10ª edição do Seminário de Comissão de Ética do Coren-SP lota auditório da Unip em São Paulo

Cerca de 470 profissionais de enfermagem, muitos deles membros de Comissões de Ética, participaram do 10º Seminário de Comissão de Ética de Enfermagem, realizado pelo Coren-SP nesta quinta-feira (17) no auditório da Universidade Paulista (Unip), campus do Paraíso, na capital. Além dos participantes presenciais, mais 500 enfermeiros, obstetrizes, técnicos e auxiliares de enfermagem assistiram à transmissão online.

A programação do seminário foi repleta de palestras, mesas-redondas e atividades relacionadas à atuação e ao dia a dia das Comissões de Ética de Enfermagem, assunto que começou a ser discutido logo na mesa de abertura, com a participação de James Francisco dos Santos, presidente do Coren-SP; Ivete Trotti, conselheira coordenadora das Comissões de Ética de Enfermagem (CEEs) da autarquia; Jane Bezerra, conselheira secretária das CEE; Ana Lygia Pires Melaragno, diretora da Associação Brasileira de Enfermagem, seção São Paulo (ABEn-SP); Marta Cristiane Pereira, coordenadora da Comissão de Inovação e Empreendedorismo na Enfermagem do Conselho Federal de Enfermagem (CNIE-Cofen); Regina Maria dos Santos Marinho, membro da equipe técnica da Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo e Raquel Machado Cavalca Coutinho, coordenadora da pós-graduação em enfermagem da Unip.

Os participantes da mesa de abertura durante a execução do hino nacional


As primeiras palavras foram de Ana Lygia Pires Melaragno, que como representante da ABEn-SP, fez questão de frisar que a ética não é algo apartado do cotidiano de um profissional: “A ética é algo de muita importância. A formação de um profissional ético é um exercício diário”.

Ana Lygia Melaragno, durante a mesa de abertura

A anfitriã Raquel Machado Cavalca Coutinho, representante da Unip, destacou a parceria entre a instituição que representa e o Coren-SP: “É com muita satisfação que a Unip recebe este evento pela terceira vez. A parceria com o conselho é muito importante, assim como é importante que a discussão ética ocorra no âmbito da educação”.

Raquel Machado Cavalca Coutinho em sua fala na mesa de abertura

A conselheira Ivete Trotti, em suas palavras iniciais, destacou o papel fundamental que as CEEs podem cumprir numa instituição de saúde: “Ser parte de uma CEE é ser um ponto de luz dentro da uma instituição. Isso nos lembra da lâmpada de Florence Nightingale. Temos que cuidar da ética de forma constante para que não nos anestesiemos frente a ela”.

A conselheira Ivete Trotti, em suas palavras de abertura, destacou a importância do fortalecimento das CEEs

Regina Maria dos Santos Marinho lembrou da importância do assunto discutido dentro de uma equipe de enfermagem do porte da equipe da Secretaria Municipal de Saúde da capital: “A ética é uma das questões mais importantes para nós. É uma das questões que mais demanda da gente atualmente na área da saúde e é muito bom saber que este evento irá tratar disso”.

Regina Maria dos Santos Marinho, representante da Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo

A enfermeira Marta Cristiane Pereira representou o Conselho Federal de Enfermagem (Cofen). Ela lembrou que ser ético e ser profissional de enfermagem são situações que se entrelaçam: “Neste evento, a proposta é irmos além das palavras. Que assumamos essa proposta desafiadora e que a luz da ética seja cada vez mais forte, pois a ética é um princípio estrutural da enfermagem”.

Marta Cristiane Pereira, coordenadora da Comissão de Inovação e Empreendedorismo na Enfermagem do Conselho Federal de Enfermagem

O presidente do Coren-SP, James Francisco dos Santos, fez uma reflexão acerca do momento atual da enfermagem e da ética. Ele lembrou que a atualidade exige novas reflexões: “A pandemia nos trouxe novas questões a serem discutidas no âmbito da enfermagem. O avanço da popularização das comunicações online nos trouxeram a necessidade de atualização e de reflexões sobre a ética em um novo âmbito”.

James Fracisco dos Santos em suas considerações na mesa de abertura

Após a mesa de abertura, o seminário foi marcado por um momento emocionante, com homenagens a três profissionais que deram grande contribuição ao desenvolvimento da ética profissional em enfermagem.
A primeira homenageada foi Maria Cristina Massarollo, professora da Universidade de São Paulo, membro das Câmaras Técnicas do Coren-SP e ex-conselheira da autarquia. Maria Cristina teve grande participação na elaboração do atual Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem (Resolução Cofen nº 564/2017), quando foi conselheira do Coren-SP.

A conselheira Jane Bezerra entrega placa de homenagem a Maria Cristina Massarollo

“Muito me honra receber esta homenagem. Que nossas escolhas sejam sempre as melhores. Temos que estar abertos às mudanças, mas mantendo os nossos valores. Somos todos corresponsáveis pela construção de uma profissão digna”.

Mauro Antônio Pires Dias da Silva recebeu sua homenagem das mãos da também conselheira, Ivete Trotti

O segundo-secretário do Coren-SP, ex-presidente da autarquia, professor aposentado da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e participante da construção do primeiro Código de Deontologia em Enfermagem (documento antecessor do Código de Ética), foi o segundo homenageado da manhã. Em seu emocionado discurso, Mauro destacou a necessidade de a ética ser aplicada na concretude do dia a dia profissional: “A ética é algo abstrato, mas de fundamental importância para o ser humano. No dia a dia ela se torna concreta”, afirmou.

Mariana Serreto Cobellis Gomes, recebeu a placa em nome do pai, Paulo Cobellis Gomes, das mãos de James Francisco dos Santos

A terceira homenagem foi in memoriam, ao ex-conselheiro e ex-vice-presidente do Coren-SP, Paulo Cobellis Gomes, que faleceu este ano. Quem recebeu a homenagem foi uma das filhas de Paulo, Mariana Serreto Cobellis Gomes. “Meu pai transmitia paz e amor com suas palavras, que eram gotículas de sabedoria. Ele sempre dizia para fazermos o correto, mesmo que ninguém estivesse olhando”, afirmou Mariana, emocionada.

Palestra “Comunicação tem remédio: a comunicação nas relações interpessoais em saúde”

A primeira palestrante do evento foi a professora aposentada da USP, Maria Júlia Paes, que é enfermeira e livre-docente na área de comunicação interpessoal.

Maria Júlia Paes durante sua palestra sobre comunicação

Uma das questões importantes trazidas por Maria Júlia foi a comunicação entre o profissional e o enfermo que ele assiste. Maria Júlia destacou a comunicação não se dá apenas pelas palavras, mas também pela linguagem corporal e pelo silêncio. “O modo como cuido de alguém pode fazer a diferença dessa pessoa estar aberta ou não. Quando estamos enfermos, ou seja, não-firmes, é quando abrimos dentro de nós uma janela para o novo. Cada vez que falamos, nosso pensamento se transforma em palavras que podem entrar nas mentes dos outros e se a mente do outro estiver fértil, aquela semente que plantamos se desenvolverá”, refletiu.

A profissional deu destaque à necessidade de respeito em nossas trocas com o outro, sobretudo no âmbito assistencial: “Nosso desafio é como ter respeito. Respeito é quando eu tomo cuidado em fechar a porta quando a pessoa não tem costume de usar o banheiro com a porta aberta. Eu não posso confundir comunicação com informação. É troca com o outro. A minha capacidade de ser coerente, o que eu falo tem que haver com o que tem comigo, na condição presente, justificar por outro.”, esclareceu.

A vice-presidente do Coren-SP, Erica Chagas, entregou flores em agradecimento a Maria Júlia

Maria Júlia também trouxe a reflexão de que o silêncio contém dentro de si sabedoria, sendo ele também uma forma de comunicação que deve ser compreendida pelo profissional. “Temos que procurar entender o que o silêncio do nosso paciente quer dizer”, colocou.

Palestra “Formação das Comissões de Ética e a sua importância”

Após o intervalo para o almoço, o período da tarde começou com uma apresentação musical feita pela dupla de músicos “Trovadores Urbanos”, que tocaram e cantaram canções da música popular brasileira.

A dupla “Trovadores Urbanos” em sua apresentação

Em seguida, a programação científica teve continuidade com palestra da conselheira Ivete Trotti, coordenadora das Comissões de Ética de Enfermagem do Coren-SP sobre a formação e a importância das CEEs.

Ivete Trotti destacou os números relacionados às Comissões de Ética no estado de São Paulo

Ela falou de sua experiência coordenando a posse de novas CEEs em todo o estado de São Paulo e dos aprendizados que essa função vem propiciando a ela. “Aprendemos que os profissionais precisam ter conhecimento científico, habilidade técnica e valores. São esses valores que a gente preserva por meio da ética”, afirmou.

Ivete citou uma frase do pensador James Reason: “A falibilidade é uma condição humana” e a partir daí, refletiu: “O importante é aprendermos com nossos erros. A Comissão de Ética de Enfermagem tem uma função primordialmente educativa. Daí também a importância da educação permanente em nossas instituições”.

A conselheira também apresentou alguns números atuais das CEEs dentro do Coren-SP: desde o início de 2021 foram empossadas 377 CEEs, com uma média de 30 posses por mês. “Temos atualmente 238 processos de novas posses em andamento, sendo 127 deles referentes a instituições de saúde do interior e do litoral do estado e 111 da região metropolitana. Estamos agilizando cada vez mais essas posses para que tenhamos até o fim de 2023 o maior número de novas CEEs em nossas instituições de saúde”, disse.

Ivete prestou homenagens a James Francisco dos Santos, Erica Chagas, Jane Bezerra e Yasmim Hamssi Taha

No fim de sua palestra, Ivete prestou homenagens ao presidente do Coren-SP, James Francisco dos Santos; à vice-presidente da autarquia, Erica Chagas; à conselheira Jane Bezerra, sua companheira à frente das CEEs da autarquia e à gerente de comunicação do conselho, Yasmim Hamssi Taha. A palestrante chamou cada um deles ao palco e os parabenizou pelo pela contribuição na construção do seminário.

Relatos de experiências de Comissões de Ética Empossadas e Talk-show “Dilemas éticos e relações com as comissões de ética”

Para encerrar o evento, as duas últimas atividades foram relacionadas à atuação prática das CEEs.

Representantes de algumas Comissões de Ética de Enfermagem foram chamadas ao palco para fazer relatos de experiência, em apresentações mediadas pelo segundo-secretário do Coren-SP, Mauro Antônio Pires Dias da Silva.
As profissionais que fizeram relatos de experiência foram: Jacira Ornelas, presidente da CEE do Hospital Sírio-Libanês da Bela Vista; Gisele Lopes, presidente da CEE do Hospital Israelita Albert Einstein; Fabiana da Silva Augusto, presidente da CEE do Hospital São Paulo; Amanda Pereira Santos, presidente da CEE do Pronto Socorro Caucaia do Alto, de Cotia e Carla Rumão, membro da CEE do Hospital Cruz Azul.

Mauro Antônio Pires Dias da Silva e as participantes dos relatos de experiência

Ao fim das breves apresentações e relatos de experiência, Mauro Antônio sintetizou as falas das profissionais: “Vemos que cada comissão tem suas demandas particulares, e isso ficou bem claro. As CEEs devem ficar atentas às particularidades de onde estão inseridas, inclusive para cumprirem seu papel educativo”, resumiu.
O 10º Seminário de Comissão de Ética de Enfermagem do Coren-SP se encerrou com um talk-show sobre dilemas éticos. Alguns dilemas foram apresentados e discutidos pela mesa e pelo público.

Maria Cristina Massarollo, Mauro Antônio Pires Dias da Silva, James Francisco dos Santos e Ivete Trotti no talk-show de encerramento

A atividade foi mediada pelo presidente do Coren-SP, James Francisco dos Santos, acompanhado de Maria Cristina Massarollo e dos conselheiros Ivete Trotti e Mauro Antônio Pires Dias da Silva.

No início do talk-show, Mauro Antônio trouxe a reflexão de que a autonomia do profissional deve estar balanceada por alguns princípios: “O profissional de enfermagem tem autonomia, mas essa autonomia deve sempre seguir preceitos éticos e legais”, colocou.

A participação do público foi fundamental durante o Seminário

Em uma de suas falas, baseada em um dos casos apresentados e discutidos, o presidente do Coren-SP falou sobre as consequências da atual precarização do trabalho dos profissionais de enfermagem: “Estamos passando por um momento de precarização no trabalho e muitos profissionais estão sendo contratados como MEI (Microempreendedores Individuais) dentro da assistência, o que é ilegal”, concluiu James.

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