Fórum COREN-SP e AMB: atendimento de catástrofes exige integração de profissionais

O 2º Fórum de Enfermagem do Coren-SP e 1º Fórum Brasileiro de Medicina da AMB seguiu na tarde desta terça-feira (4/10) com cinco apresentações sobre atuação da equipe de saúde em desastres.

Os participantes destacaram a importância do esforço integrado das equipes profissionais, além da difusão de informações para a população civil, para que ela participe ativamente do socorro a vítimas.

Os dois convidados internacionais, James J. James e e Italo Subbarao, da American Medical Association (AMA), iniciaram as apresentações.

De acordo com James, 80% dos médicos consideram que têm a obrigação de socorrer pessoas em grandes catástrofes, mas apenas 20% se acham capacitados para tanto. “Todos nós da área de saúde temos este ideal de cuidar não somente de nossos pacientes, mas também da população”, afirmou ele. Contudo, não há, apesar do diálogo entre as disciplinas, real integração de ações. “Ainda trabalhamos separados”, disse James. “É preciso dar um passo à frente. Este é um esporte coletivo, não um esporte individual”.

Acesso rápido a dados epidemiológicos, evacuação rápida e ordenada, planejamento integrado, além de preparação psicológica, são essenciais para o atendimento de catástrofes. Também é preciso organizar muito bem o pessoal, principalmente composto de voluntários, que atende as calamidades. A AMA desenvolve atualmente o Secure Health Information Care, cartão que carrega todas as informações do profissional –e também as da pessoa comum. O chip do cartão armazena todos os dados básicos da pessoa, como endereço e filiação, e seus registros de saúde, como medicamentos em uso e contraindicações. Isso facilita o trabalho de atendimento de pessoas inconscientes ou em choque. “É necessário também um banco com o registro de especialistas que possam responder a um chamado de emergência de acordo com sua área de residência e sua especialidade”, afirmou James.

Na sequëncia, Italo Subbarao apresentou detalhes do programa Citizen Ready, voltado à educação da população americana para possíveis desastres, como furações, enchentes e bombardeios. De acordo com ele, população treinada resulta em maior eficiência e rapidez no atendimento de catástrofes. “Cerca de 50% das vítimas de catástrofe são salvas pelo vizinho, e não pelas equipes médicas”, afirma ele.

De acordo com Italo, ao educar o público, “é importante que o profissional de saúde foque sempre nos princípios gerais”, que os ensine a usar material de proteção individual, as noções de primeiros socorros e ressuscitação cardiorrespiratória, que oriente as pessoas a estarem alertas e a não arriscar suas vidas para salvar a vida de outras durante a evacuação.

Dentro da realidade brasileira, o Tenente Coronel Roberto Bentes Batista, analisou a experiência do Serviço de Saúde do Exército Brasileiro no Haiti e suas dificuldades com logística de material e atendimento em uma situação limite. Ele chamou a atenção para a grande importância de estar preparado para enfrentar a crise. “Pelo despreparo, podemos deixar de prestar socorro a quem precisa”, disse ele.

O Capitão Miguel Jolas, do Corpo de Bombeiros do Estado de São Paulo, chamou a atenção para o estado do sistema pré-hospitalar e para a proximidade de dois grandes eventos: a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016. “Raramente conversamos, raramente treinamos juntos, definimos planos de ação conjunta. Na hora do desastre, o jeitinho brasileiro não dá certo”, afirma ele.

De acordo com Miguel, “na prática, o sistema Samu/Bombeiros supre as faltas do sistema pré-hospitalar de São Paulo”. Por ano, cerca de 900 mil vítimas de acidentes são resgatadas pelo Corpo de Bombeiros. A maior dificuldade dos resgates no Brasil é tirar as pessoas de suas casas, situação visível em enchentes. “Sem levar informações a essas pessoas, não consigo evacuar uma cidade, como fazem os americanos em caso de furacão”, disse ele.

Claus Zilfried, diretor geral do Samu na cidade de São Paulo, encerrou as apresentações, observando que, mesmo com todas as dificuldades e dentro das limitações do Samu, o atendimento a múltiplas vítimas é bem sucedido. De acordo com ele, o desastre acontece por definição quando todos os recursos de uma equipe são superados pelo sinistro e é necessário o seu uso seletivo. O objetivo principal é socorrer todas as vítimas.

Isso exige uma mudança no pensamento do profissional. Em vez de alocar todos os recursos no paciente mais grave, você precisa aplicar seus recursos para salvar o maior número possível de vidas.