Mais de 30% das mulheres da enfermagem relatam ter sofrido violência de gênero, como a sexual

A violência relacionada ao gênero é uma realidade no Brasil que, consequentemente, impacta na vida das profissionais de enfermagem, uma vez que a catgeoria é composta por mais de 80% de mulheres. Sondagem realizada pelo Coren-SP em março de 2021, com cerca de 12 mil participantes, mostrou que:

  • 38,1% já sofreram algum tipo de violência doméstica por serem mulheres.
  • Dessas, 52,4% sentiram que a violência em casa e no trabalho se agravaram durante a pandemia.
  • 30,4% das participantes já sofreram algum tipo de violência no trabalho por serem mulheres.
  • Elas sofreram violência psicológica (88,9%), moral (41%), física (11,4%), sexual (7,2%) e patrimonial (4,9%).
  • Também nestes casos, pacientes ou acompanhantes foram responsáveis por 62,3% das incidências, seguidos por superior hierárquico (52,3%) e colega de trabalho da enfermagem (36,4%), geralmente homens (80,2% das incidências).
  • Além disso, 75,1% destas afirmam terem tido impactos na saúde física e/ou psicológica.

Inúmeros fatores corroboram com a consolidação desse cenário, como a própria estrutura da sociedade brasileira, que ainda perpetua a desigualdade de gênero do ponto de vista social, econômico, entre outros, assim como a sexualização da imagem feminina e todos os estereótipos a ela atribuídos. No caso da enfermagem, as fantasias utilizadas com conotação sexual em carnavais, halloweens e outras abordagens são elementos que fazem coro a essa realidade. Por esse motivo, o Coren-SP tem se posicionado constantemente em defesa da imagem e do trabalho da enfermagem. No dia 2 de novembro, emitimos nota sobre as consequências provocadas pelo uso da fantasia de enfermeira com conotação sexual por celebridades, entre elas, a atriz Bruna Marquezine e as influenciadoras Cátia Damasceno e Thais Massa.

Diante da repercussão da postagem, o Coren-SP também foi notificado sobre publicações similares da cantora MC Melody e da influencer Thais Carla, que trajavam vestimentas alusivas à enfermagem, seja como fantasia para o Halloween ou com acessórios de roupas eróticas, respectivamente.

A ambas figuras públicas, bem como a quaisquer outras personalidades, o Coren-SP estende seu repúdio pela deturpação da figura da enfermagem em grande alcance e possibilidade de formação de opinião, ainda mais em meio a uma pandemia, que vem sendo superada justamente graças ao trabalho árduo de profissionais da saúde, como a enfermagem, a maior categoria dentre eles.

Durante o webinar “Ser mulher na enfermagem”, no qual os dados mencionados anteriormente foram apresentados, a enfermeira Verônica Martz – representante do coletivo Não Me Kahlo, que atua em prol da autonomia feminina – afirmou que a enfermagem, profissão composta majoritariamente por mulheres, necessita trabalhar o desenvolvimento de sua própria autonomia. “Percebemos pelo histórico da enfermagem, que no passado fundamentava-se na questão do cuidar por caridade e sem nenhum tipo de formação específica, que a autonomia foi e continua sendo uma questão a ser batalhada. Até hoje temos que constantemente mostrar que a enfermagem é uma ciência clínica, que nós temos competência científica”, frisou.

Margarete Peixoto, procuradora do estado de São Paulo e Conselheira Estadual da Condição Feminina, afirmou em entrevista à Enfermagem Revista, do Coren-SP, que 85% das mulheres já sofreram assédio sexual em algum momento da vida, portanto, são as mulheres as maiores vítimas de assédio sexual, e com as profissionais de enfermagem não poderia ser diferente. “Há diversas pesquisas que abordam o tema e relacionam a maior vulnerabilidade das profissionais de enfermagem que muitas vezes são vítimas de seus superiores hierárquicos, de colegas de trabalho, de pacientes ou familiares de pacientes”, comenta.

Portanto, combater representações deturpadas e/ou erotizadas da profissão não pode ser considerado “mimimi’, mas encarado como um assunto sério, de forma a demonstrar a seriedade e a responsabilidade inerentes a anos de estudo e dedicação dessas mulheres, que, só no estado de São Paulo, somam quase meio milhão de pessoas.

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