Evento no Coren-SP discute a bioética e o papel da enfermagem na assistência ao idoso institucionalizado

O evento “Espaço aberto: bioética e o idoso institucionalizado”, realizado na sede do Coren-SP na tarde desta quarta-feira (23/8), trouxe uma importante reflexão sobre a atuação do profissional de enfermagem no âmbito das Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPIs).


Fabíola Campos: “a população idosa exige um olhar diferenciado”

A presidente da autarquia, Fabíola Campos, abriu o evento e explicou o motivo da escolha do tema. “Devemos ter um olhar diferenciado para os idosos, pois eles são a população mais vulnerável aos erros de enfermagem, de acordo com os processos éticos que tramitam aqui no Coren-SP”. Ela também explicou que o trabalho de enfermagem com idosos exige olhar transversal. “É um trabalho que envolve a questão social, do amparo e a psicológica”, exemplificou.


Monique Cavenaghi explicou que os profissionais de enfermagem que atuam nas ILPIs carecem tanto de reconhecimento quanto de recursos materiais

 

A primeira palestra da tarde, com o tema “Conflitos éticos no cuidado ao idoso institucionalizado: percepção do enfermeiro”, focou nos anseios e nos problemas que o enfermeiro que trabalha em ILPIs enfrenta em seu cotidiano profissional. Em sua palestra, a gerente de fiscalização do Coren-SP, Monique Cavenaghi, pesquisadora do tema, destacou que esse profissional normalmente sofre “escassez de recursos financeiros e materiais, desvalorização profissional, falta de reconhecimento, falta de autonomia e baixos salários. “Vivemos em um país onde, culturalmente, o idoso não é importante e isso se reflete na assistência prestada a ele e na desvalorização do profissional que trabalha nessa área. De forma geral, o enfermeiro que atua em ILPIs se encontra na corda bamba”. Ela disse que a participação de toda a sociedade é imprescindível para que essa situação seja transformada. “É muito importante que as pessoas denunciem abusos cometidos nessas instituições para o Coren-SP, para a Vigilância Sanitária e demais órgãos competentes”.


Um público atento e interessado participou das palestras e discussões

A palestra sobre a visão da instituição nos conflitos éticos no cuidado ao idoso institucionalizado foi ministrada pela enfermeira e professora Helena Akemi Wada Watanabe (Faculdade de Saúde Pública, USP). A desanimadora situação das ILPIs no Brasil e no estado de São Paulo também foi frisada por ela: “Não são só os enfermeiros que estão na corda bamba. As instituições também estão”.


A professora Helena Akemi Watanabe: “temos que estar atentos com os recursos finitos e ter honestidade com os idosos residentes”

Helena explicou que faltam recursos para as ILPIs, o que dificulta a prestação de um cuidado minimamente adequado. “As instituições normalmente têm boa vontade, apesar de terem muito poucos recursos. A disparidade entre os recursos disponíveis e as necessidades não atendidas dos idosos é geradora de conflitos éticos”.

A professora apresentou  algumas diretrizes para os profissionais de enfermagem que trabalham nessas condições adversas possam agir da forma mais ética possível. “Temos que estar atentos com os recursos finitos, ter honetidade com os idosos residentes, confidencialidade, qualidade na atenção e investir mais na pesquisa e na educação, pois existem muito poucos estudos nessa área”.

Após as palestras houve um debate aberto com os enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem presentes no auditório e as questões relativas à atuação da fiscalização do Coren-SP, entre outras, foram esclarecidas. Monique expôs a importância de o profissional ver o fiscal como aliado. “Os fiscais do Coren-SP são enfermeiros como vocês e estão ali para ajudar a enxergar coisas que vocês talvez não estejam vendo”.


Maria Cristina Massarolo fez o encerramento e apontou a importância do engajamento dos profissionais que atuam nas ILPIs

A conselheira e professora Maria Cristina Massarollo encerrou o evento satisfeita com o debate, que viu como um primeiro passo para a formulação de melhorias na enfermagem em ILPIs. “Vimos pelas exposições que foram feitas quantos conflitos éticos surgem nas ILPIs. Sozinhos, fica difícil mudar alguma coisa, por isso quero cumprimentar a todos vocês por terem vindo, pois é essa sensibilização para o problema que faz com que as coisas mudem”.