Santos sedia Encontro de Responsáveis Técnicos

Desenvolver a liderança e ocupar os espaços de gestão e de poder nas instituições de saúde  são grandes desafios para a enfermagem. Os Responsáveis Técnicos (RTs) são peças chave neste cenário e, para incentivar o empoderamento desses profissionais, o Coren-SP promoveu nesta terça-feira (25), em Santos,  a segunda edição do Encontro de Responsáveis Técnicos, com o tema “Gerenciamento em enfermagem com foco na liderança”.

Fabíola Campos e Maria Cristina Massarollo

Grandes nomes da área de gestão em enfermagem participaram do evento, como a Profª Drª Paulina Kurcgant. A presidente do Coren-SP, Fabíola Campos, conduziu a abertura do evento, incentivando os presentes a exercitarem conceitos como autonomia e protagonismo. “Precisamos valorizar a importância da politização e da participação da nossa categoria. A enfermagem deve estar inserida nas discussões sobre a assistência, efetivando sua autonomia e a transversalidade da ética e legislação”. Ela destacou a atuação do Conselho nos últimos anos no sentido de fomentar a dimensão ético-política da categoria.

De acordo com a conselheira Maria Cristina Massarollo, que integrou a mesa de abertura ao lado da presidente, o tema liderança “traz muitas inquietações aos profissionais”. Por isso, o Coren-SP tem se empenhado em promover debates. “Eventos como esse nos proporcionam a oportunidade de compartilhar experiências”, afirmou.

A mesa “Prática da liderança em enfermagem em diferentes níveis de atenção à saúde” expôs experiências no âmbito da atenção básica, hospitalar e domiciliar. Rosana Aparecida Garcia, coordenadora do GT de Atenção Básica do Coren-SP e coordenadora na Secretaria Municipal de Saúde de Campinas, falou sobre as especificidades do gerenciamento nesta área. Ela motivou os participantes a deixarem a zona de conforto e a promoverem discussões compartilhadas com a equipe e análise de casos e da demanda espontânea, aspectos que considerou fundamentais para  a gestão da atenção básica. “Não existe liderança sem comunicação. Além disso, é importante termos habilidade para nos comunicar, pois só assim alcançaremos o resultado almejado”, orientou.

Luiza Dal Ben, coordenadora do grupo de estudos sobre Assistência Domiciliar do Núcleo Metropolitano São Paulo (Numesp), mostrou a complexidade da atuação da enfermagem na atenção domiciliar, que vai muito além das questões técnicas e formais. “Estar na casa das pessoas é diferente e apresenta muitos desafios. É preciso saber lidar com a rotina delas, possibilidade de não aceitação, confiabilidade e estrutura física de cada residência”, detalhou. A enfermeira também alertou para as questões culturais e crenças dos pacientes, que devem ser respeitadas, e para detalhes técnicos, como garantir a integridade da medicação no transporte até o local de atendimento e o seu armazenamento, o descarte do material perfurocortante e o acompanhamento da evolução das famílias. “O enfermeiro é responsável por individualizar o atendimento e garantir uma assistência de qualidade e segura”.

Mesa “Prática da liderança em enfermagem em diferentes níveis de atenção à saúde” 

 

A atenção hospitalar foi abordada por Andreia Cotait Ayoub, diretora executiva da Socesp e diretora da divisão de enfermagem do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia. Ela expôs os desafios do cotidiano da liderança em enfermagem nas instituições, desde a formação até aspectos que envolvem compromisso  e habilidade dentro de competências variadas, como lidar com esgotamento emocional, processos éticos e administrativos, promover capacitações contínuas e pontuais e avaliações de desempenho, entre outras práticas fundamentais para manter a equipe motivada. “É importante que os Responsáveis Técnicos tenham uma liderança maior e documentem os casos”, recomendou.

A mesa foi moderada por Marcílio Abraços Jorge, gerente de enfermagem do hospital Vitória, de Santos, e secretariada por Wilza Carla Spiri, livre docente do Departamento de Enfermagem  da Faculdade de Medicina de Botucatu (Unesp).

Capacitação do enfermeiro para liderança em enfermagem

A Profª Drª Paulina Kurcgant, grande especialista da área de gestão, analisou o comportamento da enfermagem nesse campo. “Quem exerce a liderança tem o ser humano como matéria prima”, disse. Segundo ela, é fundamental dar oportunidades aos profissionais. “Se o enfermeiro coordenador estimular os demais, eles vão aceitar desafios e perceber que são capazes”, avalia, lembrando que esse tipo de conduta incentiva o empoderamento e eleva a autoestima.

Paulina Kurcgant 

Paulina também enfatizou a necessidade de a enfermagem aprofundar a relação com a equipe multiprofissional. “Ninguém faz sozinho atendimento em saúde. A complexidade de hoje exige conhecimento multiprofissional e nós , enfermagem, ainda não sabemos trabalhar com isso. Inserimo-nos de forma subalterna na equipe e não adianta culpar os outros por isso”, problematizou.

Ela ainda disse aos Responsáveis Técnicos presentes que eles “são elementos importantes na estrutura de poder e têm a missão de servir de interlocutores entre sua equipe e o grupo deliberativo”.  Além disso, considerou fundamental compartilhar culturas entre os profissionais e reconhecer a dimensão emocional dos indivíduos.

Após a Conferência, os participantes tiveram a oportunidade de apresentar suas dúvidas em uma mesa coordenada pela presidente Fabíola Campos e secretariada por Ivany Machado de Carvalho Baptista, professora da Universidade do Vale do Paraíba (UNIVAP).