Coren-SP atualiza o manual “Sepse: um problema de saúde pública”

Especialistas e  sociedades do mundo todo  formularam novas definições consensuais de Sepse e de Choque Séptico, conhecidas como “Sepsis-3”. Para disseminar essas informações aos seus inscritos, o Coren-SP lançou a segunda edição do manual “Sepse  um problema de saúde pública”, que incorpora essas novidades. O download é gratuito e pode ser realizado aqui.


Guia, elaborado pelo Coren-SP em parceria com o ILAS, pode ser baixado gratuitamente

Além de abordar os conceitos da doença, o manual, elaborado em parceria com o Instituto Latinoamericano de Sepse (ILAS),  orienta sobre o tratamento precoce, a implantação de protocolos assistenciais e o papel da enfermagem nos diagnósticos e intervenções.

Segundo especialistas brasileiros, o Sepsis-3 trouxe avanços em relação à definição e tratamento da doença, mas também algumas desvantagens que podem tornar os novos conceitos inadequados à realidade de países menos desenvolvidos. As principais sociedades por traz das novas definições são a norte-americana “Society of Critical Care Medicine” e a europeia “European Society of Intensive Care Medicine”. “Pensando nesse cenário, o Coren-SP teve a iniciativa de reeditar o material, com o objetivo de esclarecer os profissionais sobre as novas definições e garantir uma assistência segura e de qualidade nas instituições ”, destaca a conselheira Renata Pietro, uma das autoras do manual e chefe do serviço de Terapia Intensiva do Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo.

Renata Pietro, conselheira do Coren-SP e especialista em Sepse

A enfermeira Juliana Lubarino de Souza, coordenadora do ILAS e também autora da publicação, explica que, basicamente, não houve mudanças no tratamento em si, mas o que  mudou foi a definição. “Antes era dividida em Sepse, Sepse Grave e Choque Séptico. Não existe mais o termo ‘grave’, pois se chegou à conclusão que qualquer tipo é grave. Agora, a ampla presença de disfunção orgânica em resposta a uma infecção já é considerada Sepse”.

Pela nova definição, Sepse passa a ser considerada “a presença de disfunção orgânica ameaçadora à vida secundária, ou seja, resposta desregulada do organismo à infecção”.

Uma das vantagens dessa nova definição é a não exigência da presença da SRIS (Síndrome da Resposta Inflamatória Sistêmica) para que um paciente seja considerado séptico. “Isso é coerente, pois sabemos que pelo menos um em cada oito pacientes graves com Sepse não desenvolve critérios para SRIS e 47% deles  desenvolvem apenas dois critérios para a síndrome”, destaca Renata Pietro.

Apesar dos pontos positivos, as novas definições geraram também algumas críticas. O ILAS e a Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB) se posicionaram de forma contrária às novas definições, sobretudo por conta da “redução de sensibilidade para detectar casos que podem ter evolução desfavorável, principalmente em países de recursos limitados”, como colocam no documento intitulado “Chegando a um consenso: vantagens e desvantagens do Sepsis-3 considerando países de recursos limitados”.

De acordo com o ILAS e a AMIB, a nova definição limita os critérios para “disfunção orgânica”, cuja presença agora se faz necessária para que um caso seja considerado Sepse. Para que haja disfunção orgânica, segundo o Sepsis-3, é preciso alteração de dois pontos no escore Sequential Organ Failure Assesment (SOFA). Também foi recomendada a utilização de um escore SOFA simplificado, denominado quickSOFA, que se utiliza na beira do leito e considera  positivo o diagnóstico de Sepse quando o paciente apresenta dois dos seguintes critérios clínicos: frequência respiratória maior ou igual a 22 incursões por minuto; alteração do nível de consciência pela Escala de Coma de Glasgow e pressão arterial sistólica menor ou igual a 100mmHg.

Essa limitação dos critérios para disfunção orgânica tende a selecionar uma população com doença mais grave, o que é uma preocupação em locais onde, via de regra, pacientes não são precocemente reconhecidos, como no Brasil. Os novos critérios podem deixar de considerar casos incipientes de Sepse que poderiam evoluir para uma forma mais grave da doença, quando o tratamento ficaria mais difícil e mais custoso e as chances de sobrevivência dos pacientes, menores. Portanto, segundo o documento, os novos critérios fazem mais sentido nos países mais desenvolvidos, onde há uma sensibilidade maior para a detecção da doença. Em outros casos podem levar a uma identificação tardia. 

Sepse

Conhecida como infecção generalizada, a Sepse, na verdade, não é a infecção que está em todos os locais do organismo. Por vezes, ela pode estar em apenas um órgão, como, por exemplo, o pulmão, mas provoca em todo o organismo uma resposta com inflamação numa tentativa de combater o agente da infecção. Essa inflamação pode vir a comprometer o funcionamento de vários dos órgãos do paciente e levá-lo a óbito.