I Encontro Internacional de Processo de Enfermagem aborda a era digital

O uso de novas tecnologias e de ferramentas digitais já faz parte da rotina dos profissionais de enfermagem. Embora esta tendência contribua para a segurança da assistência e eficiência dos processos, ela também pode, em alguns casos, limitar o raciocínio dos profissionais. Diferentes pontos de vista sobre a atuação da enfermagem na era digital foram abordados durante o I Encontro Internacional do Processo de Enfermagem (ENIPE), nesta quinta-feira (22), no Centro de Convenções Rebouças, na capital. Organizado pela Escola de Enfermagem da USP, Hospital Universitário da USP e pelo Coren-SP, o evento contou com a participação de grandes nomes nacionais e internacionais da área. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Fabíola Campos apresentou ações do Coren-SP para incentivar a adoção do porcesso de enfermagem 

A presidente do Coren-SP, Fabíola Campos, participou da abertura do evento e destacou os desafios que devem ser enfrentados na implementação do processo de enfermagem. “Os profissionais devem ter consciência da importância da adoção de ferramentas que garantam segurança na prestação da assistência, como o registro de enfermagem , por exemplo”. Ela também destacou as ações do Consleho para incentivar os profissionais a se empoderarem dessas práticas e a capacitação constante. “Criamos em 2012 Grupos de Trabalho que vêm discutindo diversos temas e promovendo a capacitação constante sobre processo de enfermagem nas variadas áreas da assistência. Além disso, somos o único Estado no país que disponibilizou um manual sobre o tema”, afirmou. 

A presidente do I ENIPE e diretora do HU-USP, Heloisa Helena Ciqueto Peres, abriu oficialmente o evento  e a exposição dos 230 trabalhos produzidos para uma sessão pôster, exposta durante as atividades. “Esse é mais um marco do processo de enfermagem do HU e não quisemos mantê-lo restrito apenas a essa instituição, pois o encontro visa disseminar práticas para um cuidado humanizado, com valores éticos, políticos e sociais”, expôs. 

A diretora da Escola de Enfermagem da USP, Maria Amélia de Campos Oliveira, lembrou da celebração de 75 anos da instituição, que acontece nesse ano, e falou sobre a importãncia do processo de enfermagem. “Ele auxilia os profissionais de saúde na tomada de decisões. Desde 2009, é uma exigência legal a documentação desse processo em todos os ambientes de atuação da enfermagem”. 

Também integraram a mesa de abertura o superintendente do HU-USP, Waldyr Antônio Jorge; a presidente da Comissão Científica do ENIPE, Rita de Cássia Silva; a diretora da Divisão de Enfermagem Clínica do Departamento de Enfermagem do HU-USP, Flávia de Oliveira Motta Maia; e a diretora técnica do serviço de enfermagem do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, Solange regina Giglioli Fusco. 

Palestra internacional 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A primeira palestra do evento abordou o raciocínio clínico na era digital e foi ministrada  pela Prof. Tracy Heather Herdman, da Universidade de Wisconsin, nos EUA. Ela mostrou que atualmente há uma grande abundância de ferramentas digitais no cotidiano da enfermagem e questionou: “por que estamos tentando substituir o raciocínio por programas automzatizados?”. A acadêmica defendeu que é preciso fazer os profissionais reciocinarem, pois o porcesso crítico é crucial no exercício da enfermagem e para um cuidado de qualidade. “É muito fácil para um sistema eletrônico analisar dados financeiros, de laboratórios, entre outros, porque quando esses itens saem da nornalidade podem ser identificados facilmente. Mas os itens humanos, sociais e emocionais não podem ser rotulados e quantificados simplesmente como normais ou anormais. Um sistema computadorizado terá dificuldade de responder essas perguntas”. 

Tracy explicou que os enfermeiros especialistas em informática podem promover melhorias no raciocínio clínico, desenvolvendo ferramentas de suporte à decisão. “Seria legal se os computadores tivessem um sistema de pop up que apontasse sugestões para evidências apresentadas, dando apoio no diagnóistico e na intervenção”. 


A professora Heimar de Fátima Martin explicou como os bancos de dados e as informações coletadas digitalmente podem auxiliar o enfermeiro no dia a dia

O evento também contou na parte da manhã com uma mesa redonda sobre  o “Panorama nacional sobre TICS nas instituições de saúde”. No período da tarde, temas como documentação eletrônica e ensino aprendizagem do raciocínio clínico do enfermeiro foram abordados. 

As Tecnologias da Informação e da Comunicação (TICs) aplicadas à área da saúde foram tema da primeira palestra da tarde. A professora Heimar de Fátima Martin, da Universidade Federal de São Paulo, explicou como os bancos de dados e as informações coletadas dos pacientes e organizadas digitalmente podem auxiliar o dia a dia do enfermeiro e guiar suas ações com base em estatísticas.

Ela destacou a necessidade do envolvimento do profissional de enfermagem com os setores de Tecnologia da Informação (TI) dos hospitais. “Não envolver o profissional de saúde não é chance de fracasso de um sistema de informação: é certeza”, decretou.


O professor Paulino Souza falou da experiência em Portugal

O painel “Experiências na documentação eletrônica em saúde” ampliou a discussão sobre o uso da tecnologia da informação como aliada. O professor Paulino Artur Ferreira Souza, da Universidade do Porto, de Portugal, falou sobre a utilização da Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem (CIPE) em Portugal e sobre a aplicação do Processo de Enfermagem no país.

Em sua fala, o professor Paulino destacou a necessidade de as instituições de saúde pautarem a aplicação de processos desenvolvidos pela academia. “Precisamos ter sempre as instituições de saúde envolvidas nos processos. Elas devem propô-los baseados na sua realidade”, explicou.


A profesora Heloisa Ciqueto Peres participou do painel “Experiências na documentação eletrônica em saúde”

Completaram o painel a professora Heloisa Helena Ciqueto Peres, da Escola de Enfermagem da USP e a enfermeira Jurema da Silva Herbas Palomo, do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.


O professor Marcelo Chanes encerrou o primeiro dia do ENIPE

O encerramento do primeiro dia de ENIPE foi com uma palestra do professor Marcelo Chanes, da Escola de Enfermagem da USP, que falou sobre a “Identidade do enfermeiro no mundo contemporâneo”.

 Segundo dia


A professora Alba Leite de Barros falou detalhadamente sobre o casamento entre as teorias de enfermagem e a prática assistencial

A história das teorias de enfermagem foi abordada de forma minuciosa pela professora Alba Leite de Barros, da Universidade Federal de São Paulo na primeira palestra do segundo dia de ENIPE. “O processo de enfermagem é um método para aplicar as teorias da enfermagem”, explicou Alba, que traçou um histórico da profissão e do desenvolvimento das diversas teorias. “Com o surgimento da enfermagem moderna, a prática iniciou sua caminhada para a adoção de conhecimentos científicos, abandonando gradativamente o caráter intuitivo e empírico”, completou.


Howard Butcher, professor da Universidade de Iowa, falou sobre o NIC (Classificação de Intervenções de Enfermagem) como linguagem do profissional enfermeiro

O palestrante internacional professor Howard Butcher, da Universidade de Iowa, Estados Unidos, detalhou o “Impacto da NIC na prática, ensino e pesquisa de enfermagem”. Ele explicou como a NIC (Classificação de Intervenções de Enfermagem) é uma linguagem e como ela determina a forma de pensarmos. “Se não tivermos uma linguagem própria, a enfermagem não existe como profissão”.

Ele também destacou a importância das classificações para a prática e desencadeamento do Processo de Enfermagem. “Não conseguimos lidar com uma massa de informações que não está organizada de forma compartimentada. Esse é o papel das classificações de enfermagem”, frisou.

Coordenada pela professora Heloisa Ciqueto Peres, a mesa-redonda “A implementação de sistemas padronizados de linguagem com foco no diagnóstico, na intervenção e nos resultados” contou com a participação dos professores norte-americanos Howard Butcher e Tracy Heather Herdman, além da conselheira do Coren-SP, Consuelo Garcia Correa.


Consuelo Garcia Correa comprovou, mediante números, o sucesso das intervenções educativas do Coren-SP em relação à aplicação prática da SAE/Processo de Enfermagem no estado de São Paulo 

Consuelo detalhou a atuação recente do Coren-SP na educação dos enfermeiros do estado de São Paulo para a implementação da SAE/Processo de Enfermagem em seus trabalhos. “O foco atual do Conselho é  regulamentar e fiscalizar o exercício da profissão, mas também oferecer suporte teórico e técnico aos nossos quase 500 mil profissionais”, disse ela, antes de apresentar números mostrando o impacto das intervenções educativas do Conselho no aumento do número de instituições de saúde paulistas que aplicam a SAE/Processo de Enfermagem.


A enfermeira Flávia de Oliveira Motta Maia: a experiência na prática assistencial também teve espaço no ENIPE

O painel “Classificações visando as melhores práticas clínicas na gestão, na assistência, no ensino e na pesquisa” contou com relatos de experiências em diversas áreas. A enfermeira Flávia de Oliveira Motta Maia, do Hospital Universitário da USP, representou a “experiência na assistência”. Ela falou sobre a implantação de uma modelo de Enfermagem Baseada em Evidências (EBE). “O objetivo da EBE é associar os resultados das pesquisas mais recentes à prática assistencial. Para sua implementação, é essencial a colaboração de toda a equipe, além de saber que ela é ciclo contínuo”, disse.

Completaram o painel o professor Paulino Artur Ferreira Souza, a professora Rita de Cássia Gengo e Silva, da Escola de Enfermagem da USP e a professora Miriam de Abreu Almeida, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.


A professora Diná de Almeida Lopes Monteiro da Cruz fez a palestra de encerramento desse primeiro ENIPE: nível científico do evento foi alto

O 1º ENIPE foi encerrado com palestra sobre os “Desafios no processo ensino-aprendizagem do raciocínio clínico do enfermeiro”, reiterando o alto nível científico do evento. A professora Diná de Almeida Lopes Monteiro da Cruz, da Escola de Enfermagem da USP, falou de sua experiência no ensino e sobre como a graduação em enfermagem pode e deve contribuir para a construção do raciocínio clínico dos alunos. “Raciocínio Clínico é um processo de pensamento reflexivo, criativo e crítico, caracterizado por um continuum de tomada de decisões. Essas habilidades de raciocínio podem ser desenvolvidas”, colocou.