-SP. A literatura sobre o tema está se ampliando, com diversos registros de ocorrência de erros e estratégias de prevenção.
A segurança do paciente não deve fazer parte apenas dos currículos de graduação. A formação dos técnicos e auxiliares também deve contemplar o tema. A Rede Brasileira de Enfermagem e Segurança do Paciente está investigando a abordagem nessas escolas. Existe até a ideia de criar um selo para as instituições (em nível médio e superior) que se preocupam com a segurança.