Seminário do Coren-SP aborda a implementação de Protocolos Assistenciais e a Prática Baseada em Evidências

O Seminário “Protocolos Assistenciais e o Cuidado de Enfermagem Baseado em Evidências”, realizado nesta segunda-feira (7/8), foi resultado do trabalho desenvolvido pelo Grupo de Trabalho (GT) do Coren-SP e trouxe importantes reflexões aos profissionais de enfermagem.  


A conselheira Marcília Gonçalves, coordenadora das Câmaras Técnicas, exaltou o trabalho do Grupo de Trabalho de Protocolos e a iniciativa do Coren-SP em instituir os GTs

“O trabalho desenvolvido por esse Grupo de Trabalho de Protocolos foi a resposta do Coren-SP a uma demanda recorrente que tínhamos, a partir dos profissionais de enfermagem, relacionada à criação e à utilização de protocolos”, explicou a conselheira Marcília Gonçalves, coordenadora das Câmaras Técnicas do Coren-SP, durante a mesa de abertura do evento.

O tema central do seminário foi a Prática Baseada em Evidências (PBE). “A PBE é um paradigma que deve nortear o nosso fazer. É muito importante que a enfermagem brasileira se atualize em relação a isso”, afirmou a professora Cibele Andrucioli de Mattos Pimenta (EE-USP), coordenadora do GT de Protocolos.


A professora Cibele Andrucioli de Mattos Pimenta, coordenadora do GT de Protocolos do Coren-SP, contrapôs em sua palestra a prática baseada em evidências e a prática baseada na tradição

A primeira palestra do dia foi sobre o tema “Prática profissional baseada em evidência e na tradição”, ministrada pela própria Cibele, que fez uma contraposição entre o fazer baseado na ciência e aquele baseado na tradição. “A Prática Baseada em Evidências é reflexiva. Já a prática baseada na tradição é rotineira e repetitiva. A evidência tende a ser mais atualizada que a tradição, pois a PBE é a ponte entre a teoria científica e a prática clínica”, esclareceu.


O público lotou o auditório do segundo andar do Coren-SP Educação


Adriana Amorim Francisco explicou que a prática baseada em evidências minimiza riscos para o paciente, para a instituição e reduz gastos desnecessários

O assunto foi aprofundado na mesa-redonda “Prática baseada em evidência”. A enfermeira Adriana Amorim Francisco explicou que uma prática de enfermagem não baseada em evidências significa riscos para o profissional, para o paciente e um gasto desnecessário dos recursos de um hospital ou unidade de saúde. A implementação da PBE, no entanto, costuma encontrar alguns obstáculos, como a falta de aceitação por parte da equipe de enfermagem. “Todo processo que começa com mudanças não é fácil. Recomendo que tenham paciência e lembrem-se que a mudança começa com cada um de nós, da equipe de enfermagem”, concluiu.


Gilcéria Tochika Shimoda explicou algumas das ações de planejamento necessárias à implementação de protocolos assistenciais de enfermagem em uma unidade de saúde

A enfermeira Gilcéria Tochika Shimoda falou sobre os métodos de medição de resultados da utilização da PBE em uma instituição de saúde e também sobre estratégias de implementação de protocolos. “A implementação de um protocolo requer planejamento. Recomenda-se seguir alguns passos, entre eles reconhecer as lideranças que podem apoiá-lo, envolver os indivíduos que serão afetados pelo processo de implementação e identificar e superar as barreiras à implementação do protocolo”.


Rodrigo Jensen falou sobre a interação entre a prática baseada em evidências e o processo de enfermagem

A palestra sobre interações entre as evidências e as classificações de enfermagem ficou a cargo do enfermeiro Rodrigo Jensen. “Esperamos que o profissional que implementa ações de Prática Baseada em Evidências seja reflexivo”, frisou. Ao falar sobre a interação entre a PBE e o Processo de Enfermagem, ele lembrou, como alerta, que “o Processo de Enfermagem por si só não garante a qualidade da assistência. O que a garante é o conhecimento do profissional de enfermagem”.

A mesa-redonda seguinte foi um painel de experiências de sucesso. Representantes de instituições que já utilizam a Prática Baseada em Evidências relataram aspectos do trabalho desenvolvido em seus locais de trabalho.


Diná de Almeida: a PBE permeia as dimensões da cultura, da capacidade, da comunicação e da colaboração

Representante do único centro brasileiro vinculado ao instituto Joanna Briggs, sediado na Austrália, a professora Diná de Almeida Lopes Monteiro da Cruz (EE-USP) explicou que a PBE, segundo o entendimento do Joanna Briggs, possui uma transversalidade que permeia quatro dimensões: “cultura, capacidade, comunicação e colaboração”.


Monica Taminato falou como representante do Centro Cochrane do Brasil, que realiza revisões sistemáticas e meta-análises de estudos científicos na área da saúde

A enfermeira Monica Taminato, representante do Centro Cochrane do Brasil, detalhou o processo de revisões sistemáticas de pesquisas e estudos realizados pelo Centro. Essas revisões são uma forma de analisar dados de forma transversal e abrangente, fazendo um compilado de diversos estudos científicos sobre determinado tema. Essa meta-análise é utilizada como evidência na elaboração de protocolos assistenciais. Monica destacou os diferentes níveis de evidências científicas que podem ser utilizadas e lembrou que “a PBE está baseada em preceitos éticos. O mais importante deles é que “todo profissional de saúde deve aprimorar os seus conhecimentos e utilizá-los em prol de seu paciente’”.

Período da tarde


Franciely Schermak: “O uso de protocolos aprimora os indicadores da assistência”

A tarde trouxe relatos de experiências em diferentes áreas da enfermagem, com a mesa-redonda “Protocolos de enfermagem baseados em evidências”.  A enfermeira Franciely Schermak, que trabalha na Casa Angela, uma organização social localizada na Zona Sul da capital dedicada às melhores práticas no parto, explicou como os protocolos de enfermagem são utilizados com sucesso no dia a dia da instituição. “O uso sistemático de protocolos impacta numa melhor assistência, aprimorando nossos indicadores”, frisou.


Flávia Motta Maia: “A implementação da prática baseada em evidências não é um processo estático, mas contínuo”

A experiência do Hospital Universitário da USP foi trazida pela enfermeira Flávia Motta Maia. Uma das dificuldades que ela encontrou ao implementar a PBE na unidade foi o desconhecimento geral da equipe sobre o tema. “Poucos sabiam o que era a Prática Baseada em Evidências, então tive que fazer um trabalho educativo antes de implementá-la”.

Os indicadores do HU-USP também foram impactados positivamente após a implementação da PBE, que, nesse caso, foi feita por meio da formação de um Núcleo de Enfermagem Baseada em Evidências (NUEBE): “Após implantarmos nosso protocolo de prevenção de quedas, elas diminuíram em 54% de acordo com um estudo preliminar que fizemos”, exemplificou, destacando que a “PBE é um processo contínuo. Precisamos ter isso claro”, ou seja, os protocolos não são definitivos. Eles devem ser mantidos atualizados com base nas evidências científicas mais recentes.

Guia para implementação de protocolos

O evento foi encerrado com o lançamento do “Guia para a Implementação de Protocolos Assistenciais de Enfermagem”, publicação do GT de Protocolos do Coren-SP que está disponível gratuitamente em PDF na seção “livretos” do Portal do Conselho.


Integrantes do GT de Protocolos participam do lançamento do guia, que pode ser baixado gratuitamente no portal do Coren-SP

Cibele Pimenta aproveitou a ocasião para expor os trabalhos desenvolvidos pelo GT de Protocolos do Coren-SP, que foi criado em 2013. Foram ações como a publicação de dois guias, treinamentos para fiscais do Conselho, publicação de artigo na EnfermagemRevista, organização de eventos e elaboração de GIFs animados sobre protocolos assistenciais, que estão sendo utilizados nas mídias sociais do Coren-SP.

“Ao longo desses anos adotamos o ponto de vista dos profissionais da prática clínica, pois o ponto de vista da academia não teria tanto impacto na prática clínica de vocês”, concluiu Cibele.