Porta-voz do CVV fala sobre a saúde mental dos profissionais de enfermagem na pandemia

O mundo enfrenta uma pandemia como poucas nestas proporções ao longo da história. Uma situação preocupante que, segundo a porta-voz nacional do Centro de Valorização da Vida (CVV), Elaine Macedo, causou sérios impactos na oferta de serviços de apoio emocional e prevenção ao suicídio do CVV, que por conta do isolamento social, mantém o atendimento apenas por telefone, e-mail ou via chat.

É vital continuar com o suporte emocional e psicológico e, principalmente, abrir espaços para uma escuta empática com confidencialidade e sigilo, para que os profissionais se sintam à vontade e seguros para conversar”, diz Elaine

“Os atendimentos pessoais e as ações presenciais voltadas à sociedade, como, por exemplo, cursos, oficinas, grupos de apoio e palestras, estão suspensas devido às orientações das autoridades de saúde. Os desafios de manter vínculos e conexões nas relações interpessoais e intrapessoal, cuidar de si, cuidar do outro, deixar-se cuidar, observar o que importa e gerar sentido a vida, são questões latentes que devem ser observadas”, conta Elaine.

Elaine Macedo, porta-voz nacional do CVV

O CVV atende as demandas da sociedade. Assim, naturalmente, assuntos que estão na pauta social repercutem em seus atendimentos. Sensível à realidade de adoecimento mental dos profissionais de enfermagem, o Coren-SP, em parceria com o CVV, iniciou em 2019 algumas ações  voltadas para prevenção do adoecimento mental dos profissionais da categoria, como ações de valorização da vida, autocuidado, autoconhecimento, autorregulação, entre outras.

“É vital continuar com o suporte emocional e psicológico e, principalmente, abrir espaços para uma escuta empática com confidencialidade e sigilo, para que os profissionais se sintam à vontade e seguros para conversar, se expor, estar vulneráveis sem medo ou receio do que possa afetar a sua carreira”, destaca a porta-voz.

Como o isolamento social pode afetar o emocional?

“Geralmente quando falamos de isolamento social, é algo que transcende o aspecto da presença física. Estamos nos referindo à pessoa que se isola ou é isolada pelo meio. Entretanto, em ambos os casos, há sofrimento e sentimentos como medo e tristeza”. 

Elaine analisa que a percepção de cada pessoa sobre o fato em si, pode reverberar de diferentes formas. “É fundamental estarmos atentos às nossas sensações e emoções, observar os sentimentos e pensamentos, ouvir e perceber a si mesmo. São essas atitudes que facilitam a autocompreensão e autoempatia e, consequentemente, ampliam a nossa capacidade de exercitar a solidariedade, fraternidade, compaixão e empatia com as outras pessoas e vice-versa”, diz.

Elaine ainda aponta que selecionar o que irá assistir, ouvir, ler ou compartilhar, também são aspectos importantes a serem observados, uma vez que escolhas saudáveis contribuem com nossa saúde. 

Oferecer atenção e cuidado às pessoas, por meio da aproximação de ferramentas tecnológicas, com aqueles que enfrentam dificuldades por estar solitários ou propensos a desequilíbrios emocionais, também são requisitos fundamentais destacados pela porta-voz.

“Podemos tornar a crise uma oportunidade de desenvolver novos hábitos sociais e pessoais, movimentos de aproximação e melhorias na arte de conviver e viver, o que representa diferenças na saúde emocional de cada um de nós”, avalia.

Linha de frente da assistência e a pressão psicológica

Elaine faz um referência entre os sentimentos mistos de medo e coragem que podem envolver a enfermagem. Pois, segundo ela, por trás do jaleco há um ser humano com todas as necessidades básicas e universais que podem estar satisfeitas ou não com outros papéis sociais, pressões e cobranças na dualidade entre cumprir seu plantão e ficar em casa com os seus entes queridos.

Para cuidar bem, é preciso se cuidar”, ressalta Elaine

“Diante a pandemia em que a ordem é ficar em casa, no caso dos profissionais que atuam na linha de frente, a ordem é para que fiquem disponíveis. E no contraponto, existe a necessidade de desanuviar, acolher e aliviar a pressão, para que, assim, possam encontrar apoio para manter a saúde emocional”, diz.

Elaine ainda faz uma comparação com a história das máscaras de oxigênio no avião. Durante o voo, em casos de emergências, a regra é clara: “coloque primeiro a máscara em você para depois ajudar o próximo. É fundamental que os profissionais da enfermagem se cuidem, saibam o verdadeiro significado das suas máscaras de oxigênio e encontrem seu suporte e apoio emocional. Fortalecer os vínculos, cuidar das relações, nutrir um ambiente de trabalho saudável e seguro, cuidar da própria saúde emocional, física e espiritual, são ações vitais. Para cuidar bem, é preciso se cuidar”, finaliza.     

O CVV está disponível 24 horas por dia pelo telefone 188, também atendendo por e-mail e chat. Acesse o site: www.cvv.org.br para mais informações e lembre-se, você não está sozinho.