Evento debate os conflitos éticos frente a pacientes terminais

O cuidado e o tratamento dos pacientes em estado terminal propiciam grandes dilemas éticos aos profissionais de saúde. Buscando debater essas questões que surgem nos cuidados paliativos, o Grupo de Trabalho (GT) de Ética em Enfermagem do Coren-SP realizou na última quarta-feira (5/4), na sede da autarquia, o evento “Conflitos Éticos dos Profissionais de Enfermagem Frente à Terminalidade da Vida”.


O conselheiro Alessandro Lopes Andrighetto, que é enfermeiro e advogado, foi um dos palestrantes

“Estamos dispostos a ouvi-los e a dar voz à enfermagem. Temos que estar juntos discutindo o que é o melhor para nossa categoria”, explicou a presidente do Coren-SP, Fabíola de Campos Braga Mattozinho na abertura do evento.

A atividade consistiu de quatro breves exposições seguidas de um debate com participação da plateia. A moderação foi da coordenadora do GT de Ética em Enfermagem, professora Elaine Correa da Silva (Centro Universitário São Camilo).


A enfermeira Fabiana Bazana, do INCor, falou sobre testamento vital

A professora Marina Salvetti (Universidade de São Paulo) falou sobre “Conceitos bioéticos: o que o profissional precisa saber”. Ela deu explicações sobre situações delicadas nas quais o profissional de enfermagem precisa se envolver. “Nós, como enfermeiros, temos que ter conversas difíceis com os pacientes e as famílias, o que exige grande vínculo e empatia com os mesmos”.

O testamento vital, também chamado de diretivas antecipadas de vontade, foi o tema da exposição da enfermeira do Instituto do Coração (INCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, Fabiana Bazana. “Trata-se de um documento redigido por pessoa em pleno gozo de suas faculdades mentais. O foco principal do testamento vital é a autonomia do paciente, que deve ser respeitada”, enfatizou.

Fabiana também lembrou um triste dado da realidade brasileira: “moramos em um dos piores países do mundo para se morrer. Em uma pesquisa feita com 40 países sobre esse tema, ficamos na terceira pior colocação, atrás apenas de Índia e Uganda”.

“A morte e o morrer no contexto do profissional de enfermagem” foi o tema da fala da enfermeira Daniela Vivas dos Santos, gerente de cuidados paliativos do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp). Ela falou detalhadamente sobre a não-reanimação, ou seja, a decisão da equipe de saúde em não mais tentar prolongar a vida de pacientes terminais. Para Daniela, o avanço tecnológico atual, que permite estender a vida de um paciente, muitas vezes não se reflete em um impacto positivo na qualidade de vida desse paciente.

“Hoje em dia, priorizar a vida de um paciente não é tão difícil, devido ao avanço tecnológico. É muito mais difícil decidir quando parar”, disse.

A última palestra do evento foi ministrada pelo conselheiro do Coren-SP Alessandro Lopes Andrighetto, que além de enfermeiro é advogado. Andrighetto falou sobre os “Aspectos éticos e legais da terminalidade”. Ele reconheceu a importância de instrumentos como o Testamento Vital, mas lembrou que como lei, o documento ainda não tem grande força no Brasil. “É preciso que o profissional utilize esse tipo de instrumento com muito cuidado, pois se trata de uma Resolução do Conselho Federal de Medicina, sem grande valor jurídico, podendo ser facilmente contestado pelo Código Civil”, lembrou.


Evento foi organizado pelo Grupo de Trabalho (GT) de Ética em Enfermagem do Coren-SP

Ele frisou a necessidade de modernização da legislação brasileira para se adequar a questões da modernidade, como o direito à morte digna. “Nosso Código Penal é de 1940, quando ainda não se debatia eutanásia”.

Após as exposições, uma rodada de perguntas e respostas aproximou o público do debate, encerrando o evento.