Agosto Dourado: enfermeira obstetra e mãe fala sobre a importância da amamentação

Entre os dias 2 e 6 de agosto foi comemorada a Semana do Aleitamento Materno, como parte da campanha do Agosto Dourado – campanha mundial pela amamentação instituída pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

No Coren-SP, um evento online marcou essa semana, com palestras e mesas-redondas sobre temas como “Aleitamento em tempos de Covid-19”, “A importância das políticas públicas no sucesso do aleitamento materno”, “Proteger a amamentação: uma responsabilidade de todos” e “Assessoria de amamentação – manejo do aleitamento materno”.

A atividade transmitida no dia 5/8, quinta-feira, “A importância das políticas públicas no sucesso do aleitamento materno”, teve um significado especial para uma das participantes. A moderadora da palestra, a enfermeira Marcela Zanatta, está justamente em fase de amamentação. Ela amamenta, atualmente, seu quinto filho, Francisco, de apenas 2 meses, e que até apareceu por alguns minutos na apresentação.

Após a palestra, ela conversou um pouco conosco sobre a importância das políticas públicas de amamentação, dando suas opiniões e insights tanto quanto enfermeira obstetra e mãe.

Marcela com o pequeno Francisco, de dois meses, em live com Sonia Venancio

Coren-SP: Marcela, qual a importância das políticas públicas na promoção do aleitamento materno?

Marcela Zanatta: Na palestra foi falado sobre a engrenagem composta por diversas iniciativas governamentais nesse sentido. No Brasil, a maior parte das iniciativas é governamental, partindo do Ministério da Saúde e em parte de ONGs, formando um mecanismo para proteger o aleitamento materno desde o momento em que a mulher tem seu bebê até o retorno dela ao trabalho. Seguindo a recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS), a amamentação é exclusiva até 6 meses e pode ir até 2 anos de idade mais ou menos. É importante que essa engrenagem de proteção e promoção ao aleitamento materno funcione também para os bebês que têm que ser separados de suas mães, que são aqueles bebês internados nas unidades neonatais ou cujas mães são internadas nas UTIs.

Coren-SP: E quais são os benefícios do aleitamento materno?

Marcela Zanatta: O aleitamento traz benefícios a curto e médio prazo, tanto para as crianças quanto para as mulheres. Podemos evitar cerca de 820 mil mortes de crianças por ano com a proteção ao aleitamento materno se falamos principalmente dos países em desenvolvimento ou pouco desenvolvidos, onde as pessoas têm acesso muito ruim aos serviços de saúde, ao saneamento básico, às condições e alimentação e muito mais. O Aleitamento materno vai proteger especialmente as crianças menores de 1 ano e as crianças até os 5 anos de vida. Hoje sabemos que o aleitamento materno, a oferta desse leite como alimentação nos primeiros anos de vida, melhora a capacidade cognitiva da criança a longo prazo, melhora a aprendizagem e protege as crianças de doenças autoimunes em toda a primeira infância. O leite passa anticorpos como se fossem anticorpos inteiros da mãe para o bebês. Já temos bebês amamentados que estão com anticorpos contra a Covid-19 por conta da vacinação das mães. Não sabemos se são anticorpos que irão efetivamente proteger o bebê, mas só o fato de haver esses anticorpos é uma resposta maravilhosa à vacina e ao aleitamento materno.

Coren-SP: E como é para você, sendo enfermeira obstetra, estar também amamentando?

Marcela Zanatta: Estar amamentando e voltar ao trabalho, à atividade, é algo muito desafiador. Temos que desejar entender muito a diferença entre o leite materno e as fórmulas infantis. É necessário orientação em relação ao início da amamentação, é algo difícil independentemente de você trabalhar na área ou não. É necessária uma rede de apoio, os enfermeiros são capacitados a orientar a mulher no pré-natal. Geralmente é algo que falta no pré-natal, tanto na rede pública quanto na privada e essa orientação é extremamente importante.

A amamentação não é algo teórico, ela é prática, as mulheres devem evitar diversos tipos de desafios em relação à produção do leite, em relação à pega correta, dores, fissuras, questões da própria mecânica bucal do bebê. É necessário como mãe e como enfermeira obstetra procurar um profissional qualificado e procurar essa orientação pré-natal, ser acompanhada por uma puericultura adequada que também proteja e promova o aleitamento materno. É muito mais fácil prescrever a fórmula e mandar a mulher embora para casa, mas o aleitamento materno precisa de uma atenção continuada, que é a característica do trabalho dos enfermeiros que é um trabalho continuado e sustentado no tempo, visando o melhor resultado para a mulher, sua família e para a comunidade como um todo.

Coren-SP: Quais as vantagens do aleitamento materno sobre as fórmulas de substituição do leite materno?

 Marcela Zanatta: Temos que lembrar que a indústria de substitutos do leite materno movimenta 45 bilhões de dólares por ano, então não é fácil para nós, reles mortais, lutarmos contra essa ideia passada de que o substituto é semelhante ao leite materno, porque ele não é. Não é em diversos aspectos: aspectos nutricionais, aspectos imunobiológicos, na questão da formação de vínculo, da proteção da mulher que amamenta. Com o aleitamento materno nós evitamos 20 mil mortes de mulheres por câncer de mama por ano, então é algo bastante importante.