Coren-SP e Cremesp promovem ato público contra a violência em Campinas

As agressões físicas, verbais e psicológicas fazem parte da rotina de trabalho de profissionais de enfermagem e de médicos e são consideradas uma epidemia mundial pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Com o objetivo de mudar essa realidade, o Coren-SP e o Cremesp (Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo) realizaram o  2º Encontro das Comissões de Ética da Enfermagem e Medicina para debater a violência contra os profissionais de saúde, no Salão Vermelho da Prefeitura de Campinas, nesta segunda-feira (5/6).


Balões brancos foram soltos em frente à sede da Prefeitura de Campinas

Assim como ocorreu no evento realizado em São Paulo em março, o ponto alto da atividade em Campinas foi o Ato Público em Defesa da Paz, quando os profissionais de enfermagem e médicos, vestidos com camisetas brancas da campanha “Violência Não Resolve”, soltaram balões brancos em frente à Prefeitura de Campinas e distribuíram rosas à população.

Palestras e debates

Durante a mesa de abertura do encontro, a presidente do Coren-SP, Fabíola Campos, destacou a necessidade de os próprios profissionais de saúde se envolverem no combate à violência: “Não podemos achar que a violência seja algo normal do nosso cotidiano e manter os casos ocultos. Devemos revelar essa realidade e criar fluxos de acolhimento das vítimas, além de capacitar as equipes para o enfrentamento desse tipo de situação. Por isso, a participação das Comissões de Ética é fundamental”.


Fabíola Campos durante a mesa de abertura: “não devemos achar que a violência seja algo normal do nosso cotidiano”

A mesa também contou com a participação de Silvia Helena Mateus, conselheira do Cremesp; Maria Haydée de Jesus Lima, Conselheira Municipal de Saúde de Campinas e Mônica Macedo Nunes, Diretora de Saúde da Secretaria Municipal de Saúde de Campinas. O enfermeiro José Gilberto Prates, especialista em saúde mental e enfermagem psiquiátrica, levou ao público o tema “Abordagem terapêutica como estratégia de manejo a comportamento violento”. Ele apresentou técnicas que  ajudam a identificar e a conter o comportamento violento, como a observação do comportamento dos indivíduos. “Devemos estar atentos ao movimento das pessoas, à mensagem que o comportamento delas está passando. Uma pessoa muito agitada, por exemplo, andando de um lado para o outro, está sinalizando que está prestes a ter comportamento violento”.


O enfermeiro Gilberto Prates, especialista em saúde mental, trouxe a abordagem terapêutica como forma de lidar com a violência 

A palestra “Violência e ética”, ministrada pelo psiquiatra e psicanalista João Baptista Laurito Júnior, focou nos aspectos sociais da violência, explicando que ela não tem base biológica, como muitos pensam. Dentre as razões sociais para a existência da violência, Laurito enfatizou a injustiça e a desigualdade. “É preciso que combatamos um discurso comum, o de que a violência é coisa de pobre. A desigualdade gera violência, assim como a injustiça e o desrespeito. Ética é o único remédio que realmente funciona contra a violência”.

Após as palestras, houve uma apresentação de dados sobre a violência, baseados em uma pesquisa realizada pelo Coren-SP e pelo Cremesp, com  médicos e profissionais de enfermagem.

Os dados foram avaliados e comentados pela presidente do Coren-SP, Fabíola Campos, e o conselheiro do Cremesp, Reinaldo Ayer.

“Temos que tratar não só da violência, mas também de suas consequências. Um profissional de saúde agredido acaba sofrendo danos econômicos, por exemplo, por ficar impossibilitado de trabalhar durante algum tempo”, expôs Reinaldo.

Fabíola Campos  destacou que os profissionais de enfermagem não podem ser penalizados pelo subfinanciamento da saúde e ineficiência dos modelos de gestão e que a enfermagem, além de estar na linha de frente do cuidado, é uma profissão majoritariamente feminina, sendo bastante vulnerável às situações de violência. “Essa realidade traz prejuízos aos profissionais, mas também à assistência como um todo. O trabalhador que sofre agressão tem condições de trabalho mais limitadas e, em muitos casos, precisa se afastar devido ao trauma gerado, impactando nos serviços prestados ao cidadão”, disse.

Na parte da tarde as discussões foram encerradas com relatos de casos trazidos pelo público, formado por representantes das Comissões de Ética de Enfermagem e Comissões de Ética Médica.  A atividade foi moderadas pela conselheira do Coren-SP, Maria Cristina Massarollo e por Reinaldo Ayer.