Abril Verde: conheça os principais riscos ocupacionais da enfermagem e saiba como evitá-los

Em 1700, o médico italiano Benedito Ramazzini publicou o livro “As doenças dos trabalhadores”, no qual foi descrita pela primeira vez a relação existente entre os problemas de saúde e as profissões. “O ofício determina a causa das doenças” é uma das afirmações de Ramazzini.

Por conta dessa relação existente entre as ocupações e as doenças às quais o indivíduo está sujeito a desenvolver, a enfermagem possui seus próprios riscos e pontos de atenção que devem ser observados.

“A enfermagem é considerada uma profissão de risco, pois estamos expostos a inúmeros fatores durante o desempenho de nossas atividades”, explica a enfermeira-fiscal do Coren-SP, Sheila Tetamanti, especialista em Enfermagem do Trabalho.

Dentre os maiores riscos ocupacionais relacionados aos enfermeiros, técnicos, auxiliares de enfermagem e obstetrizes, Sheila cita o número insuficiente de profissionais trabalhando nos diversos serviços de saúde, a falta de dispositivos e equipamentos adequados, o rodízio de turnos e plantões em horários  não-constantes, a falta de capacitação adequada aos profissionais, a falta ou uso inadequado de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) e condições precárias do ambiente de trabalho (má iluminação, excesso de ruídos, ventilação inadequada, entre outros).

“Os riscos à saúde do trabalhador de enfermagem podem ser divididos nas seguintes categorias: biológicos, químicos, físicos, ergonômicos/psicossociais e acidentes”, explica Sheila.

Muitas questões influenciam no grau de risco aos quais o trabalhador está submetido: a forma como o serviço é distribuído, como as escalas de trabalho são feitas e as condições do ambiente são alguns exemplos.

“A competitividade no ambiente de trabalho, os relacionamentos conflituosos, a hierarquia organizacional, o relacionamento com pacientes e acompanhantes são algumas questões que podem influir negativamente na saúde do profissional de enfermagem”, detalha Sheila, que também cita o medo de errar e o ritmo acelerado do trabalho como pontos de atenção. Essas questões geram os conhecidos problemas psicológicos de estresse, síndrome de Burnout e depressão nos profissionais de enfermagem.

É muito importante que o ambiente de trabalho tenha locais para descanso apropriados, refeitórios, boa ventilação, iluminação e temperatura e mobiliário adequado e ergonômico. “O papel da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes – CIPA é fundamental para verificar a existência de problemas e trabalhar em melhorias”, destaca Sheila. “As empresas têm a sua responsabilidade, mas os próprios profissionais têm que participar dos processos de melhoria de seu ambiente de trabalho”, sugere ela.

Existem normas muito importantes que devem ser seguidas, como as NRs 6, sobre EPIs, 9, sobre Programa de Prevenção de Riscos Ambientais e 32, específica para profissionais de saúde.

Além disso, a vida do trabalhador fora do ambiente profissional é de extrema importância. “Fatores como nutrição adequada, relacionamentos familiares saudáveis, atividade física regular, lazer apropriado e condições de estudo e desenvolvimento pessoal são fundamentais para a manutenção da saúde do trabalhador”, diz Sheila.

Abaixo listamos os principais riscos inerentes ao exercício da enfermagem e as ações que devem ser realizadas para preveni-los:

Riscos Físicos – ruídos, vibrações, radiações, extremos de temperatura, pressões anormais, umidade, iluminação inadequada, falta de sinalização adequada, espaço físico inapropriado. Para prevenir os riscos físicos, é fundamental que o ambiente de trabalho seja adequado, com boa ventilação e iluminação, boa sinalização, espaço físico adequado (entre leitos, por exemplo), limpo e com boas condições como banheiros adequados.

Riscos Químicos – Gases, vapores anestésicos, antissépticos, esterelizantes e poeiras. Para prevenir esses riscos, é importante que a instituição de saúde forneça Equipamentos de Proteção Individual aos seus funcionários e forneça orientação e treinamento para utilização dos mesmos.

Riscos Biológicos – Micro-organismos, material infectocontagioso, perfurocortantes. Para prevenir esses riscos é necessário que haja descartes adequados de materiais, uso de EPIs como luvas e máscaras e que haja protocolos de segurança para manipular esses materiais e que esses protocolos sejam seguidos por todos os profissionais.

Riscos Ergonômicos – Sobrecarga de peso, postura inadequada. Para preveni-los, é importante que haja equipamentos como camas elétricas, por exemplo, que reduzem o esforço físico que o profissional deve fazer. Além disso, o dimensionamento adequado de profissionais reduz a quantidade de esforço que cada trabalhador realiza diariamente, pois haverá mais profissionais para dividir as tarefas.

Riscos de Acidentes – Iluminação inadequada, risco de incêndio, piso escorregadio, máquinas defeituosas e ferramentas inadequadas. Os riscos de acidentes podem ser evitados com a manutenção preventiva dos equipamentos e ferramentas e com a adequação e sinalização do ambiente físico de trabalho.

Riscos Mecânicos – objetos perfurocortantes. Para prevenir os riscos mecânicos, é essencial seguir as normas como a NR-32 e os protocolos institucionais (que devem existir e ser seguidos por todos). 

Riscos Psicossociais – Sobrecarga psicológica, jornada de trabalho inadequada, ritmo acelerado, tarefas repetitivas, ambiente conflituoso e competitivo, relacionamento conturbado com pacientes e acompanhantes, dentre outros.  Para prevenir essa categoria de riscos, é fundamental a atuação das lideranças e do enfermeiro Responsável Técnico, que devem se esforçar para mediar conflitos e criar um ambiente de trabalho saudável, amistoso e que seja cooperativo ao invés de competitivo. Além disso, é fundamental que o profissional tenha uma vida saudável e equilibrada fora do ambiente de trabalho.