Atuação do enfermeiro garante a segurança do paciente na terapia transfusional

No Brasil a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) é a responsável pela normatização das atividades de hemoterapia. Através da Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) 153 de 14/06/2004, a Anvisa determina o regulamento sanitário para os serviços que desenvolvem atividades relacionadas ao ciclo produtivo do sangue humano, componentes e procedimentos transfusionais, incluindo captação de doadores, coleta, processamento, exames realizados, armazenamento, distribuição, transporte, transfusão, controle de qualidade e proteção ao doador e receptor, em todo o território nacional.

Em 2006, o COFEN, através da Resolução 306, normatizou as atividades de enfermagem em hemoterapia, determinando as atribuições do enfermeiro que consiste em planejar, executar e coordenar a assistência de enfermagem assegurando a qualidade do processo em todo procedimento. A mesma resolução explicita que as atribuições dos profissionais de enfermagem de nível médio serão desenvolvidas de acordo com a Lei do Exercício Profissional, sob a supervisão e orientação do enfermeiro ou responsável técnico do serviço ou setor de hemoterapia.

Com ampla experiência na área Leandro Ramos dos Santos trabalhou por nove anos na Fundação Pró Sangue Hemocentro de São Paulo no setor de transfusão e hoje é enfermeiro do Setor de Transfusão do banco de sangue do Hospital Israelita Albert Einstein e do Ambulatório de Infusão Terapêutica (hospital dia) do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp). Leandro destaca que o enfermeiro tem uma grande atuação no banco de sangue podendo participar de diversas atividades como triagem clínica de doadores, coleta de sangue de doadores seja pelo método manual ou automatizado por aférese, sangria terapêutica, coleta de sangue do cordão umbilical e placenta em centro obstétrico para possíveis transplantes, auxiliar equipe médica na aspiração e coleta de medula óssea em centro cirúrgico, coleta de granulócitos e infusão, na realização de procedimentos de Plasmaférese, Fotoaférese, Leucoaférese, Eritrocitaférese, transfusão dos hemocomponentes, manipulação de máquina para recuperação intra-operatória Cell-Saver em centro cirúrgico e nos procedimento de Hemodiluição. “Vale ressaltar que todas estas atividades são realizadas sempre com supervisão médica ou do responsável técnico pelo serviço” explica.

O enfermeiro também é fundamental nas transfusões de hemocomponentes, procedimento rotineiro de um banco de sangue, pois toda transfusão envolve riscos e o papel do enfermeiro neste processo é muito importante não só para garantir uma assistência segura ao paciente como também na qualidade dos componentes sanguíneos durante sua infusão.

Etapas

O processo hemoterapêutico começa na triagem clinica do doador de sangue e só termina após o sangue transfundido. Depois da doação, o sangue é encaminhado para o setor de processamento onde os hemocomponentes (hemácias, plaquetas, plasma e criopreciptado) são separados. Este procedimento permite que somente o componente necessário seja transfundido no paciente. Ao mesmo tempo, amostras que foram coletadas do doador no final ou inicio da doação são encaminhadas para o setor de sorologia, onde são realizados testes sorológicos para as doenças transmissíveis pelo sangue, e para o setor de imunohematologia, onde é realizado de tipagem sanguínea.

Para o profissional de enfermagem que atua no setor de transfusão, o processo transfusional tem início a partir do momento que a equipe médica faz a solicitação do hemocomponente. O enfermeiro é responsável por recepcionar a requisão/prescrição de transfusão, realizar análise crítica detalhada, checando, inclusive, o diagnóstico do paciente, bem como exames laboratoriais relacionados ao hemocomponente solicitado e se o paciente será submetido a algum procedimento e tratamento. “A história pregressa do paciente também é muito importante, pois juntamente com o diagnóstico poderá ser definido se o hemocomponente a ser transfundido deverá sofrer algum preparo especial como irradiação, deleucotização ou lavagem, uma vez que não tenha sido marcado na requisição/prescrição pelo médico solicitante. Também é importante também verificar se o indivíduo já recebeu alguma transfusão anteriormente com o objetivo de detectar se houve alguma intercorrência. Em caso positivo é prudente verificar com a equipe médica a necessidade de administrar medicação prévia à transfusão”, enfatiza Leandro.

O enfermeiro também é atuante prescrevendo cuidados de enfermagem antes e durante a transfusão conforme sistematização de enfermagem da instituição. “Após análise da requisição, o profissional de enfermagem deverá providenciar, se necessário, a coleta da amostra de sangue do paciente para a realização dos exames pré-transfusionais. Antes da coleta o profissional de enfermagem também deve orientar paciente/familiar sobre o processo transfusional, possíveis intercorrências durante ou após a transfusão e solicitar a assinatura do termo de consentimento pelo paciente/familiar autorizando o procedimento”, explica.

Em uma segunda etapa, a amostra, que tem validade de 24 a 72 horas, é encaminhada ao setor de imunohematologia onde serão realizadas as provas de compatibilidade e preparo do hemocomponente. Após a liberação do hemocomponente, o enfermeiro tem a função de supervisionar o transporte e instalação, deste produto. Quando a bolsa chega à unidade é preciso providenciar sua instalação o mais breve possível. O profissional deverá realizar a beira-leito as conferências dos dados da etiqueta da bolsa com os dados do prontuário do paciente e da pulseira de identificação. Também é preciso verificar os sinais vitais do paciente, perguntar para ele ou para o acompanhante seu nome completo e se tem conhecimento do seu tipo sanguíneo. “Caso o paciente ou acompanhante não saiba informar o tipo sanguíneo ou se a informação for divergente dos dados que constam na etiqueta da bolsa, todo processo deve ser interrompido e uma nova amostra para a realização de nova tipagem coletada. O profissional nunca deve instalar o hemocomponente se houver dúvidas”, alerta.

Segundo a RDC o profissional de enfermagem deverá acompanhar o paciente em toda a infusão do hemocomponente, bem como nos primeiros dez minutos inicias de sua administração, pois é neste período que poderá ser detectado intercorrências graves como, por exemplo, incompatibilidade ABO RH. O enfermeiro deve ser capaz de identificar qualquer alteração no quadro clínico do paciente durante e após o procedimento e durante a transfusão o profissional deve verificar, em horários pré-estabelecidos, o gotejamento do hemocomponente, evitando assim perda por administração incompleta do produto.

Em caso de qualquer intercorrência é fundamental interromper a transfusão imediatamente, manter acesso venoso pérvio com solução fisiológica 0,9% ou salinizado, verificar sinais vitais e acionar equipe médica para avaliação. Toda a assistência precisa ser destacada em formulário especifico e no prontuário do paciente. Ao término da transfusão o profissional deve verificar novamente os sinais vitais. “Todas estas ações estão previstas na RDC 57, assim é imprescindível que o enfermeiro que atua nesta área conheça esta resolução” complementa Leandro.