“É preciso olhar para a enfermagem sob a ótica dos novos tempos”, afirma Renata Pietro, em diplomação de Conselheiros

Os 42 Conselheiros que integram o Plenário 2018-2020, eleitos pela enfermagem paulista nas eleições 2017,  foram diplomados na última quarta-feira (17). A entrega dos diplomas foi realizada pela nova presidente do Coren-SP, Renata Pietro, e pelo presidente do Cofen, Manoel Neri, no auditório do Centro de Integralidade do Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual (IAMSPE). Presidentes e representantes de diversas sociedades de especialistas, sindicatos e associações prestigiaram o evento, além de autoridades.

Em seu discurso,  Renata Pietro reafirmou o compromisso com a categoria. “É preciso olhar para a enfermagem sob a ótica dos novos tempos, que exigem novas atitudes, bem como audácia e mais coragem em nossas lutas. A valorização começa por nós, se cada um tiver a consciência de que é indispensável nesse processo. Reafirmo o meu compromisso de lutar pela valorização e reconhecimento que a nossa categoria tanto merece, aproximando o Conselho dos inscritos”, destacou. 

Renata Pietro, nova presidente do Coren-SP, durante discurso

O presidente do Cofen, Manoel Neri, enalteceu a capacidade do novo Plenário do Coren-SP de mobilizar e unir os diversos setores que representam a enfermagem. “O maior êxito desta gestão será construir a unidade entre todos os Conselheiros. O Plenário foi eleito em campos diferentes entre os Quadros I e II, mas está claro que ambos trabalharão unidos para aproximar o Coren-SP dos inscritos”, disse, destacando a presença de diversas entidades representativas da categoria. “A presença de sindicatos, sociedades e associações mostra a vocação desta nova gestão em construir a unidade dos diversos setores em torno de uma agenda positiva para a enfermagem paulista”. 

O presidente do Cofen, Manoel Neri, destacou a importância da unidade na condução das ações do Plenário

Também integraram a mesa a ex-presidente do Coren-SP, Fabíola Campos, que oficializou a transmissão do cargo para Renata Pietro, o deputado federal Orlando Silva, a representante da Gerência de Enfermagem do IAMSPE, Audrey Fioretti, o Chefe de Gabinete do IAMSPE, Roberto Baviera, e a representante da deputada estadual Analice Fernandes, Alice Rainha. 

Entre as entidades, associações e sindicatos representados estavam a Federação dos Trabalhadores da Saúde, a Associação Brasileira de Enfermagem em Terapia Intensiva (ABENTI), Escola de Enfermagem da USP, Federação de Saúde do Estado de São Paulo, Sinsaúde de Campinas e Região, de São Paulo, do ABC e de Bauru, Sociedade de Enfermeiros Pediatras, Associação Brasileira de Enfermagem, Sindicato de Segurança do Trabalho, Sindicato dos Servidores Públicos da Prefeitura do Guarujá, Sindicato dos Enfermeiros do Estado de São Paulo, Associação dos Servidores do Hospital das Clínicas, Fórum Nacional de Enfermagem, Confederação Nacional dos Trabalhadores em Seguridade Social (CNTSS) e Sindicato dos Estatutários Municipais de Santos. Também participaram do evento o Conselheiro Federal Luciano Silva e os vereadores Gilberto Natalini, Renan Santos e Paulo Frange.

As fotos do evento estão disponíveis no perfil do Coren-SP no Flickr.

Conselheiros da gestão 2018-2020 apresentam o documento oficial de sua diplomação

Confira na íntegra o discurso de posse da presidente Renata Pietro: 

Quero, primeiramente, cumprimentar as autoridades que compõem mesa e estender os votos de boa noite aos nobres Conselheiros e aos nossos convidados. Torna-se oportuno agradecer àqueles que, mesmo de fora ou de longe, sempre se fizeram presentes, nos quiseram bem e nos apoiaram para esta vitória. Os senhores, certamente, não imaginam a alegria e a satisfação que nos movem hoje.

Recentemente, li uma reportagem que me chamou a atenção e que gostaria de compartilhar com vocês. A prestigiada assessoria global Gallup realiza todos os anos um ranking das profissões mais éticas e honestas. Pelo 16° ano consecutivo, entre 22 profissões e com mais de 82 % dos votos, a população americana escolheu a Enfermagem como a profissão mais ética e honesta dos Estados Unidos.

Mas o que nos diferencia? Ao conversar com os Enfermeiros americanos é unânime o reconhecimento e orgulho deles pela profissão. Muitos afirmam que, se você não é apaixonado pelo que faz, deveria tentar fazer outra coisa. E pontuam: salve uma vida, você é um herói. Salve 100 vidas, você é um enfermeiro!

Chegar ao topo e ser reconhecido é agradável, mas a questão é: o que se teve que deixar de lado para chegar a esse patamar? Os esforços para isso incluem adversidades e abdicações, além do essencial a uma vida plena: lazer, família e obrigações diversas.

Os 42 Conselheiros diplomados aqui presentes têm uma história de vida e, para chegarem ao topo, não só, em certo grau, sacrificaram parte de suas vidas pessoais, mas se dedicaram de maneira profissional e ética à missão de honrar a identidade e a responsabilidade de representar a Enfermagem do Estado de São Paulo.

Disseram não à omissão política, por acreditarem que participar da vida pública, embora seja uma árdua e desafiadora missão, significa lutar pelos ideais e pela transformação da realidade de mais de 500 mil profissionais.  Assumir o COREN-SP é representar uma categoria que simboliza a resistência, a tenacidade, o desprendimento, a competência e a coragem.

A nossa precursora, Florence Nightingale, é uma importante representação dessas raízes, que estruturam a nossa atuação até os dias de hoje. Aristocrata inglesa, dedicou sua vida à Enfermagem, lutando  abnegadamente contra as dificuldades, assim como fazem os mais de 2 milhões de profissionais de Enfermagem no Brasil.

Essa força e determinação, que nos movem no dia a dia profissional, também devem nos mover na luta pela valorização e reconhecimento. Uma profissão capaz de transformar a assistência em suas diversas esferas e que é fundamental em todas as fases da vida dos cidadãos, não pode e não deve se manter na passividade, enquanto tantos direitos nos são negados e permanecem na invisibilidade perante as autoridades e políticos.

Uma prova desta inércia é o Projeto de Lei 2295/2000, que regulamenta a jornada de trabalho da Enfermagem brasileira em 30 horas semanais e que tramita no Congresso Nacional desde o ano 2000. É inadmissível que uma profissão, que passa por uma fase de reestruturação produtiva, mudanças significativas nas relações de trabalho, com impactos diretos na oferta de empregos formais, se mantenha por 18 anos à margem das discussões sobre uma medida tão necessária.

A política nos permite questionar o que já foi construído, aprimorar as formas de se construir e  implementar novas ideias para que o exercício profissional seja diversificado e objeto de constante reflexão.

Sonhar com o sucesso, conquistar uma sólida formação e estrutura no tocante à profissão, e, até mesmo, em todos os âmbitos de nossas vidas, custa o valor exato da dedicação e dos  investimentos feitos por cada um de nós, seja na fé, na esperança, na disciplina, na superação, no empreendedorismo, na ousadia e na coragem para realizar o que for necessário.

Certamente, cada um dos 42 Conselheiros aqui presentes superaram seus próprios limites e foram além do que muitos acreditaram ser possível. Enfrentaram uma batalha eleitoral altamente competitiva, submetida aos conflitos e crises existenciais, ao estresse emocional, pressão psicológica, medos, cobranças, responsabilidades e incertezas do pleito. O custo foi muito alto, mas recompensado neste momento.

Por tudo isso, acredito que na vida é preciso ter raiz e não âncora, porque a raiz te alimenta, a âncora te imobiliza. Neste sentido, criei minhas raízes nesta instituição e serei eternamente grata ao IAMSPE, representado aqui hoje pelo chefe de gabinete Roberto Baviera; pela gerência de enfermagem na figura da Audrey Fioretti; e pelo Serviço de Terapia Intensiva, ao qual devo toda a minha formação e aprendizado, representado pelo Dr. Ederlon. Gratidão, também, aos Enfermeiros e Técnicos que me ensinaram que a prática constrói a teoria e que a teoria ilumina a prática, por meio da incansável busca pelo saber e de inquietações que me propiciaram a oportunidade de trabalhar para e pela enfermagem, chegando hoje à Presidência do maior Conselho Regional de Enfermagem deste país.

Como todos os Conselheiros aqui presentes, não poderia deixar de agradecer e enaltecer a minha família, na presença de meu irmão Alex e do meu esposo Giovanni André. Agradecer a confiança e o prestígio dos amigos que hoje aqui estão, muitos deles vindos de outras cidades e Estados para este momento tão especial.

Espero que os nossos esforços durante a gestão 2018-2020 desafiem as impossibilidades. Lembrai-vos de que as grandes proezas da história foram as conquistas que pareciam impossíveis. Portanto, aqui estamos nós, compondo um plenário com membros de diferentes crenças e valores, mas em prol de um único sentimento, de contribuir com a valorização da Enfermagem paulista e, por que não, da Enfermagem brasileira.  Por isso, guardemos que a dignidade é mais do que a oportunidade e, lembrem-se, Conselheiros, que seremos conhecidos mais pelo trabalho que realizaremos, do que por qualquer outro papel social que venhamos a desempenhar.  

Superemos a  ideia de que tivemos sorte ou, a de que estamos hoje sendo diplomados Conselheiros do COREN-SP pelo destino. Esta crença tende a disfarçar o que de fato faz a diferença e, neste caso, é o esforço e a dedicação que desempenharemos por nossos pares.  Vamos introjetar a convicção de que vencemos as eleições porque apresentamos as propostas que cativaram a nossa categoria. E é esta categoria  que agora espera que possamos quebrar paradigmas. Ante a isso, cito o filósofo Sartre: não importa o que a vida fez de você, importa o que você fez com o que a vida fez de você.

Retomando à pergunta inicial, o que nos diferencia dos Enfermeiros Americanos? Acredito que o reconhecimento profissional pela sociedade e  que ele ocorrerá quando estivermos organizados e estruturados internamente como classe, compreendendo o nosso papel e  nosso valor. Para tanto, é necessário adotarmos estratégias para alcançarmos e definirmos o nosso espaço e competências. Logo, é fundamental o conhecimento de nossa história, além de Unir, Fortalecer, Trabalhar e Avançar.

Por isso, é preciso olhar para a enfermagem sob a ótica dos novos tempos, que exigem novas atitudes, bem como inteligência, audácia e mais coragem em nossas lutas.  A valorização da Enfermagem começa por nós e, se cada um tiver a consciência que é indispensável neste processo, vislumbraremos novos horizontes.

Lembrem-se que somos 65% da força de trabalho na área da saúde deste país e que representamos em nosso Estado mais de 500 mil profissionais, que se encontram sem voz, uma vez que, até o momento, carecemos de mobilização para eleger representantes políticos que, efetivamente, representem a Enfermagem e lutem por nossos direitos e ideais.

O desejo de todos, certamente, é o de construirmos, coletivamente uma Enfermagem mais atuante, comprometida e participativa nas instâncias decisórias das políticas públicas, sociais e institucionais. O primeiro passo a ser dado e, talvez, o mais desafiador, é a quebra de paradigmas.

Este é um processo que demanda a reconstrução de nossos compromissos em torno de algumas premissas comuns. Lembremos sempre que em cada cuidado que a Enfermagem presta ao paciente, colocamos o nosso amor, e principalmente, a nossa dignidade. Temos orgulho em saber que o nosso lugar é ao lado do doente, em  um momento de fragilidade, quando somos tão iguais e tão humanos. A enfermagem não é movida pelo dinheiro ou ganância, mas pela vontade e compromisso em prover a melhor saúde , de forma que  seja  digna e não sucateada. Mas, não devemos perder de vista o reconhecimento e a valorização que merecemos.

 Considerando todas as nuances anteriormente expostas, nosso Conselho tem como missão atuar na regulamentação e fiscalização do exercício profissional, na defesa da autonomia e valorização da Enfermagem, além de desempenhar uma gestão proativa, norteada pelos princípios da legalidade, economicidade, eficiência, impessoalidade, legalidade, publicidade e moralidade. Reafirmo aqui o meu compromisso em trabalhar incansavelmente para honrar esses valores.

A luta é árdua e constante. Encerramos 2017 com um duro golpe contra a formação em Enfermagem, em que o MEC revogou o decreto 8.754/2016 facilitando a abertura de cursos de graduação à distância, com precária fiscalização. A ação ocorreu às 21h45 horas, ao apagar das luzes, numa sala vazia, o que simboliza mais um retrocesso. Ainda, tivemos a portaria do Ministério da Saúde que estabelece novas conquistas para a Política de Saúde mental, enfraquecendo as diretrizes da Reforma Psiquiátrica, construída com muitas lutas, que envolveram as diversas categorias da saúde.

No entanto, tivemos avanços importantes, como o novo Código de Ética, com amplo e democrático debate com vistas à defesa da sociedade e à proteção ao bom profissional, trazendo avanços no encaminhamento dos casos de violência doméstica e contemplando as novidades da era digital.  

Nos próximos três anos, representaremos a casa da ética da Enfermagem Paulista. Portanto, a atuação Ética será o princípio basilar da nossa gestão. É necessário cuidar deste valor, associando-o à nossa prática.

Firmamos aqui o grande compromisso de lutar contra a precariedade da Saúde, por melhores condições de trabalho, bem como pela dignidade, autonomia e valorização da Enfermagem. Por isso, reforço: é hora de Unir, Fortalecer, trabalhar e avançar. Contem comigo e com todos os conselheiros nesta grande jornada. Com união e determinação seremos vitoriosos!

Muito obrigada, parabéns  e uma excelente noite a todos.