Coren-SP e Anen divulgam resultados de levantamento sobre racismo sofrido na enfermagem

O Coren-SP, em parceria com Articulação Nacional da Enfermagem Negra (Anen), organizou na última segunda-feira (21/03), Dia Internacional pela Eliminação da Discriminação Racial, uma palestra que mostrava resultados de uma sondagem que destaca o racismo dentro da classe. A apresentação foi conduzida pela Dra. Alva Helena de Almeida, representante da Anen.

Mesa de discussão virtual no evento

Na conversa, esteve presente o Presidente do Coren-SP James Francisco Pedro dos Santos, junto do segundo-secretário Mauro Pires, que moderou o evento. O conselheiro Vencelau Jackson representou o Cofen na palestra, que também contou com a participação do Dr. Péricles Batista, vice-presidente do Sindicato de Enfermeiros do Estado de São Paulo (SEESP), a Dra. Alexandra Aparecida, diretora do Sindicato dos Auxiliares e Técnicos de Enfermagem de São Paulo (SinSaudeSP) e a Dra. Maria do Perpétuo Nóbrega, diretora de comunicação social e publicação da Associação Brasileira de Enfermagem sessão São Paulo (ABEn-SP).

James Francisco abriu sua participação com destaque voltado para as constantes batalhas que sua gestão tem realizado para a classe, e como o racismo também faz parte dessas metas.

“Precisamos trabalhar de forma transversal no conselho, na sociedade e nas instituições de saúde a construção de uma cultura de combate à discriminação, capaz de superar o racismo estrutural e institucional que historicamente assola o Brasil”, enfatiza James.

O presidente foi seguido por Vencelau Pantoja, que pontuou o papel do Cofen na mesa de discussão. “Essa iniciativa é fundamental porque só vai servir de fundamento para outras atividades que possam subsidiar e até mesmo fazer com que nós conheçamos a real situação”, disse.

Manifestação das entidades

O Dr. Péricles Batista, vice-presidente do Sindicato de Enfermeiros do Estado de São Paulo (SEESP), abriu sua participação com destaque para as futuras ações do órgão que representa contra o racismo na classe de enfermagem.

“O sindicato vai buscar junto ao organismo internacional – como a Internacional de Serviço Público (ISP), e o coletivo racial da CUT São Paulo –, mecanismos, juntos ao judiciário brasileiro, defensoria pública, Ministério Público, secretarias de segurança pública, o combate a toda forma de discriminação, principalmente dentro do ambiente de trabalho”, disse.

Em outro tom, a Dra. Alexandra Aparecida, diretora Sindicato dos Auxiliares e Técnicos de Enfermagem de São Paulo (SinSaudeSP), destacou que o Dia Internacional pela Eliminação da Discriminação Racial tinha “pouco a ser comemorado” e que “racismo não se negocia”. “Nós como mulheres negras não podemos negar a nossa vulnerabilidade, preconceito e discriminação racial que enfrentamos no dia a dia, e é lamentável que muitas instituições ainda qualifiquem a mulher negra como uma prestadora de serviços gerais”, disse.

A Dra. Maria do Perpétuo, na sequência, além de denotar a importância de debates a respeito do tema, também fez um paralelo com o adoecimento mental de profissionais da enfermagem.

“Nós sabemos que anteriormente, e no contexto da pandemia da Covid-19, a enfermagem assume um protagonismo ímpio em todos os campos do trabalho, entretanto, apesar desse protagonismo, pouco se tem discutido sobre as condições de adoecimento mental, que com certeza será trazido aspectos desse tema aqui nesta pesquisa, em relação aos profissionais de enfermagem pretos e pardos”, aponta.

Sondagem

A Dra. Alva Helena apresentou dados de uma sondagem realizada em novembro de 2021. A pesquisa obteve a resposta de 1086 profissionais da enfermagem em todo o estado de São Paulo, e foi coletada via e-mail. Dentre os respondentes, 31,5% foram pretos e 29,8% pardos. Ao serem perguntados sobre a suficiência de renda para custear despesas mensais, 70,8% responderam não.

Ao adentrar no tema, foi questionado aos participantes se eles acreditavam na existência de racismo no Brasil, 96,4% dos entrevistados responderam que sim. Contudo, a pergunta seguinte indagou se os respondentes se consideravam racistas, em que 95,7% responderam não. Sobre estes resultados, Alva Helena afirmou que “a sociedade brasileira é racista, a exemplos de outras sociedades, americanas, países europeus, mas não se considera racista”.

A próxima pergunta focou no conhecimento de práticas antirracistas no local de trabalho dos participantes e 84,5% responderam que não. Também foi indagado se já perceberam racismo no ambiente de trabalho, e 64,3% responderam que sim.

A pesquisa também coletou grupos que já sofreram racismo no ambiente de trabalho com a resposta dos entrevistados, e 49,6% responderam que eles mesmos sofreram. Por fim, também foram citados grupos que cometeram racismo no ambiente de trabalho dos respondentes, em que 55,9% foram pacientes ou usuários, enquanto 46,6% foram colegas de equipe.

Após mostrar os dados, Alva mostrou exemplos de racismo apontados pelos participantes, como touca de TNT do EPI não comporta o cabelo de uma mulher negra e abordagem inadequada sobre um funcionário negro em seu local de trabalho pelos seguranças, que desconfiam de sua real posição.

A análise destacou a ausência de políticas públicas que promovam a mobilização social e o descumprimento da legislação brasileira no que se refere aos casos de discriminação e racismo.

Os dados na íntegra podem ser consultados aqui.

Ações decorrentes

O Coren-SP e a Anen se comprometeram em medidas para o combate do racismo, que se consistem em atividades educativas; Publicações em seus canais de comunicação; Inclusão do quesito raça/cor em todos seus levantamentos (para que o recorte racial também norteie a tomada de decisões) e a criação de grupo de trabalho de políticas afirmativas, que deverá nortear a atuação do conselho nessa temática.

O Coren-SP está engajado em rechaçar qualquer ação racista dentro da classe da enfermagem, com o intuito de proteger tanto os profissionais, quanto os pacientes.

Confira o evento na íntegra:

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