Cartilha orienta profissional de saúde no atendimento a mulheres vítimas de violência doméstica

A Faculdade de Medicina da USP criou um documento que faz parte do Projeto Gênero, Violência e Direitos Humanos – Novas Questões para o Campo da Saúde, que aborda o tema da violência doméstica contra a mulher. Além de informações, a cartilha “O que devem saber os profissionais de saúde para promover os direitos e a saúde da mulher em situações de violência doméstica” dá dicas para o profissional da saúde sobre como lidar com a vítima.

Na cartilha são apresentados os motivos pelos quais a mulher não conta que sofreu violência, e entre eles estão a vergonha, culpa, temor pela sua segurança ou pela de seus entes queridos, entre outros. E também citados os principais motivos pelos quais os profissionais da saúde não perguntam: acreditam que violência doméstica não é um problema da área da saúde, alguns acham que a mulher merece ou pede o abuso, caso contrário já teria se separado, acham que a violência é um problema pessoal, e podem ofender a mulher caso perguntem, têm medo de represálias por parte do agressor, etc.

A violência doméstica é a mais frequente forma de opressão sofrida pelas mulheres. Cerca de 30% em idade fértil são vítimas, porém, das que frequentam serviços de saúde em busca de tratamento ou ajuda, poucas têm seus casos notificados. Os profissionais da saúde que atendem vítimas e atestam casos ainda têm receio de denunciar.

Estudos científicos de universidades brasileiras apontam que, em média, seis em cada dez profissionais que identificam violações durante atendimento se omitem e não encaminham a denúncia aos órgãos competentes. O principal motivo é o medo de retaliação por parte dos agressores.

Suspeitando do problema

Segundo a cartilha, alguns sintomas mostram-se consistentemente associados com a violência contra a mulher e podem servir de critério para identificar as possíveis vítimas:

  • transtornos crônicos;
  • entrada tardia no pré-natal;
  • companheiro muito controlador, reage quando separado da mulher;
  • infecção urinaria de repetição (sem causa secundaria encontrada);
  • dor pélvica crônica;
  • síndrome do intestino irritável;
  • transtornos na sexualidade;
  • complicações em gestações anteriores, abortos de repetição;
  • depressão;
  • ansiedade;
  • histórico de tentativa de suicídio;
  • lesões físicas que não se explicam de forma adequada.

Quando houver algum destes sintomas, deve-se suspeitar do problema e introduzir ativamente o assunto. As perguntas abaixo podem ser feitas também a outras pessoas que por um motivo ou outro pareçam estar ou ter estado em situação de violência:

Perguntando indiretamente

  • Está tudo bem em sua casa, com seu companheiro?
  • Você está com problemas no relacionamento familiar?
  • Você se sente humilhada ou agredida?
  • Você acha que os problemas em casa estão afetando sua saúde?
  • Você e seu marido (ou filho, pai ou familiar) brigam muito?
  • Quando vocês discutem, ele fica agressivo?

Perguntando diretamente

  • Como você deve saber, hoje em dia não é raro escutarmos sobre pessoas que foram agredidas física, psicológica ou sexualmente ao longo de suas vidas, e sabemos que isto pode afetar a saúde mesmo anos mais tarde. Isto já aconteceu alguma vez com você?
  • Já vi problemas como o seu em pessoas que são fisicamente agredidas. Isto já aconteceu com você?
  • Alguém lhe bate?
  • Você já foi forçada a ter relações com alguém?

Quando há a suspeita, diversos estudos sustentam que a pergunta, direta ou indireta, é a melhor estratégia. Se a pessoa não estiver nesta situação, ela responderá com tranquilidade e perceberá a importância da pergunta para o coletivo de mulheres, desde que suficientemente esclarecida. Se a mulher negar e você estiver convencido de que não é verdade, respeite! É bom que ela saiba que estamos dispostos a ajudá-la.

A queixa mais apresentada pelas mulheres que sofrem violência é a dor crônica em qualquer parte do corpo ou mesmo sem localização precisa. É a dor que não tem nome ou lugar.