Laços que o sangue constrói

Os profissionais de enfermagem exercem papel fundamental em praticamente todas as etapas da hemoterapia, participando do processo da triagem de doadores, até o tratamento dos pacientes com hemopatias

O sangue que corre nas veias de portadores de hemopatias mobiliza profissionais de enfermagem em bancos de sangue, hemocentros e hospitais. Imprescindíveis nas principais etapas do tratamento aos pacientes, eles estão presentes na captação, triagem, doação, coleta, transfusão, acompanhamento e no dia a dia, já que muitas doenças sanguíneas são crônicas. Assim, esses profissionais tornam-se parte da vida de pessoas cujos males em muitos casos não têm cura e o tratamento pode não ter fim.

O representante comercial Fábio Henrique Braggion, 40 anos, é portador de talassemia transmitida geneticamente pelos pais e foi diagnosticado aos sete meses de idade. Desde então, passa por hemoterapia constante e, atualmente, frequenta o Hemocentro da Unicamp a cada 21 dias para receber transfusão de três bolsas de sangue. “Um dia antes venho colher a amostra e no dia seguinte volto para transfusão e passo o dia todo”, conta. Por ser autônomo, ele programa suas folgas para os dias em que passará por tratamento.

A talassemia é uma desordem hereditária que pode causar anemia devido à má formação da hemoglobina. Existem dois tipos da doença – alpha e beta – que podem manifestar-se nas formas minor, intermediária e a major, que é o caso de Braggion e a forma mais grave da doença, podendo provocar anemia profunda e outras alterações orgânicas, como o aumento dos braços, atraso no crescimento e problemas nos ossos.

Em 2002, a enfermeira Simone Nascimento ingressou no Hemocentro da Unicamp, atuando por quase uma década na equipe que cuidava das transfusões de Braggion. Nesse período descobriram que eram quase vizinhos, compartilharam conhecimentos sobre a talassemia e também lições de vida, já que o fato de estar periodicamente no mesmo lugar e com as mesmas pessoas proporciona a criação de vínculos. “Conheço muita gente aqui. Durante esses anos de tratamento, entraram e saíram enfermeiros. Fui me acostumando com o ambiente, com os profissionais e hoje eles são como uma família para mim”, relata Braggion.

Família que é família tem muito amor, mas também tem brigas. Entre os pacientes de hemoterapia e os profissionais não é diferente. “Esses dias discuti porque queria tomar apenas duas bolsas de sangue e ela insistiu para que eu tomasse as três. Mas é da boca para fora. Logo rimos e volta tudo ao normal, porque conheço os procedimentos”.

A enfermeira conta, em alguns momentos com voz embargada de emoção, sobre a experiência de lidar com pacientes que não têm cura. “A gente conhece eles quando crianças, vindo para tratamento com as mães, e acompanhamos até poderem vir sozinhos. Ficamos amigos nas redes sociais e vemos essas pessoas casando, tendo filhos. É gratificante poder participar e saber que de alguma forma contribuímos para que esses pacientes levem uma vida normal, mas também é muito difícil lidar com perdas”.

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